Foto: Hora do Povo
“O Brasil precisa abandonar o Consenso de Washington. O Brasil tem que fazer isso”, defendeu o diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), no lançamento do livro “Produção versus Rentismo”
O diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi, afirmou, em mensagem a trabalhadores e empresários no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, realizado no dia 4 de dezembro, que “nós estamos caminhando para um processo de transição e transformação da economia brasileira buscando exatamente o crescimento econômico, a prosperidade, a elevação da renda, a distribuição da renda. E isso tudo a indústria propicia. Qual é o grande risco desse processo? São a combinação de juros elevados e instabilidade cambial”.
“Isso tem marcado, nas últimas décadas, a instabilidade econômica que prejudica o setor produtivo, que deprime e empobrece a população brasileira”, completou o diretor da CNI. “Nós temos que ficar atentos ao debate porque muitas vezes a repercussão que se tem na mídia está muito assentada aos interesses desse rentismo improdutivo”, afirmou Lucchesi .
No debate que marcou o lançamento do livro “Produção versus Rentismo – Trabalhadores e empresários pela reindustrialização do país”, organizado por Carlos Pereira, redator especial do HP, Rafael Lucchesi defendeu que “o Brasil precisa abandonar o fracasso, como as economias centrais fizeram. Elas abandonaram o ideal liberal, o Consenso de Washington, e estão buscando o mundo real, a economia real. O Brasil tem que fazer isso”.
Leia a seguir a mensagem do diretor da CNI, Rafael Lucchesi
“O relatório desse ano, de janeiro de 2024, do Fundo Monetário Internacional indica 2.500 mecanismos de política industrial entre todos os países. 70% desses mecanismos estão em países desenvolvidos e 30% em países emergentes. Há uma corrida em todos os países em busca pelo domínio das novas tecnologias da quarta revolução industrial e também da transição energética. Isso marca um reposicionamento que também cria um ambiente de instabilidade de geopolítica. A guerra da Ucrânia, a guerra do Oriente Médio, as tensões comerciais crescentes entre Estados Unidos e China têm marcado um período de grande instabilidade.
“O que tem de novo no Brasil nesse cenário? O Brasil emerge com enormes possibilidades e potencialidades. Nós temos uma vantagem comparativa enorme na produção de energia. Note bem. Nós estamos no terceiro ciclo de mudança energética. Primeiro o carvão, na primeira revolução industrial, depois o petróleo e agora a energia limpa, sustentável, que a princípio é mais caro e por isso uma agenda importante de política industrial para o domínio dessas tecnologias.
“O Brasil se coloca como uma potência verde para a construção dessa transição energética, não apenas como oferta de energia verde em grande escala, em quantidade, bom preço, mas também fazendo o seu processo de descarbonização produtiva. Para isso, tem que ter política industrial. Nós não temos a mesma folga fiscal que levou os países desenvolvidos a alocarem nos últimos anos doze trilhões de dólares em políticas industriais. Nós temos a NIB – Nova Indústria Brasil – e também o Plano Mais Produção que está aí ao redor de sessenta, setenta bilhões de reais. É o que a gente consegue fazer nesse momento. E o que está surpreendendo? Nos últimos três anos nós estamos tendo um crescimento do PIB em torno de 3% ao ano. A indústria está se recuperando desde meados do ano passado. O que é importante, no sentido de criar uma nova atitude que vai gerar melhores empregos e um ciclo de crescimento sustentável.
“Nós estamos caminhando para um processo de transição e transformação da economia brasileira buscando exatamente o crescimento econômico, a prosperidade, a elevação da renda, a distribuição da renda. E isso tudo a indústria propicia. Qual é o grande risco desse processo? São a combinação de juros elevados, instabilidade cambial. Isso que tem marcado, nas últimas décadas, a instabilidade econômica que prejudica o setor produtivo, que deprime os empregos e empobrece a população brasileira. Nós temos que ficar atento ao debate porque muitas vezes a repercussão que se tem na mídia está muito assentada aos interesses desse rentismo improdutivo.
“O Brasil precisa abandonar o fracasso como as economias centrais fizeram. Elas abandonaram o ideário liberal, o Consenso de Washington, e estão buscando o mundo real, a economia real. O Brasil tem que fazer isso.
“Mas é claro, há jogos de interesse, há interesses conflitantes. O que interessa ao Brasil como projeto de país, projeto de nação? Seguramente um crescimento econômico sustentável. Nós estamos chegando ao índice de investimento perto de 18% do PIB e, claro, isso cria um círculo virtuoso que só aumenta se nós criarmos condições macroeconômicas favoráveis. Os juros estão fora do lugar. Se nós olharmos para taxa de juros, ela está sobrevalorizada. Se usa uma narrativa de que a inflação está alta. A inflação brasileira está controlada, a dívida pública é uma dívida relativamente baixa, muito parecido com outros países e até menores do que outros países que têm uma taxa de juros muito menor do que a brasileira.
“O que está em jogo são os interesses do país. Do desenvolvimento econômico, do emprego, da distribuição de renda, de um círculo virtuoso de prosperidade que o Brasil tem tudo para se colocar. Mas para isso precisa que as forças políticas que têm compromisso com o setor produtivo, com o desenvolvimento brasileiro, com a distribuição de renda atuem de forma coordenada, fazendo frente às ameaças que se colocam mantendo o velho, mantendo o fracasso, mantendo uma lógica de estagnação, onde só quem ganham são poucos em cima desse rentismo improdutivo.“
Publicação original em: https://horadopovo.com.br/rentismo-improdutivo-prejudica-o-pais-e-empobrece-a-populacao-denuncia-lucchesi/