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Lauro Veiga Filho no GGN: Os Preços dos Ovos e Histeria Inflacionária

País teve muitas crises e todas foram deixadas para trás, devidamente superadas, porque nunca foram crises reais ou ameaças concretas. Por Lauro Veiga Filho

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O País já viveu a “crise” do chuchu, a “crise” do alho, a “crise” do pãozinho, a “crise” do leite, da carne, da batata e até mesmo uma “crise” dos morangos, para satisfazer gostos mais sofisticados. Todas foram devidamente “superadas” e deixadas para trás, esquecidas porque, de fato, nunca foram crises reais, ameaças concretas à estabilidade dos preços.

Na verdade, as altas de preços de produtos muito específicos serviram como pretexto para ataques aos governos de plantão em cada um daqueles momentos e foram utilizadas de forma a fomentar incertezas com propósitos igualmente políticos.

A nova “crise” do gênero, agora atribuída à disparada dos preços dos ovos, ganhou as páginas de economia e manchetes na grande mídia corporativa, descompromissada com os interesses maiores do País, ao ponto de “analistas” passarem a sugerir que o “povo não teria nem picanha, nem ovos”. O comportamento daqueles preços foi suficiente para despertar nova onda de histeria inflacionária, como se a estabilidade dos preços em geral estivesse mais uma vez sob risco, ameaçada pela dúzia de ovos.
O foco altista tende a se dissipar ao longo do tempo, a exemplo do que ocorreu com as carnes, que chegaram a aumentar 8,02% em novembro, quando responderam sozinhas por 52% do IPCA cheio. Em dezembro e janeiro, aquela alta cedeu para 5,26% e para 0,36% respectivamente. Os preços do boi gordo, nos dados do Cepea, haviam saltado 12,49% de outubro para novembro e caíram 5,07% entre este último mês e a média acumulada nos 20 primeiros dias de fevereiro deste ano, o que permite antever uma tendência baixista ou pelo menos de elevações mais suaves para os preços cobrados dos consumidores nas próximas aferições.

 

Alta sazonal

Os preços médios dos ovos registrados diariamente pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, nos principais centros atacadistas do País, de fato, subiram de forma expressiva ao longo de fevereiro. Em grande medida, no entanto, a alta foi gerada por fatores conjunturais e outros sazonais, que tendem a se dissipar ao longo do tempo, como havia ocorrido no caso dos preços das carnes.

 

Entre outros fatores de pressão, a sazonalidade do período também parece ter influenciado na alta. No ano passado, o Cepea havia identificado uma elevação média entre 21,4% e 21,5% para os preços das caixas de ovos brancos e vermelhos, naquela mesma ordem, entre o final de janeiro e 20 de fevereiro. No encerramento de março, a alta havia refluído para uma variação de 0,59% e de 2,1%, com os preços caindo quase 12% e em torno de 8,7% ao final de abril para as caixas de ovos brancos e vermelhos. Nitidamente, o salto observado neste ano teve maior intensidade, o que pode ser explicado por fatores conjunturais e igualmente passageiros.

Oferta e demanda

De acordo com Claudia Scarpelin, pesquisadora de ovos do Cepea, em artigo publicado na sexta, 21, a tendência de elevação dos preços dos ovos teve início na segunda metade de janeiro e “se intensificou ao longo de fevereiro”, entre outros motivos como reflexo de uma redução temporária da oferta de ovos no mercado doméstico, aliada “ao aumento gradual da demanda”. Na sua análise, o descarte de aves poedeiras mais velhas desde a segunda quinzena do mês passado, reduziu “a disponibilidade de ovos”, no mesmo momento em que a demanda começou “a se normalizar gradualmente, com o aumento do consumo da população e com o retorno das aulas escolares”.

Num diagnóstico semelhante, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) argumenta adicionalmente que os preços em baixa por um período alongado contribuíram igualmente para aquecer a demanda, numa época em que o consumo naturalmente já seria maior como decorrência da “substituição de consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos”.

E o clima

Nos dados do Cepea, entre fevereiro e agosto do ano passado, os preços médios dos ovos no mercado atacadista havia sofrido baixas entre 26% e 27%. Scarpelin acrescenta que a queda persistiu até setembro do ano passado, numa retração acumulada desde fevereiro de quase 30%, passando a subir a partir de outubro. Num período mais recente, retoma a ABPA, as pressões altistas foram intensificadas ainda pela alta de 30% nos preços do milho, encarecendo os custos da ração, e por um salto superior a 100% nos custos de insumos para confecção de embalagens para os ovos.

“Ao mesmo tempo, as temperaturas em níveis históricos têm impacto direto na produtividade das aves, com reflexos na oferta de produtos”, acrescenta a associação. A expectativa, prossegue a ABPA, é de uma normalização do mercado de ovos até o final do período da quaresma, em abril, “com o restabelecimento dos patamares de consumo das diversas proteínas”.

Exportações recuam

Apontadas como outro fator de pressão sobre a oferta doméstica, as exportações de ovos e de gema de ovo, somadas, experimentaram estabilidade virtual em janeiro, nos dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), até com ligeiro recuo. Os embarques saíram de 4,301 mil toneladas para 4,285 mil toneladas, significando modesta baixa de 0,37%. A ABPA lembra ainda que as exportações de ovos “têm efeito praticamente nulo sobre a oferta interna, “já que representam menos de 1% das 59 bilhões de unidades que deverão ser produzidas este ano, o que deve gerar um consumo per capita de 272 unidades anuais – mais de 40 unidades acima da média mundial de consumo”.

Ver original em: https://jornalggn.com.br/economia/os-precos-dos-ovos-e-histeria-inflacionaria-por-lauro-veiga-filho/

Lauro Veiga Filho – Jornalista, foi secretário de redação do Diário Comércio & Indústria, editor de economia da Visão, repórter da Folha de S.Paulo em Brasília, chefiou o escritório da Gazeta Mercantil em Goiânia e colabora com o jornal Valor Econômico.

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