O ressentimento é uma mercadoria das mais baratas e abundantes. É fácil de produzir, dispensa um refinamento complexo e cresce no terreno fértil das frustrações coletivas, comparações e desinformacões. Uma mercadoria que tem como principal insumo o ego ferido e é processado com muita facilidade pela indústria cultural e política e com cada vez mais emprego de automação.
Ele é trocado nas relações humanas como um contrapeso silencioso, alimenta medidas economicamente e socialmente autossabotadoras e se disfarça de justiça, quando na verdade é um desejo de revanche, pertencimento e até de proteção, ainda que apenas na camada psicológica.
O problema é que, diferente de outras mercadorias, o ressentimento nunca satisfaz quem o adquire — apenas corrói o comprador e mantém o vendedor na ilusão do poder, sendo que este é sempre posto a prova a cada quatros anos, no caso dos regimes democráticos.
Por tal razão, essa mercadoria, embora abundante, tem sua validade constantemente colocada em cheque. O ressentimento, enquanto o motor que impulsiona, ainda que negativamente, tanto as indivíduos quanto os movimentos coletivos, se entrelaça com mais destaque nas dinâmicas políticas e econômicas de nações grandes e complexas. E uma delas, em especial, chama muito a nossa atenção.
E, economicamente falado, é crível que as futuras flutuações desta nação tão grande e complexa desafie fortemente a legitimidade dos últimos decretos presidenciais carregados até aqui de ressentimento, sobretudo os voltados para o atendimento de parte da sua classe operária e branca. Nesse reme-reme as contradições irão bater, o contra golpe externo inevitavelmente ocorrerá, e uma nação menos carregada pelo protecionismo econômico e mais aberta para os direitos sociais irá renascer aos poucos na boca do próximo democrata.
Os silenciosos ressentidos vão continuar existindo independente das futuras flutuações econômicas? Sim. Mas não são estes que tanto importam, se estivermos pensando no longo prazo. O que importa é uma nação que vem crescendo sobre a companhia do ódio, da ignorância e da desinformação. Uma nação que historicamente não sabe lidar muito bem com o fato de que o seu estado psicológico “unificado” é a soma de um caldo cultural muito complexo e que ao mesmo tempo foi quem construiu essa nação com suor e sangue. E depois que a casa foi construída o ‘patrão’ quis botar o construtor e o dono do terreno para fora.
E nem precisamos falar de qual nação estamos tanto falando.
Pendo que o autor foi feliz ao abordar o ressentimento como um combustível político que alimenta o extremismo e o ódio. Eu ainda não visitei o exterior mas eu tenho uma afilhada que mora nos Estados Unidos ha mais de 15 anos e ela mesmo me diz que tem muito medo do que está acontecendo por lá. Que Deus abençoe os nossos governantes e impeça os maus de fazerem as maldades que tanto planejam