Diante do atual contexto de avanço tão voraz das garras imperialistas sobre os países latino-americanos, caracterizado por um processo de (re)colonização na nossa história contemporânea, refletir e debater sobre a importância da unidade da América Latina para resistir a essa agressão, torna-se cada vez mais importante e urgente:
- E é justamente neste contexto, que ressurge a ideia da Pátria Grande, conceito inicialmente relacionado à proposição de uma unidade política da América hispânica;
- Associado à ideia de integração latino-americana dos libertadores, particularmente Francisco Miranda, Simón Bolívar, José Artigas e José de San Martín.
A ideia básica é promover a integração latino-americana através da unificação política das nações hispano-americanas contra a agressão das potências coloniais – hoje personificadas pelo imperialismo anglo/sionista/estadunidense:
- Contrapondo-se à balcanização do Império Espanhol realizada nas Américas, após as guerras de independência na América espanhola;
- Conceito posteriormente ampliado – e que passou a abrigar a natural e necessária inclusão do Brasil em seu contexto.
Mas será que em contexto tão adverso, no qual os quinta colunas (ver também aqui) implantados nos aparatos dos estados (instituições militares, legislativas e no sistema financeiro, inclusive dentro dos Bancos Centrais), é possível pensar na possibilidade de uma grande nação latino-americana, unida por traços culturais e sonhos comuns, orientados para a superação da trajetória histórica de usurpação que compartilham?
Vários revolucionários, anti-imperialistas e pensadores, acreditando não só nessa possibilidade, mas na sua imperativa necessidade, desenvolveram importantes ideias, proposições e ações no sentido de compreender a importância dessa unidade e os processos necessários para a sua viabilização.
O professor Darcy Ribeiro, em sua magnífica obra América Latina: a Pátria Grande, procurou estabelecer os parâmetros de ligação entre os aspectos que formam as bases para a unidade da grande comunidade denominada “América Latina”:
- E a possibilidade de se pensar e agir contra a colonização do saber e do poder pelas forças imperialistas;
- Uma trincheira que (ainda) muitos poucos enxergam e muitos menos se atrevem a nela se aventurar.
Nomes como Álvaro vieira Pinto no Brasil, Juan José Hernández Arregui e Manuel Ugarte na Argentina, Agustin Cueva no Equador, Aníbal Quijano no Peru, Eduardo Galeano no Uruguai e Ludovico silva na Venezuela, somaram-se ao professor Darcy Ribeiro – fazendo coro pela necessidade de se lutar por uma integridade cultural e política para os países latino-americanos, orientada para a autonomia soberana e o desenvolvimento social independente de amarras externas (Pensadores da Pátria Grande):
- Estabelecendo uma ideia de unidade para o enfrentamento ao aparato internacional de exploração capitalista e aos setores dominantes locais de cada uma de nossas sociedades;
- Setores, esses, que apoiam política e economicamente essa situação na AL e garantem um poder neocolonial aos imperialistas para liquidar os nossos recursos nacionais e regional e lucrar às custas do nosso povo.
Portanto, para enfrentar essa situação, é fundamental, antes de tudo, iniciar um processo de ressignificação das diferenças históricas e culturais entre os países da região e conhecer a realidade sociocultural e a complexidade das relações inter-raciais aqui estabelecidas:
- Visto que, além do imperialismo bélico e econômico, mas não menos eficiente e concomitantemente a este, o domínio imperialista se dá através do processo de colonização pedagógica e cultural;
- Processo estrategicamente articulado com o objetivo de sufocar a possibilidade de gestação de um sentimento de libertação em solo latino-americano;
- Que, invariavelmente, desemboca num sentimento antagônico, estabelecido no senso comum, quanto a necessidade de uma integração de nossos povos contra a subserviência e dependência imposta pelo imperialismo.
Dessa forma, no sentido de superar o desconhecimento que os povos latino-americanos guardam entre si e que tem sido um dos fatores para a inviabilização dessa necessária integração na América Latina:
- Origina-se a necessidade de se criar uma concepção autenticamente latino-americana de cultura e história do pensamento de nossos povos, através de todos os níveis da educação, desde a primária à universidade;
- Tal e como se faz com a história, a cultura e o pensamento nacional e universal.
Venezuela e Cuba são exemplos importantes de como e o quanto o imperialismo é capaz de agir para sufocar o desenvolvimento dos nossos povos, para continuar sangrando as veias de nossas nações:
- E quão árdua é a luta para escapar do cabresto da economia ocidental dominada pelos Estados Unidos;
- Uma luta que tem sido desigual – até o presente momento.
É preciso unir esforços para viabilizar a possibilidade de superação desse embate tão desigual. E seguir alinhados à forma de luta implementada por Cuba e Venezuela não é para nós apenas uma opção, é antes de tudo uma necessidade.
Assim, em busca de uma saída para a gravíssima crise atual, pela qual estamos passando, a unidade política e econômica da América Latina (a formação e consolidação da Pátria Grande):
- Se impõe como a alternativa mais viável para o enfrentamento da ação imperialista e do voraz avanço do maior processo de recolonização já visto na nossa história;
- Um processo consentido por parte de uma classe dominante entreguista, culturalmente cooptada e sem qualquer sentimento de pertencimento aos seus países e região.
Para conseguir avançar nessa unidade todos os anti-imperialistas, revolucionários, democratas e verdadeiramente patriotas precisam se integrar, com energia para a luta, para que juntos possamos superar as ditaduras “democraticamente” instaladas pelo imperialismo em nossa região, antes que seja tarde.
Muito mais do que sempre nos queixamos de que nossas lideranças sempre falharam no processo de educação política popular:
- Precisamos compreender que o nosso pensamento, enquanto povo, foi colonizado;
- E é reprodutor do pensamento imperialista do “viralatismo” – inculcado em nossa mente.
Portanto, a nossa luta precisa começar reintegrando a consciência política do nosso povo ao nosso país e à nossa região:
- Libertando-nos de nossos “preconceitos culturais”;
- E principalmente das nossas ilusões no sistema vigente, conjuntamente.
É imprescindível compreender que criar as condições para o retorno a uma identidade local e também regional e ampliada, na perspectiva de uma nação latino-americana, é a nossa grande chance de romper o colonialismo pedagógico, cultural e político implantado historicamente em nosso meio:
- Sob o qual os indivíduos pertencentes às classes dominantes e às camadas médias da população, precisam ser libertados da subserviência ao imperialismo;
- Mas, a tomada de consciência da condição de igualdade com os membros pertencentes às massas economicamente menos favorecidas e populares, por parte desses setores dominantes (histórica e culturalmente colonizados) – só pode acontecer a partir de um grande movimento de massas.
Um movimento que permitirá que a maioria da sociedade trabalhe pela afirmação da raiz comum, do território, das particularidades e da unidade, estabelecidos na diversidade de nossa cultura local e regional.
Apesar das profundas desigualdades socioeconômicas entre os países latino-americanos, herdadas do período colonial e acentuadas pelo neocolonialismo, e das diferentes trajetórias históricas, dos interesses divergentes das elites locais e das influências das potências estrangeiras – que criam barreiras para a união em torno desse projeto comum, a integração é possível:
- Exige um amplo diálogo entre os diferentes atores sociais e também a construção de mecanismos que respeitem as especificidades nacionais em busca por soluções conjuntas para os problemas que afetam a região;
- Mas é possível!
A articulação entre os diferentes movimentos sociais da região é o que pode dar a liga para que tudo isso aconteça, amplificando as vozes para construir um projeto integrado de transformação social mais abrangente, onde:
- A criação de redes de cooperação e a troca de experiências entre os movimentos sociais vai fortalecer as ações;
- E, efetivamente, aumentar a capacidade de influenciar os processos de tomada de decisão coletiva.
Enfim, a construção da Pátria Grande, autônoma e solidária, não é apenas um sonho, mas uma necessidade histórica para enfrentar o imperialismo – cada vez mais agressivo.
Cabe a nós, povos da América Latina, a tarefa de nos reconhecermos uns nos outros e assim fortalecermos uma identidade que desafie as divisões que nos foram impostas – construindo um futuro de integração e resistência na região!
“Sí, se puede”!
“…Hegel, que não entendeu nunca os povos americanos, mas
tinha estalos de gênio, disse uma vez que a América, país do
porvir, alcançaria sua importância histórica através de uma
guerra entre a América do Norte e a América do Sul. Não sei se
precisamos de mais guerra do que a suja guerra indeclarada que
eles travam contra nós. Sei apenas que, uma vez liberados da
opressão imperialista, nós floresceremos, e eles também serão
melhores, porque estarão livres do feio papel anti-histórico que
hoje encarnam… Pouca ou nenhuma consciência temos, ainda, é de que sobre
nossos ombros recairá, em grande parte, a tarefa de criar uma
nova ocidentalidade que seja, pela primeira vez, uma civilização
humana respeitável…”(Darcy Ribeiro – América Latina: a Pátria Grande)