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Equívoco Histórico: Comunistas Defendem Neoliberal Carter e Atacam Nacionalista General Geisel

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Foto Reprodução

Reverberando ainda a morte do ex-presidente americano, Jimmy Carter(1977-1981), ficou notória a submissão ideológica da mídia conservadora tupiniquim (Globo, Folha, Estadão etc), hoje empenhada em destruir Lula, para defender o imperialismo americano contra o nacionalismo latino-americano, na sua avaliação da polarização entre ambos.

Para ela, Carter foi o campeão dos direitos humanos, enquanto o presidente brasileiro, general Geisel (1974-78), na ocasião, era o malvado ditador, que tocava política nacionalista na linha de Getúlio Vargas, com o qual se aliou, na Revolução de 1930.

No final dos anos de 1970, início dos 80, o império queria limpar sua imagem de avalista e promotor de regimes ditatoriais nos anos de 1960 em diante, especialmente, depois da revolução cubana, comandada por Fidel Castro.

Na América Latina, no Brasil, em 1964, no Chile, em 1973, e na Argentina, em 1976, Washington havia montado o terror militar para destruir democracias.

A ordem imperialista era acabar com o comunismo, que a propaganda americana dizia ser financiado pela União Soviética, pelo ouro de Moscou, comedor de criancinhas etc.

Ela havia disseminado no continente sul-americano a Operação Condor, coordenada por ditadores chilenos, argentinos, brasileiros e paraguaios, como exemplo da forma em que os Estados Unidos, como principal apoiador deles, patrocinava o terror.

Imperava a Doutrina Monroe – América para os americanos do norte – na base do porrete.

As ditaduras serviram, principalmente, para implantar o neoliberalismo, na linha de Chicago, impondo restrições fiscais e monetárias, tal como acontece, atualmente, para esvaziar o Estado e suas políticas nacionalistas.

A palavra de ordem, então, era combater o peronismo, o varguismo etc, que impulsionaram o nacionalismo desenvolvimentista mediante estado forte intervencionista, mais na linha keynesiana que socialista, na tentativa imperial de revertê-lo e promover privatizações para abrir espaço ao capital americano.

Objetivava o império desarmar o desenvolvimentismo latino-americano, que havia se despertado, depois de Vargas, com JK, mais sintonizado com a linha social democrata americana e europeia do que com a linha soviética, socialista, para derrubar a soberania nacional desenvolvimentista.

Era necessário, do ponto de vista de Washington, combater os comunistas incrustrados no trabalhismo nacionalista de Jango Goulart e Brizola, herdeiros de Getúlio, para promover privatizações de empresas estatais e bancos.

O imperialismo visava desarmar a onda política pró-reformas de base – urbanização, reforma agrária, industrialização, reformas políticas, democratização do poder político, remoção da estrutura econômica e política conservadora colonial, enfim, modernização nacional.

CARTER CONTRA O NACIONALISMO

No Brasil, depois da fase brutal do neoliberalismo inicial, com o general Castelo Branco(1964-1967), capitaneado por economistas serviçais dos Estados Unidos, como Roberto Campos, Otávio Gouveia de Bulhões e Mário Henrique Simonsen, que implementaram a chamada “sangria depuradora”, para combater a inflação desenvolvimentista, que impulsionava urbanização, industrialização e democratização do poder político, sob o trabalhismo varguistas, subiram ao poder generais ditadores, porém, nacionalistas, ao contrário do que acontecia no Chile, na Argentina, no Uruguai e Paraguai.

Não prosperou, no Brasil, com os militares, na fase pós-Castelo Branco, o modelo neoliberal de Chicago, mas a ordem getulista, especialmente, com Geisel.

O ditador nacionalista lançaria mão da dívida externa, na fase do dólar barato, pós-descolamento da moeda americana do padrão-ouro, em 1974, no governo Nixon, para construir as empresas estatais, com as quais geraria divisas para industrializar o país, tal como pregava Vargas.

Depois, Geisel seria destruído com a puxada dos juros americanos de 5% para 21%, em 1979, para salvar o dólar da liquidez excessiva que o ameaçava, derrubando, dessa forma, a ditadura militar.

O império americano, então, cuidou de anular Geisel, com a subida de Carter ao poder, mediante bandeira falsa dos direitos humanos, objetivando dar cabo do nacionalismo militarista, que cumpria destino de desenvolver a economia, dando sequência ao plano de metas de JK.

Na Era Carter, a forma de o império americano de destruir Geisel foi, naturalmente, rachar as forças armadas, fortalecendo a ala radical ultradireitista do general Frota, pró-Washington, contrária à abertura política e à anistia, para fechar ainda mais o regime e reverter a economia à fase ultraneoliberal Campos-Bulhões, paralisando a onda nacionalista geiselista.

EQUÍVOCO COMUNISTA

É aqui que entra o equívoco histórico em que caíram os comunistas, sociais democratas e esquerdistas tupiniquins em geral, liderados pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro, o velho partidão) de se oporem ao nacionalismo militar com Geisel, para defender a política de direitos humanos imperialista, liderada Jimmy Carter.

Sem se atentar que estava em jogo o conflito de classe, conforme ensinamento do marxismo-leninismo, o PCB, líder da esquerda brasileira, jogaria, naquele momento histórico, a favor do império e sua tirânica orientação imperialista contra a periferia capitalista, dependente de poupança externa, para combater o nacionalismo geiselista, antiamericano.

Geisel contrariava Washington, no então processo de descolonização da África ao qual o ditador nacionalista se engajou com sua política externa de pragmatismo responsável, comandada pelo chanceler Azeredo da Silveira, o popular Silveirinha.

A esquerda, rendida ao equívoco comunista stalinista, ficou em cima do muro, relativamente a Geisel, para cair nas garras da Casa Branca.

Propensos ao social liberalismo, exatamente, como se repete, atualmente, na linha americana e europeia, para dar cabo do nacionalismo militarista ditatorial, enquanto trabalhavam na mídia burguesa, confundindo os interesses de classe, como se burguesia e trabalhadores estivessem do mesmo lado, defendendo os mesmos objetivos, os comunistas ajudariam Washington a derrubar Geisel, impedindo que fizesse o seu sucessor.

Roberto Marinho, que havia criado, com apoio de Washington, em 1965, a Rede Globo, para defender a ditadura militar, orgulhava-se de ser o protetor dos comunistas, seus assalariados.

O chefão do Globo e da TV Globo considerava os comunistas competentes, enquanto cooptava-os para fazer o jogo reacionário de combater o nacionalismo, a fim de elogiarem o jogo imperialista neoliberal de Jimmy Carter, como o pacificador mundial em ascensão.

Como o Globo, do mesmo modo agiram o Estadão, a Folha, o Jornal do Brasil etc, na tarefa de exercitar o jornalismo liberal pelas mãos dos comunistas competentes, antinacionalistas a contragosto.

Doce engano comunista que jogou a luta de classes na lata de lixo.

GLAUBER ROCHA ENTRA EM CENA

Foi nesse momento histórico que retornava do exílio ao Brasil o genial cineasta Glauber Rocha, criador do Cinema Novo, ideologicamente, trabalhista, janguista, getulista, para defender o nacionalista varguista Geisel contra a esquerda e seus adeptos, liderados pelo PCB e udenistas, estacionados na mídia burguesa, na resistência à ditadura, capitaneada, então, pelo MDB, liderado pelo conservador liberal deputado Ulysses Guimarães.

O “Dr. Ulysses”, o “Dr. Diretas Já” era o objeto de consumo ideológico da esquerda, dos comunistas, que comandavam as redações na mídia burguesa, quando, para escândalo dela, Glauber escreveu, em julho de 1977, no Correio Braziliense, o artigo intitulado “Myzérya do lyberalysmo”.

O autor de “Terra em transe”, “Dragão da Maldade contra Santo Guerreiro”, vencedor do festival de Cannes, desancava, historicamente, em seu artigo, os comunistas tupiniquins.

Eles se alinhavam aos neoliberais contra o nacionalismo para agradar Washington, Jimmy Carter, a Cia, o imperialismo etc, contrários à política externa brasileira independente, empenhada em firmar acordo nuclear com Alemanha e apoiar a descolonização africana.

“Mizérya do lyberalysmo” focaliza a polêmica ideológica na tribuna da Câmara, travada pelo líder do MDB, o autêntico deputado paranaense, Alencar Furtado, aliado de Ulisses Guimarães, contra o líder da Arena, deputado Zezinho Bonifácio, de Minas Gerais, porta-voz de Geisel.

Geisel, nacionalista x Ulisses, liberal, alinhado à Paulicéia Desvairada quatrocentona, adepta da contrarrevolução de 1932, antigetulista, era o foco de Glauber Rocha, para expor os equívocos históricos da esquerda tupiniquim.

Ulysses, posteriormente, todo poderoso no Congresso, trairia Sarney que decretou moratória da dívida externa contra a política monetária americana que detonou a dívida externa com juros extorsivos, em 1979, para salvar o dólar.

Alinhou-se aos jornalões do Rio e de São Paulo, pró-banqueiros americanos, taxando o presidente maranhense de caloteiro, jogando a economia na hiperinflação.

Não à toa, o criador do Cinema Novo, crítico de Ulysses, e do MDB, aliado da banca, foi taxado de doido, combatido pelos esquerdistas nas páginas da mídia burguesa, que se posava de progressista, na sua tarefa de considerar populista o nacionalismo brasileiro e latino-americano.

TROTSKI E GLAUBER

É necessário ressaltar que, como Glauber Rocha, Leon Trotski, na Era Vargas, havia exposto o equívoco dos comunistas brasileiros, alinhados ao stalinismo, de se colocarem contra o nacionalismo de Getúlio, no final dos anos de 1930 e início dos anos 1940, quando o varguismo construía soberania nacional por meio das políticas sociais e econômicas nacionalistas sob comando de Estado Novo intervencionista.

Trotski, no México, onde estava sob proteção do governo nacionalista do general Cardenas, contra a perseguição de Stalin, que o mataria pelas mãos de Ramon Mercader, criticara os comunistas que taxavam Vargas de populista.

O criador do Exército Vermelho soviético, herói da revolução, ao lado de Lenin, dizia, naquele momento, que o inimigo não era o populista Vargas, combatido por Stalin e comunistas tupiniquins, liderados por Luís Carlos Prestes, mas o imperialismo britânico.

Entre a imperialista Inglaterra, que explorava a economia sul-americana, com seus bancos e empréstimos a juros extorsivos, inviabilizando desenvolvimento sustentável e soberania continental, e o nacionalismo, ao qual tinha restrições relativas, Trotsky defendia políticas populistas de Getúlio e Cárdenas, para defender o petróleo brasileiro e mexicano.

O populismo, segundo Trotski, bombardeado pelos stalinistas, prosperava na América Latina, porque, os partidos políticos latino-americanos eram fracos, sem conteúdo popular, preferindo os chefes políticos fortes, intervencionistas, o que era comum no tempo da guerra.

Registre-se, ainda, que Roosevelt, também, intervencionista, em 1933, de passagem pelo Brasil, disse que se fosse brasileiro, votaria em Vargas, devido às suas políticas econômicas e sociais nacionalistas, intervencionistas, no contexto da guerra, adotadas no mundo inteiro, para enfrentar a crise de 1929, que abalou o capitalismo americano e mundial.

Já em 1930, Getúlio adotaria política econômica e social intervencionista que Roosevelt somente praticaria a partir de 1933, quando chegou ao poder, nos Estados Unidos.

De modo que Glauber Rocha, ao defender o nacionalismo varguista de Geisel, em 1977, para desancar a falsa política de direitos humanos de Carter, reiterou o equívoco histórico que já fora praticado pelos comunistas, liderados por Prestes, porta-voz de Stalin, na Intentona Comunista de 1935.

Não foi à toa, portanto, que o povo destruiu jornais comunistas, em 24 de agosto de 1954, dia do suicídio de Getúlio Vargas, como estratégia para defender a Petrobrás, por se alinharem ao udenismo antivarguista, pró-Washington.

Glauber foi premonitório ao colocar a nu os comunistas e os esquerdistas que caíram no conto do vigário do pacifismo de Carter, badalado, agora, na hora de sua morte, pela mídia conservadora neoliberal pró-americana, a mesma que se empenha em destruir Lula, tentando inviabilizá-lo para 2026, na pregação do neoliberalismo pró-império.

O genial cineasta baiano, que dizia que a luta política é luta ideológica, está mais vivo do que nunca.

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