Ainda Estou Aqui acerta na veia do cinema. Walter Moreira Salles resgata e exalta a figura materna. E ao resgatar e exaltar Eunice Paiva ele resgata e exalta a Grande Mãe brasileira!
É Fernanda Torres que nos faz adentrar nessa terrivel época. E ela tem a força de uma entidade atuada!
Creio mesmo que este é o maior filme de Walter Salles. E ele encostou na perfeição – condição proibida pelos deuses aos humanos!
Milimetricamente pensado, com um rigor formal no roteiro, na pesquisa de imagens, fotos, documentos. Na escolha do elenco, da equipe técnica, da trilha sonora.
Na condição de regente do filme, como diretor, Walter Salles é minimalista. Tudo é apurado, tudo é planejado para nos conduzir a uma catarse aristotélica: explodimos em choro em muitas cenas, quando entramos, através da câmera, nos porões da ditadura e também na cena final, com a Gigante Fernanda Montenegro numa atuação que nos catalisa com seu olhar vazio e profundo!
O maior ato de violência que vemos na tela é a morte do cachorro da numerosa família de Rubens Paiva, magistralmente encarnado por Selton Melo. E no entanto a crueldade sem limites da ditadura se revela toda, com as consequências psíquicas em cada membro da família.
O incrivel é que essa historia verdadeiríssima pode ser transposta para tela por um de seus sobreviventes. Vou recomendar o filme pra todos os amigos. E vou comprar o livro de Marcelo Rubens Paiva pra dar de presente de Natal!
O encontro da ficção com o documentário e o embaralhamento das duas instâncias narrativas produziu o melhor filme brasileira desta década.
A reconstrução de uma época trágica foi feita de forma metódica e apurada, numa superprodução que envolveu varios países.
Vou rever o filme pra sorver melhor este precioso néctar que nos traz de bandeja nossa triste história!