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O Mundo Caótico e a Vitória da Desinformação

Por Pedro Augusto Pinho*

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Qual o mais importante feito ou a maior descoberta do século XX?

De acordo com as informações ou os interesses do inquirido poderemos ter como resposta a Revolução Comunista, na Rússia, em 1917, e o autor do feito, Vladimir Lenine. A bomba atômica lançada em Hiroshima e seu criador Julius Robert Oppenheimer ou quem autorizou seu lançamento, Harry S. Truman, então presidente dos Estados Unidos da América (EUA), seria outra resposta.

A nossa resposta é o artigo publicado na revista interna da empresa Nokia Bell Labs, em julho de 1948, “A Mathematical Theory of Communication”, de autoria do matemático e engenheiro eletrônico estadunidense Claude E. Shannon (30/4/1916-24/2/2001).

Foi a partir deste trabalho que se tornou possível apontar, neste conflituoso século XXI, que o uso de sua criação – a digitalização da informação – tornou possível seu mau uso: uma dúzia de pessoas/instituições corromperem as mentes de todos os habitantes do planeta Terra.

Foi também o acaso do surgimento, na mesma época, da Teoria dos Sistemas Gerais, devida ao biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy (19/9/1901-12/6/1972), da construção de mais sofisticadas máquinas de calcular, como o ENIAC (Eletronic Numerical Integrator and Computer), computador a válvulas lançado em 1946, e da recuperação do conceito da informação analógica, pelo lógico tcheco Kurt Gödel (28/4/1906-14/1/1978).

Todo este conjunto deságua no século XXI pelo controle da comunicação pelas “nuvens”, apenas disponíveis pelos EUA e pela República Popular da China (China).

A vítima da vez foi o ex-presidente da Síria, o médico oftalmologista Bashar Hafez al-Assad‎, socialista e laico, num meio fortemente aguerrido por sutilezas religiosas dos islamismos e dos cristianismos.

Apenas a Rússia, embora nem seja socialista nem laica, mas herdeira de um socialismo marxista, deu abrigo a Assad, o que facilitou a solução desejada por todos em seu entorno, demonstrando que interesses ideológicos se submetem aos raciais e religiosos. E que a desinformação torna muito relativa a verdadeira importância das desenvolvidissimas armas bélicas.

No entanto, brasileiros, ainda que sofrendo, e muito, pelas desinformações que nos assombram e prejudicam, não somos diretamente afetados pelos islamismos nem pelas disputas no Oriente Médio. Ainda que não podemos, pela identidade humana, aceitar o genocídio praticado pelo Estado de Israel.

Aos que hesitam em crer no poder da mensagem, das diversas formas de sua transmissão, que invadem como epidermicamente as pessoas, em algum momento de reflexão vão concluir que abriram mão de seus desejos, conceitos ou preconceitos, para seguirem algo que nem conseguem compreender adequadamente, lançado por alguém que não deveria, pelo comportamento e conhecimento, merecer confiança.

Aos mais experientes, profissionais da comunicação, estudiosos das ciências sociais e humanas, há a identificação de um narcisismo ocidental, que supera qualquer comedimento e avança nas emoções mais radicais do amor e do ódio.

Vamos entender o “ocidental”, da frase anterior. Hoje não é mais um critério geográfico, como também não o é o “sul”. “Ocidente” são os neoliberais financeiros, que propugnam pelo mundo unipolar, sob seu controle. No “Ocidente”, além dos EUA e parte da Europa, estão o Japão e a Coreia do Sul, onde o presidente dá um golpe, persegue os inimigos políticos, mas pela sua identidade ocidental não é chamado ditador pela mídia amestrada deste “Ocidente”.

Já o “Sul”, inclui a Rússia e aqueles países que lutam pela multipolaridade, pelos três princípios que, em abril de 1955, foram aprovados por africanos e asiáticos na Conferência de Bandung. Recordando: (1) respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações; (2) reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações; e (3) não intervenção e não ingerência nos assuntos internos de outro país.

De tudo que até aqui foi exposto, o arguto leitor está se perguntando: como a China está reagindo à deposição, por um levante armado, do presidente sírio Bashar al-Assad?

Antes do golpe que depôs Assad, a China havia se oferecido para colaborar na reconstrução da Síria. E, muito provavelmente, a China é hoje o único país que tem todas as condições – informacionais, econômicas, tecnológicas, militares, aeroespaciais – de virar o jogo onde o “Ocidente” tenha efetivo interesse.

Sendo que estes interesses ocidentais são aqueles dos EUA, que têm a indiscutível liderança deste bloco.

Neste aspecto, aproveita-se para alertar os brasileiros. Estar com a unipolaridade estadunidense é abrir mão do nosso interesse nacional, do que verdadeiramente importa para o povo do Brasil: trabalho, salário, garantia de vida e do futuro para si e seus descendentes. Ou seja, revogação de todas privatizações e das alterações das leis trabalhistas e previdenciárias, entre tantas outras, como do Teto de Gastos, que nos foram impostas a partir da promulgação da Constituição de 1988.

SIGNIFICADO DO ORIENTE MÉDIO

O Oriente Médio constitui um dos três pólos constituintes da humanidade. O primeiro é o africano, na Etiópia e vale do Nilo, onde se desenvolveu a mais antiga civilização, e de onde partiram os homens para habitar a Terra. O segundo é o Oriente Médio, de civilizações que até desapareceram mas deixaram suas marcas na cultura que desenvolveram e foram incorporadas por outras que lhe sucederam. O terceiro é o do extremo oriente, onde hoje está a China e de onde partiram os homens que viriam povoar as Américas.

Dominar o Oriente Médio vai além do polo petrolífero, o que por si só já é importantíssimo, mas é conquistar, subjugar a raiz da Europa.

O maior problema do controle do Oriente Médio é que ali se encontram os berços das religiões ocidentais, pode-se dizer das religiões do mundo, pois o taoísmo, budismo, hinduísmo, xintoísmo, confucionismo, mais do que religiões são filosofias de vida e o culto e respeito à natureza. E as religiões de matrizes africanas são também filosofias de vida e do relacionamento humano.

Mexer com a fé é muito perigoso, desequilibra a pessoa, que se sente diretamente agredida. Que pensamento, além dos religiosos, erigiu monumentos como as catedrais?

No Oriente Médio estão o católico romano, o ortodoxo, os cristãos de todas denominações e os islâmicos, em suas diversidades, com seus locais sagrados e/ou referenciais.

Quem sentará à mesa que vai discutir o Oriente Médio? Judeus, católicos romanos, católicos ortodoxos, cristãos armênios, islâmicos sunitas, islâmicos xiitas, além das variações laicas e religiosas dos inevitáveis representantes, diretos ou por procuração, dos EUA, da Rússia, do Reino Unido (que não perde a oportunidade de abocanhar um pedaço do que quer que seja), da França (para manter a voz, rouca, quase emudecida) e da China.

E não será apenas um debate geopolítico, será muito mais um debate pela fé. E aí reside todo problema. Irã mais preocupado com a Turquia, e vice-versa, do que com o Reino Unido. Os EUA mais preocupados com a China do que na manutenção de Israel. E o esclarecido leitor pode imaginar quantas divergências para se chegar a qualquer convergência!

Assad já não existe e não haverá quem lhe venha salvar. Se o Brasil quiser fazer papel de bobo, o momento é esse, ou não é? muito culto embaixador Celso Amorim. E deve estar satisfeito por deixar sua família abrigada na Rússia. Principalmente vendo as mortes e torturas que foram infligidas a Saddam Hussein (Iraque) e o construtor da moderna Líbia, Muhammad al-Gaddafi, hoje voltando a ser o país de desunidas e rivais tribos.

Provavelmente Joe Biden, podendo, deixará este pepino para Donald Trump. Mas será que Marco Rubio, de 53 anos, filho de cubanos, provável Secretário de Estado a partir de 20 de janeiro de 2025, saberá se esgueirar entre seus “grandes inimigos”, a China e o Irã?

O estadista Vladimir Putin deve ter suas razões para deixar o Irã na difícil posição de ser o antagonista privilegiado de Benjamin Netanyahu. A China pode estar vendo na futura Síria o melhor parceiro para a Nova Rota da Seda (Iniciativa do Cinturão e Rota) se expandir pelo Oriente Médio, caso contrário já teria se aproximado ou da Turquia ou do Irã.

Mas não nos esqueçamos da Jordânia e do Líbano, presas da ambição de Netanyahu e seus sionistas, no afã de alcançar o Estado Judeu, surgido na cabeça de Theodor Herzl, no século XIX.

E nos perguntamos: a Arábia Saudita, que oscila entre a unipolaridade estadunidense e a multipolaridade dos BRICS, que já lhe convidaram para ingressar, conseguirá ficar isolada destes aguerridos vizinhos? O Iêmen o permitirá? E os pequenos e petrolíferos Kuwait e Catar, poderão ficar distantes ou serão envolvidos pelas grandes potências?

Quem se aventure no futuro próximo do Oriente Médio, tem muito mais o que errar do que acertar. Nem mesmo a “intelligentsia” russa deve ter uma resposta, mas tem certamente seu objetivo nacional.

Mas os objetivos só serão conhecidos quando todos colocarem suas cartas na mesa.

E vem aí o Natal, data e festa de conteúdo religioso. Será também o despertar para um acordo ou o início da terceira grande guerra?

Sempre é bom lembrar que Trump trocaria com muita satisfação a Ucrânia, com a OTAN de brinde, pela vitória dos EUA e Israel no Oriente Médio.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

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