Foto Trump-Instagram
A cobrança de 25% sobre o aço brasileiro exportado para os Estados Unidos reduzirá a entrada de dólar no Brasil.
Com menos dólares, a moeda brasileira vai se desvalorizar, com redução das vendas externas.
O Brasil precisará encontrar outro mercado externo para vender o excedente interno, já que o oposto é paralisação da produção e aumento do desemprego com consequente aumento de preços para manter a taxa de lucro do capital excedente.
Como a guerra comercial é global e todo mundo briga contra todo o mundo, num jogo de perde-perde, o Brasil fica entre duas alternativas:
1 – ou reduzir a produção e jogar a economia na recessão, pois os empresários não produzirão com o juro interno caro, o mais alto do mundo, verdadeiramente, extorsivo ou;
2 – reduzir os juros para dinamizar o consumo interno, promovendo produção, para dinamizar ambos, consumo e produção.
MUDANÇA DA POLÍTICA MONETÁRIA NEOLIBERAL
Trump, com seu protecionismo indiscriminado, obriga mudança na política monetária restritiva brasileira, neoliberal, subordinada, atualmente, às regras draconianas, determinadas pelo mercado financeiro especulativo, que orienta o austericídio monetário conduzido pelo BC.
A forca neoliberal, portanto, força cortes de gastos sociais, em nome de ajuste fiscal para combater a inflação, de modo a atender os interesses da Faria Lima.
Desse modo, quem pode dar um cavalo de pau na economia brasileira não é Lula, nem a esquerda, que não tem força no Congresso, para enfrentar a direita e ultradireita, empenhadas em barrar a governabilidade desenvolvimentista e destruir eleitoralmente o presidente Lula e o PT e aliados.
Quem pode fazer isso é, justamente, a política protecionista imperialista trumpista, que objetiva taxar importações de bens industriais das economias capitalistas periféricas, como a brasileira e latino-americana, bem como das economias desenvolvidas, como a europeia e chinesa, para evitar desaceleração do capitalismo produtivo americano.
O excesso de oferta de aço laminado e placas fabricados no Brasil tem abastecido os Estados Unidos em cerca de 3, 4 milhões de toneladas, do total de 5,6 milhões que importam, gerando corrente de comércio próxima de 7 bilhões de dólares, favorecendo superávit de 3 bilhões de dólares aos americanos, segundo Instituto do Aço, em nota distribuída à imprensa.
Desde 2018, vigora entre Brasil e Estados Unidos acordo de cotas para exportação do produto, do qual dependem as siderúrgicas americanas, o que faz pressupor necessidade da continuidade do comércio bilateral.
HORA E VEZ DO MERCADO INTERNO
Com sobretaxa de 25%, o preço do produto fica mais barato, reduzindo a taxa de lucro das empresas, que estarão diante da alternativa de alocar o excedente para o mercado interno ou reduzir a produção.
Dificilmente, porém, esse excedente se realizará no consumo interno, se continuar predominando a atual política econômica restritiva de crédito interno que inviabiliza comércio e industrialização.
Somente com redução drástica da oferta de crédito, para elevar o consumo e produção, haveria destruição dos excedentes não exportados.
A redução de dólares em circulação desvaloriza o real.
Dólar mais barato favorece exportações, mas a política protecionista de Trump vira empecilho.
Teoricamente, o movimento protecionista favorece a desinflação, queda dos preços.
Porém, essa vantagem, para se materializar, exige redução do custo do dinheiro mantido alto pela política neoliberal em curso.
Como reduzi-lo, no curto prazo, se a estratégia trumpista produz desarticulação interna, principalmente, se os juros continuam altos?
O presidente Lula seria obrigado a mudar o regime de metas de inflação, convocando o Conselho Monetário Nacional para essa tarefa.
A alteração da meta permitirá ao governo elevar os gastos públicos para dinamizar, por meio deles, a demanda interna, puxando produção, consumo, valorização dos salários, aumento da arrecadação, enfim, o pleno silogismo capitalista em sua dinâmica dialética.
Os neoliberais, no entanto, como informa a mídia corporativa, querem que o governo faça o jogo da conciliação com Trump, buscando estratégia diplomática, para alcançar os termos de negociação compensatória, tentativas de similaridades etc.
O fato é que o novo contexto aberto pela política imperialista americana para a periferia capitalista que vive de exportação para os Estados Unidos está diante do jogo da dualidade que toda crise abre, produzindo, também, oportunidades a serem exploradas, dependentes, sobretudo, de vontade política nacionalista
ACORDO POLÍTICO NACIONAL
O setor produtivo, como destaca a CNI, por exemplo, diante do perigo de recessão, que o jogo da acomodação com o império pode produzir, defende a opção do governo de partir para amplo diálogo nacional.
É o ponto de vista oposto ao do setor financeiro, que, com sua prática neoliberal, enterra a economia no jogo do rentismo em que somente ele ganha e o resto se lasca.
Seria ou não a hora do presidente Lula chamar ao diálogo nacional as forças produtivas, para enfrentar, politicamente, o perigo da recessão que o protecionismo trumpista produz, desacelerando oferta de emprego e crescimento econômico, que já está estruturalmente insuficiente?
Capital e trabalho, ou seja, setor produtivo, demandam unidade política estratégica para enfrentar o rentismo, o capital financeiro especulativo, cujos interesses, se forem mantidos ou ampliados no cenário do protecionismo trumpista, levam o país ao abismo.
É a hora da economia política, que abre caminhos largos, contra a política econômica de austeridade, que os estreita e lança o país na instabilidade social.