Cadastre-se Grátis

Receba nossos conteúdos e eventos por e-mail.

Diretas Já – A Noite Do Brilho Eterno

Por José Maria Correia*

Mais Lidos

Lembro do grande comício das Diretas Já , como se fosse hoje , ou na noite de ontem.

No início dos anos 80 e há 41 anos tomamos a decisão de realizar um
grande comício pelo fim da ditadura militar e o retorno das eleições diretas para presidente .

Foi em uma reunião na sede do antigo diretório estadual
do PMDB .

Foi o episódio de minha vida pública mais emocionante.

Tomamos decisão corajosa em uma reunião na antiga sede do diretório estadual do PMDB na avenida Vicente Machado , que precisa mudar de nome por outro que honre a cidade

O presidente do partido era o Senador Álvaro Dias .

A oposição ao regime estava em parte dividida em relação ao evento.

O governador Tancredo Neves de Minas Gerais preferia uma solução negociada com o ditador general Figueiredo e a realização das eleições indiretas , onde teria o apoio de progressistas e conservadores na disputa com Paulo Maluf.

Doutor Ulysses não abria mão das eleições diretas nos termos da emenda constitucional do deputado Dante de Oliveira que precisava de apoio popular e mobilizações de grandes massas populares para ser aprovada no Congresso Nacional.

Venceu a posição progressista do nosso diretório estadual e assim organizamos o evento histórico.

Participei da comissão presidida pelo Senador Álvaro Dias .

Foi um trabalho gigantesco com forte apoio do doutor Ulysses Guimarães.

Trazer as maiores lideranças democráticas do Brasil seria um feito,

E de fato vieram além de Ulysses os governadores Tancredo e Montoro de São Paulo.

Brizola preferiu não vir e mandou como representante o deputado Doutel de Andrade.

Lula também não veio.

Mas estavam lideranças de todo o Brasil.

A organização da mobilização em Curitiba foi do saudoso prefeito Maurício Fruet.

E todos os parlamentares democratas estavam presentes e entusiasmados , entre eles Orlando Pessutti , Requião , Mario Pereira , Nestor Batista , Leo de Almeida Neves o senador Enéas Faria, um orador poderoso.

E a juventude e lideranças de Romanelli , Pedro Longo, Valéria Prochmann , Geraldo Serathyuk e Molina.

Também o ex governador Jayme Canet Junior e o vice governador de José Richa João Elysio com Aníbal Khury.

Richa estava empolgado e surpreendido com o público de 50.000 pessoas.

Impossível citar todos que participaram da organização mas lá estavam todos os partidos que queriam o final da ditadura , as centrais , síndicais , os diretórios , acadêmicos , os municipalistas e a OAB por seus advogados entre eles Otto Sponholz.

Fui o encarregado de abrir o comício como primeiro orador representando os vereadores de todo o estado.

Tarefa nada simples diante da rua 15 de Novembro , uma feliz coincidências, completamente lotada desde a Praça Osório onde estava o palanque até a Santos Andrade.

Um oceano de pessoas que estavam extremadas pela paixão de exterminar a ditadura que sufocava as liberdades públicas e os direitos humanos há mais de vinte anos com golpes sucessivos.

Ainda ouço minha voz jovem de 36 anos ecoando forte entre um desfiladeiro formado por paredões de prédios para se perpetuar na minha memória mais doce.

Fui apresentado pelos oradores , o amigo compositor e poeta Cláudio Ribeiro e depois o radialista Osmar Santos.

Mas eu não era o protagonista, é claro.

Depois entraram os governadores , senadores e o anfitrião Álvaro Dias que domina a arte da oratória como ninguém.

E os artistas convidados e os voluntariados.

A musa das diretas Fafá de Belém cantou o Hino das Diretas- O Menestrel das Alagoas e em seguida entrou Belchior , para mim o maior de todos e que depois ficou encantado para sempre .

O efeito do comício foi o de uma fagulha na pradaria.

E os governadores que estavam em dúvida trataram de organizar também seus megas eventos nas maiores capitais brasileiras.

Em São Paulo e no Vale do Anhangabaú – o governador Montoro que adotava um estilo de discurso semelhante ao do argentino Perón .

E na Praça da Candelária,o governador Brizola com a abertura história do presidente da ABI Sobral Pinto citando o artigo 1 da Constituição – Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido

Sobral tinha 90 anos e falou com voz firme ao lado dos governadores , parlamentares e de Lula , Arraes e FHC .

Estive em todos os palanques com os vereadores Hasiel Pereira, Waldyr D’Angelis, José Felinto e a passionária oradora Marlene Zanin .

Meses depois em Abril um mês fatídico para a democracia, a emenda Dante de Oliveira foi derrotada no Congresso faltando apenas vinte e dois votos para ser aprovada,

As negociatas e as tristes e tenebrosas transações venceram.

Tancredo Neves com a habilidade dos argutos mineiros derrotou o opositor Paulo Maluf que tinha também muita rejeição entre setores militares e foi eleito

Vítima de septicemia que demorou para tratar Tancredo faleceu e assumiu o vice Sarney que havia participado das composições do coletivo eleitoral ao lado de Aureliano.

Depois tivemos um retrocesso com a gestão desastrosa e a cassação de Fernando Collor e de lá para cá chegamos em 2024.

Com nossa democracia sempre agredida por golpes , negociatas e retrocessos.

Mas ainda viva e sem abandono de esperançar e deixar de sonhar por um mundo mais justo e igualitário, o primado principal que se segue à liberdade.

Artigos Relacionados

Manifesto Paraíso Brasil

Paraíso Brasil é movimento coletivo, vivencial e de conhecimento. Se refere à experiência de cada pessoa no Brasil, e à coletividade desta experiência. A...

Comentários Sobre Conjuntura Internacional, por Marcelo Zero

Essequibo i. Dizer que a questão de Essequibo é uma agenda de Maduro ou do chavismo seria a mesma coisa que afirmar que a questão...

Preparando o Estado para Soberania – Brasil no Mundo

O mundo do fim da história de Francis Fukuyama já passou. Antes se fora o mundo bipolar da guerra fria. O século XXI encontra...

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Em Alta!

Colunistas