Foto Agência Brasil
Mais de uma vez o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista, nesta quarta-feira, à TV 247, disse que a inflação brasileira não é de demanda, razão pela qual não vale argumentar que o que ocorre é excesso de consumo, que justificaria arrocho salarial para reduzi-la, como defendem os neoliberais, adeptos do teto de gastos sociais, cuja dinamização seria a garantia da reeleição do presidente Lula em 2026.
Desenvolvimentista de carteirinha, ministro mais longevo da República, Mantega teoriza, como os heterodoxos, que as pressões inflacionárias atuais são produto de aumento de custos de produção, principalmente, derivados de petróleo e juros, repassados aos preços, desencadeando altas gerais, principalmente, dos alimentos.
Na área do petróleo, vigora a política imperialista neoliberal do PPI – Paridade de Preços de Importação – cuja essência é a de dolarizar os preços dos derivados.
A Petrobrás, desde os governos Temer e Bolsonaro, passou a priorizar as exportações de petróleo cru, isentas de pagamento de ICMS, conforme determina a Lei Kandir, para os produtos primários e semielaborados.
Em contrapartida, depois das privatizações das principais refinarias, o país importa produtos refinados, cotados em dólar, configurando dolarização dos preços.
A população ganha em real, mas gasta em dólar.
Acumula deterioração nas relações de troca, com o repasse do preço dolarizado ao custo de vida.
A promessa de abrasileiramento dos preços não foi inteiramente cumprida.
A pancada no bolso do consumidor segue sendo violenta.
O governo Lula tem lutado contra o Conselho de Administração da Petrobrás, dominado pelos grandes fundos de investimentos, associados às petroleiras internacionais, que forçam a prioridade maior: distribuir lucro e dividendos aos acionistas, que não são taxados pelo imposto de renda, enquanto os investimentos são desproporcionalmente defasados.
A empresa já informa que vem aí mais um reajuste nos preços do diesel, justamente, no momento em que o BC se reúne para elevar as taxas de juros.
Ademais, como o câmbio passou a ser manipulado pelo mercado devido à valorização artificial do dólar, o custo externo do produto dolarizado impõe sacrifício adicional ao consumidor.
O dólar elevado, por sua vez, transformado em inflação, força o BC Independente a puxar a taxa de juro, em jogada combinada com o câmbio, na formação futura de preços altos trazidos a valor presente, nas cogitações das pesquisas Focus, realizada, exclusivamente, com agentes do mercado financeiro, semanalmente.
São essas cogitações que sinalizam, desde final do ano passado, aumento de juros na casa de 1 ponto percentual durante as duas últimas reuniões do Copom, contando com a de hoje.
Antecipadamente, a Focus – e a direção do BC que age conforme ela determina – já sinaliza duas outras altas de 1 ponto percentual cada para as duas próximas reuniões do Conselho de Política Monetária.
Cartas devidamente marcadas, a partir do julgamento do mercado de que o governo teima em elevar gastos sociais, depois que foram reduzidos mediante grande tensão política no final do ano passado.
Desse modo, os dos preços fundamentais que estão impulsionando a inflação são os custos advindos dos juros e do petróleo.
DESACELERAÇÃO ECONÔMICA À VISTA
Guido Mantega previu desaceleração econômica nesse início de ano, sabendo que o mercado especulativo leva em consideração que no primeiro semestre, a taxa de juro deverá alcançar 15%, aproximadamente.
Descontada a inflação de perto de 5%, tem-se inflação real de 10%.
Quem vai investir com uma taxa de juro nessas alturas?
Não é à toa que a Confederação Nacional da Indústria(CNI) diz que as expectativas – a economia vive de expectativas, como disse Keynes – estarão piores a partir dessa primeira reunião do Copom de 2025.
Se vem por aí, mais duas pancadas de 1 ponto percentual cada, certamente, os investidores fugirão para as aplicações financeiras, onde ganharão mais, já que o setor produtivo, diante das incertezas, sequer sonha em alcançar lucro real com juros Selic na casa dos previsíveis 15% neste primeiro semestre.
Tudo ficará pior, sabendo que a cada ponto percentual de alta dos juros, a dívida pública aumenta de R$ 80 bilhões, alargando, consequentemente, a desesperança do setor produtivo.
Se a dívida pública cresce nessa proporção, a relação dela com o PIB, deteriora-se e, consequentemente, justifica, aos olhos do mercado, mais juros.
Desse modo, a inflação de custo, se assim fosse considerada pelos neoliberais do Banco Central, requereria redução dos dois fatores principais que puxam a inflação: juros e petróleo, ambos impulsionados pelo câmbio, preço sobre o qual o governo não tem controle algum.
Nesse cenário, portanto, o panorama político para o presidente Lula fica sombrio, se ele pretende, mesmo, disputar a reeleição em 2026.
A oposição de direita já esfrega as mãos de satisfação, sabendo que o titular do Planalto está na armadilha neoliberal da dívida, bombeada pela especulação com petróleo e juros.