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Protecionismo Trumpista Favorece Desdolarização e Avanço dos BRICS

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Foto Agência Brasil

O protecionismo que se transforma na principal proposta de política econômica dos Estados Unidos representa maior ameaça ao dólar.

Os países que exportam para os Estados Unidos, se forem impedidos de fazê-lo por conta das tarifas protecionistas, não terão dinheiro para pagar suas contas, o que significa perigo de calote global.

Os bancos americanos que emprestam dinheiro aos países exportadores, se levarem calotes, entram em colapso.

Poderia repetir o fenômeno de 2008, quando o sistema bancário, em crise, teve que ser socorrido às pressas pelo Banco Central americano, assumindo dívida dos bancos para não falirem, expandindo, sem limites, a dívida pública americana, agora coveira do próprio dólar, acelerando perigo de desdolarização.

Além disso, ao aumentar a inflação nos Estados Unidos, por conta das importações mais caras, o protecionismo trumpista obriga o governo a desvalorizar o dólar para exportar mais em relação às importações.

Correm para produzir superávit comercial, sob pena de entrar em déficit em contas correntes no balanço de pagamentos, gerando crise cambial.

A previsão de desvalorização do dólar agrava ainda mais a situação das moedas concorrentes, que tendem também a se desvalorizar – é o salve-se quem puder, como destaca o historiador marxista americano Michael Hudson.

Do contrário, como obterão dólares para quitar seus empréstimos nos bancos internacionais, potencializando crise financeira?

CORRIDA À DESVALORIZAÇÃO FORTALECE BRICS

Para fugir desse perigo, a propensão geral, portanto, seria a de todo mundo desvalorizar sua moeda para enfrentar a desvalorização tendencial do dólar impulsionada pelo protecionismo.

Todos perdem – jogo do perde-perde, como alertou Xi Jinping, líder chinês – diante das medidas protecionistas trumpistas.

Tal situação levaria os concorrentes, impossibilitados de exportarem para adquirir dólar, a fim de pagar seus compromissos em dólar, a abandonarem o próprio dólar.

Abre-se, com isso, chances de avançar a proposta dos BRICS de promover comércio internacional mediante trocas em moeda locais.

Essa tendência tende a se aprofundar e se transformar no principal discurso do presidente Lula, que vai presidir o BRICS a partir do segundo semestre de 2025.

O Itamaraty já mudou seu posicionamento em relação à política econômica americana por entender que caem as receitas em dólar do Brasil e demais países exportadores para os Estados Unidos, diante da punição protecionista de Donald Trump.

Todos entrariam em déficit em contas correntes do balanço de pagamento, abrindo-se crises cambiais desestabilizadoras.

Nesse sentido, portanto, quem está potencializando a desdolarização não são os países exportadores, mas o próprio governo Trump que empurra-os para situação em que ficam em sinuca de bico diante do protecionismo.

REVERSÃO DO IMPERIALISMO MONETÁRIO

Com Trump, está mudando a economia política imperialista americana, inaugurada, no pós-guerra, desde Bretton Woods, em 1944, quando o dólar se transformou em moeda hegemônica, fator de referência nas relações de trocas globais.

Como conquistaram o poder de emitir a moeda hegemônica, os Estados Unidos adquiriram o privilégio exorbitante de pagar suas importações com o superávit financeiro dado pelo seu próprio poder emissor.

Os déficits comerciais eram cobertos por superávit financeiro, que dispensava a necessidade de a economia americana realizar superávit comercial para pagar suas contas, por meio de exportações, que, naturalmente, exigiriam que o país trabalhasse com moeda desvalorizada para enfrentar os concorrentes internacionais.

O superávit financeiro, assegurado pela emissão monetária imperialista, garantia o dólar forte, com o qual se compra barato no exterior, para garantir, internamente inflação e juros baixos nos Estados Unidos.

A mamata está chegando ao fim.

Essa vantagem garantida pelo dólar hegemônico cuidou de escalar a indústria armamentista, para a dominação internacional pelos Estados Unidos, enquanto ficou mais em conta exportar empresas para o resto do mundo, importando delas produtos mais baratos fabricados no exterior.

Quem mais se beneficiou dessa estratégia foi a China, que acabou sobrepujando os Estados Unidos no comércio internacional, quanto mais se avançava a desindustrialização americana.

A acumulação de déficits comerciais, bem como gastos com indústria bélica e espacial, escalou a dívida pública americana em quase 40 trilhões de dólares.

Por sua vez, o mercado especulativo alavancou dólares derivativos quase sete vezes mais o valor da dívida, escalando uma montanha de dólares, razão maior da especulação financeira global.

Essencialmente, portanto, o superávit financeiro imperialista é o parteiro da financeirização econômica mundial.

PROTECIONISMO X FINANCEIRIZAÇÃO

A perda da competitividade americana para a China que Trump quer reverter por meio do protecionismo, que exige desvalorização do dólar, coloca em xeque a própria financeirização.

A virada de jogo impulsionada por Trump requer, necessariamente, a desvalorização do dólar, para vencer os concorrentes e tentar recuperar a industrialização perdida pela prática do superávit financeiro, que exportou as indústrias americanas aos países que viraram exportadores para os Estados Unidos.

Dessa forma, se a economia política imperialista sai do superávit financeiro para pagar déficits comerciais, agora, é preciso gerar superávit comercial, o que exige moeda desvalorizada.

Os concorrentes, diante desse novo cenário, partirão igualmente para a desvalorização ou pela desdolarização em forma de expansão das trocas internacionais por meio das moedas locais.

Esse é o foco que o BRICS, sob a presidência de Lula, perseguirá de agora em diante.

O BRICS, portanto, é o germe da nova divisão internacional do trabalho, virando a página do dólar como moeda hegemônica, brecado por suas próprias contradições.

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