No dia 22 de agosto de 2023, diante de uma generalizada expectativa de prisão para Jair Bolsonaro, publiquei aqui no Facebook a postagem que segue abaixo.
Os argumentos apresentados então por mim me parecem seguir valendo…
Ao que foi dito há ano e meio acrescentaria uma consideração acerca da tática que a extrema-direita, me parece, adotará nos próximos meses.
Por ter um projeto de poder de tipo revolucionário, a extrema-direita sabe que ele só terá êxito em meio a uma generalizada crise institucional.
Então, por decorrência, cabe promovê-la a todo custo.
Ciente disso, a extrema-direita empenhará todos os seus esforços para fazer aprovar uma lei de anistia para todos os envolvidos nas tramas golpistas e nos ataques às sedes dos três poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro 2023, certos de que, se aprovada, essa lei será derrubada pelo STF.
Criar-se-ia, assim, uma crise entre o Legislativo e o Judiciário que, se bem instrumentalizada pela extrema-direita, certamente colocará a luta política entre o “sistema” e os “revolucionários” num outro patamar.
Configurado esse cenário, esse seria o melhor dos mundos para a extrema-direita levar adiante o seu projeto de poder.
A condenação e a prisão de Bolsonaro e de outros próceres da organização criminosa (PGR dixit) tem tudo para não ser o fim e sim o início de uma radicalização política, liderada pela extrema-direita, sem paralelo neste período histórico inaugurado pela promulgação da Constituição de 1988.
Bolsonaro na cadeia pode se transformar no principal ativo político daqueles que estão tirando proveito, pela direita, da decrepitude do nosso sistema político e da fragilidade da nossa esquerda.
E pensar que muitos do campo progressista já estão colocando o espumante na geladeira para comemorar o que pode ser uma tremenda vitória de Pirro.
A força da extrema-direita não vem de Bolsonaro, vem de uma crise profunda que não é só do nosso sistema político decrépito.
Caso a extrema-direita consiga emplacar o seu projeto de poder, em meio a um previsível banho de sangue, isso não resolverá a crise de hegemonia que é a principal característica da atual conjuntura política não só brasileira.
Pelo contrário, a “revolução” da extrema-direita só irá, estou certo, agravar a crise de hegemonia!
Essa, a crise de hegemonia, só será suplantada mediante a afirmação de um programa nacional, popular e democrático – sustentado por uma “ontologia latino-americana” que resgate as imensas reservas de sentido contidas nas nossas diversas tradições culturais –, que descortine um novo horizonte de existência para a imensa maioria do povo brasileiro.
BOLSONARO PRESO, E DEPOIS?
22 de agosto de 2023
Cresce a percepção de que Bolsonaro, mais cedo ou mais tarde, acabará na cadeia.
Lula, em meio a uma cerradíssima campanha de desconstrução de imagem levada a cabo, em uníssono, pela grande mídia, ficou preso por 580 dias.
Uma vez solto, teve as sentenças condenatórias anuladas, disputou e ganhou as eleições presidenciais.
Hoje Lula cumpre o seu terceiro mandato como presidente da República.
Caso venha a ser preso, Bolsonaro pode repetir Lula na “volta por cima”?
Tal como Lula, Bolsonaro tem a sua base social.
Tal como na de Lula, no interior da base social bolsonarista há um “núcleo duro” resiliente e aguerrido, que certamente sobreviverá à prisão do líder.
Diferentemente do lulismo – uma força política meramente eleitoral –, há no bolsonarismo um projeto de poder, de tipo revolucionário.
Lula e os seus, bem acomodados no atual estado de coisas, têm projeto de governo; Bolsonaro e os seus, mal acomodados no atual estado de coisas, têm projeto de poder, de tipo revolucionário por almejar a refundação radical da República.
A república que a extrema-direita almeja colocar no lugar da atual é de tipo totalitária e conservadora.
O projeto de poder de Bolsonaro está em consonância com os projetos de poder da extrema-direita mundo afora, e, entre nós, me parece, veio pra ficar.
Por ser um projeto de poder de tipo revolucionário, esse, e a sobrevida de Bolsonaro, dependem de uma crise profunda e continuada no atual regime político.
Lula foi “anistiado” pelo “sistema” porque o “sistema” reconheceu, numa verdadeira “autocrítica na prática”, que só em torno de Lula o “sistema” poderia ser recomposto de modo a expulsar o intruso e sua horda de bárbaros do centro da cena política.
A recomposição do “sistema” é econômica e politicamente sustentável?
O projeto de poder da extrema-direita e a sobrevida de Bolsonaro, isto é, a sua existência política pós-cadeia, dependem da resposta à pergunta acima…
E a esquerda?
Por não ter programa faz tempo, essa está mais por fora que umbigo de vedete…