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Criptomoeda: Inevitável Futuro Monetário ou Caso de Septicemia Financeira?

Por Roberto Alves e Pedro Pinho

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Em 15 de agosto de 1971, Richard Nixon, presidente dos Estados Unidos da América (EUA), anuncia que o país não venderia mais ouro, alegando a inflação e fechando a principal janela deste negócio. Foi o primeiro passo para a revogação, na prática, dos acordos de Bretton Woods, criados no pós-guerra (1944), junto com organismos internacionais – Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), atual Banco Mundial – que garantiam a sustentação das moedas, sua liquidez, os investimentos e segurança para os negócios.

Foi denominado “Choque Nixon”, adotado sem consulta ao Departamento de Estado nem a outros membros do sistema monetário internacional.

Com a elevação das taxas de juros estadunidenses, completou-se a primeira rasteira nas moedas. Pode-se ler, neste evento, o fim dos lastros monetários nacionais. Para ter-se uma avaliação das consequências das medidas estadunidenses, as taxas de juros, que oneraram a economia brasileira, partiram de 14,71% a.a., em fevereiro de 1974, para 58,45% a.a. em março de 1979.

Na primaveril tarde londrina de 1979, Margaret Hilda Roberts, já senhora Denis Thatcher, recém-designada primeira-ministra do Reino Unido (RU), virou-se para seu rico e domesticado marido e disse: vamos matar pobres por toda Terra, o mundo inteiro?

Assim surgiu a desregulação financeira da década de 1980, que se espalhou pelos EUA e daí pelo Ocidente e mesmo por muitos países orientais e sob a gestão socialista marxista, até ser consolidada na nova Bíblia Econômica, fechando a década, o Consenso de Washington (1989).

Nas mãos financeiras, os investimentos em produção industrial, no desenvolvimento econômico e social, que aumentariam os empregos e a existência de bens e serviços, se transformaram em recursos para especulação, concentrando renda e riqueza, e exigindo, constantemente, maior quantidade de papéis para especulação, para manipulação pelas finanças. Também proliferaram os paraísos fiscais, pois os especuladores detestam pagar impostos e taxas, que reduzem, ainda que minimamente, os seus ganhos.

Formou-se, assim, na última década do século XX, um artefato maior do que todas as bombas atômicas do mundo: papéis sem lastro, emissões descontroladas, sem domicílio onde o poder da justiça pudesse alcançar, ao que se acrescentou, em 2008, a virtualidade do próprio papel, as criptomoedas. Pode-se dizer que a crise 2008-2010 foi o pequeno aperitivo para o grande banquete esperado com a posse e a gestão de Donald Trump, na presidência dos EUA.

Como a sepse é tratada com antibióticos e terapia intravenosa, em unidades de cuidados intensivos, esta explosão financeira vem sendo cuidada pela mudança de gestão de alguns países, especialmente do oriente, que compõem a Organização para Cooperação de Xangai (OCX), constituída em 15 de junho de 2001, com nove países membros (Cazaquistão, China, Índia, Irã, Paquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão), três observadores (Afeganistão, Bielorrússia e Mongólia) e nove parceiros de diálogo (Arábia Saudita, Armênia, Azerbaijão, Camboja, Catar, Egito, Nepal, Sri Lanka e Turquia), além dos três organismos internacionais convidados (ONU, CEI e ASEAN) e do também convidado Turquemenistão.

Porém não se trata apenas de países e organismos internacionais a defenderem seus patrimônios reais e a alimentação e bem estar de seus habitantes. Há, também, irrefreável guerra, exatamente onde se concentram as maiores reservas de petróleo do mundo, no Oriente Médio e norte da África, onde o primeiro ministro de Israel, Benjamin “Bibi” Netanyahu, considera-se investido da missão de criar o “Reino do Sião”, daí o “sionismo”, para o povo judeu, que, sem surpresa, avança por áreas com conhecidos reservatórios de petróleo e naquelas de grandes possibilidades, como a área marítima da Faixa de Gaza.

Como na célebre frase, cunhada pelo consultor político James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton contra George H. W. Bush, em 1992, e, desde então amplamente divulgada: “É a economia, estúpido” (“It’s the economy, stupid”). Não apenas a economia, mas o poder neoliberal financeiro também exacerbou a falta de escrúpulo e de caráter e aumentou exponencialmente a promoção da ignorância e as “fake news” (farsas sob a roupagem de notícia ou análise).

Portanto, ao discorrer sobre as possibilidades que se abrem com a nova presidência dos EUA, diferente, quase oposta, à que se encerra em 20 de janeiro de 2025, precisamos considerar que há uma oposição, que se consolida na OCX, há ameaça de guerra no explosivo Oriente Médio, e, igualmente, muitos interesses escusos e até ilegais cercando a expansão, transformações e utilizações monetárias, como se antevêem agora, em novembro de 2024.

TEORIA DA MOEDA MODERNA E AS CRIPTOMOEDAS

Os habitantes deste planeta ainda deverão viver nele por séculos, senão milênios, e sempre haverá necessidade de água doce, alimentos e abrigos, contra os semelhantes, animais e intempéries, para sobrevivência da espécie, mesmo diferentes dos que nos acostumamos nestes últimos quinze milênios, quando nosso mais antigo ancestral saiu da Etiópia para povoar o mundo.

Assim, a garantia material das moedas já não constitui condição indispensável para sua existência e uso. E essa situação antecede a própria existência das criptomoedas, pois Larry Randall Wray, estadunidense professor de economia, em 1998, publicou “Understanding Modern Money: The Key to Full Employment and Price Stability” (no Brasil, “Trabalho e Moeda Hoje”, tradução de José Carlos de Assis, para Editora UFRJ Contraponto, RJ, 2003) discorrendo sobre a “Teoria da Moeda Moderna”, que pode ser emitida “sem teto de gastos”, promovendo o “pleno emprego sem causar inflação” (na tradução de J.C. de Assis, página 14).

Segundo o Bitcoin.org, o conceito de criptomoeda foi descrito pela primeira vez em 1998, mesmo ano em que Randall Wray apresenta a Teoria da Moeda Moderna, cuja operacionalidade, embora esteja suportada pela realidade física da moeda, não provoca disfunções como a inflação.

No InfoMoney de 8/11/2022 se lê: “O Bitcoin surgiu em 31 de outubro de 2008. Naquele dia, o criador (ou criadores) da criptomoeda, que se esconde sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, enviou um e-mail para uma lista de pessoas interessadas em criptografia. No corpo da mensagem, ele escreveu que vinha trabalhando em um novo sistema de dinheiro eletrônico totalmente peer-to-peer (ponto a ponto), sem terceiros confiáveis”.

Provavelmente Satoshi Nakamoto é um grupo de pessoas que desde o início do século pesquisava a criação e operacionalidade de moeda inteiramente virtual sem necessidade de intermediação bancária (terceiros confiáveis). Os sistemas de informação digitais, criados por Claude Shannon, em 1948, já permitiam essa modalidade, precisavam do avanço nas teorias monetárias e do descolamento da economia do Estado Nacional, que o Consenso de Washington impôs em 1989.

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