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A Rendição de Zuck, por Paulo Moreira Franco

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Paulo Moreira
Paulo Moreira
Economista aposentado do BNDES

“Run for the shadows, run for the shadows
Run for the shadows in these golden years”
(The Thin White Duke)

Fosse vivo Elvis teria feito noventa anos ontem, quarta, oito de janeiro.

Mesmo os mais inveterados devotos da teoria de que ele ainda estaria vivo, nessa altura do campeonato, não têm muito como advogar contra o fato de que, aos noventa anos, a chance de que ele ainda esteja vivo é remota.

O que não se dá conta, em ambos os lados da eventual polêmica de “Elvis não morreu”, é que Elvis é a sua obra.

E se esta cessou em 1976, se nunca tivemos chance de ouvir sua gravação de “Golden Years”, meio que a discussão não importa.

A morte, um problema mental insanável, o desaparecimento num programa de proteção à testemunha, seja lá qual for a história, para todos os fins, mesmo se Elvis não morre Elvis no more.

Pessoas se tornam, pessoas terminam, como as poesias e os países, os campeonatos, os governos, as eras. Mesmo o Eterno Retorno não é o retorno do mesmo, aprendi com um filósofo que faria cem anos dez dias depois desses noventa de Elvis.

Mas esse saiu pela janela.

De muitas formas o Mundo que vivemos terminada a Guerra Fria, terminada a Segunda Guerra Mundial, terminada a Grande Guerra, de muitas formas esses mundos do que se chamou Neoliberalismo, do que sob muitas formas se chamou Imperialismo, se chamou de Capitalismo, de muitas formas as formas vão sendo enterradas.

E com Michael e Mercury enquanto fantasmas mais populares do que o próprio Rei, é interessante olhar-se para os tempos em que vivemos, o agora, o em breve, sem a fixação com o que foi.

Trump nem tomou posse e Trudeau pediu as contas.

Trudeau, sendo trollado por Musk, muito, muito divertido.

Trudeau, filho bastardo de Castro segundo uma curiosa teoria de conspiração, era o próprio símbolo da globalização neoliberal em sua decadência.

 A sua repressão ilegal aos protestos de caminhoneiros foi um dos exemplos maiores de medidas de exceção contra mobilização popular justificada sob um TINA de razões científicas.

 Lembremos dos aplausos, comandados por gente de seu partido, a um veterano ucraniano na luta contra os soviéticos, contra os russos, um velhinho mais velho do que seria Elvis se ainda vivo, herói sendo celebrado no legislativo canadense, um velhinho que foi voluntário nas SS.

Adeus, Trudeau!

Os palhaços do governo alemão são os próximos.

A protagonista da política externa feminista fez sua visita ao neogoverno fundamentalista sírio – ela foi borrada nas fotos?

Após 23 de fevereiro os Verdes estarão em alguma coalizão governamental?

O partido do primeiro-ministro Scholz, o venerando Partido Social-Democrata Alemão, estará?

Concretamente, não sei o quanta diferença fará dentro da continuidade que o establishment europeu/alemão busca.

A Alemanha está em estado terminal: sua aposta no motor de combustão interna, em especial no motor diesel, se mostrou um futuro passado, morto e sepultado pelos chineses e por Musk.

Sua desconexão do gás russo, promovida pelo regime Biden, tornou não competitiva sua indústria química.

Dentre os trollados por Musk, além de Scholz e da “Garota”, o que pode parecer que sobreviverá é Kier Starmer. E isso é um engano.

Não que seja o escândalo de Starmer, quando foi “procurador geral da república” no Reino Unido ter negligenciado casos de pedofilia.

Mas o fato de que os governos britânicos trabalharam ativamente contra Trump – e nisso os governos anteriores dos conservadores, pesadamente apostados no trambique geopolítico da Ucrânia, não diferem muito – e a conta vai chegar.

O Reino Unido, seja sua elite, seja quem é sustentado pelo funcionamento dela, basicamente teve como ganha-pão seu papel de lugar de “liberdade” para o setor financeiro.

Com o reshoring de Trump, com a traição feita sobre os oligarcas russos no início da guerra na Ucrânia, a utilidade do Reino Unido nesse papel se foi.

Haverá patos a serem pagos, haverá novos e inexpressivos primeiros-ministros sendo escolhidos dentro do Labour (tal como os que se sucederam a Boris entre os conservadores), pois nem aos conservadores interessa o risco de uma eleição no ambiente político que existe neste momento.

O que nos traz ao problema do nosso governo, da fé que anima a nossa igreja.

Mark Zuckerberg, cujo threads foi promovido como alternativa ao X/Twitter durante o período em que este esteve banido pelo juiz-procurador-vítima Chandão (o Chapolim Colorado de nossa democracia), acaba de anunciar que não mais irá sustentar o aparato de checagem de fatos.

O que causa horror a muitos.

Como, por exemplo, notícias como a de que o computador do filho de Biden contém atos de tráfico de influência, consumo de drogas, posse ilegal de armas, atos sexuais que são criminalizados nos EUA, como uma notícia dessas será excluída do Facebook sem isso?

Como garantir que as pessoas saibam que Biden não tem nenhum problema cognitivo?

Como garantir que as pessoas não sejam vítimas de propaganda russa?

(Ah, mas nós não temos problemas com a Rússia, dirá você, querida leitora.

Não importa: o banimento do RT no YouTube não está sob a jurisdição de Chandão, mas ainda assim impacta o território sobre o qual ele exerce sua soberania.

Chandão, como os franceses, só cuidou da parte que os americanos não conseguem controlar, banindo aqui o Rumble.)

A finalidade do aparato de fact-checking nunca foi outra senão uma forma de impor o There Is No Alternative do establishment que está sendo varrido pelas eleições que vêm acontecendo de um ano para cá.

Parte de um aparato de repressão, privatizado, controlado pelo funding dado por fundações que têm bilionários por traz.

Mesmo que da sociedade civil, da universidade. Quem paga as contas decide quem funciona. Alguém achava que não?

Zuckerberg foi um cara importante para a operação que botou Biden no poder.

O perto de meio bilhão que ele usou para “ajudar” as eleições teve sua relevância pelo viés que ele apresentou.

Só que todo negócio dele depende da boa vontade do Congresso e do governo americano.

E se alguns meses antes da eleição, na época em que a “negligência” de alguns funcionários públicos americanos quase matou Trump, já era clara a inviabilidade da farsa de Biden ser mantida – e Zuckerberg ali começou a costear o alambrado – após Trump eleito não há razão para Zuckerberg tornar-se mais um Elvis sem obra.

Não há mais a obrigação de pagar o dízimo, sustentar essa estrutura de controle e conformidade.

O problema é que no Brasil as diferentes fichas sobre a mudança do Mundo não caíram.

Houve um governo de fantasia onde parte do aparato de Estado (os militares e policiais) e parte do Capital (os farialimers e a barafunda de empresários como Luciano Hang) controlaram o país servindo à mais profunda agenda de globalização, ao mesmo tempo em que o discurso de Jair replicava as tropes do que mais nacionalista havia nas direitas do Primeiro Mundo.

Fascinante operação simbólica: a classe média brasileira (e seus aspirantes) espremida pela globalização, apoiando a mesma, apoiando o aparelhamento do estado por uma de suas instituições mais nepotistas.

Por outro lado, tem-se uma esquerda cuja raiz popular foi sendo profissionalizada em instituições mantidas por essas fundações externas, seja de bilionários, sejam aquelas cuja raiz do funding está em fundações que fazem parte do quadro institucional dos estados desenvolvidos (como as dos partidos alemães, tipo a Friedrich Ebert).

Ao invés de sindicatos, tem-se ongueiros.

Não sei o quanto dessa realidade o presidente Lula entende pelo discurso que fez ontem, onde ele questionou que não há trabalhadores nas fotos das revoluções (Dybenko era portuário; e Mao, fora da lista das fotos do presidente, professor de história, como o deputado Tarcísio).

Mas o fato de que seu governo está pendurado numa agenda que não existe mais, a de uma globalização ideologicamente puxada pelos europeus e controlada pelos liberais americanos, é preocupante.

Há um mandatório par de artigos do Branko Milanovic em seu Substack, sobre Trump e sobre os que não entendem sua responsabilidade na mudança.

Não que minha visão do problema coincida estritamente com a que está lá, mas há muitas coisas interessantes nos argumentos. Vão e vejam.

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