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O discurso do presidente Emmanuel Macron de defesa do rearmamento da Europa, que exigirá gastos de 800 bilhões de euros, segundo dirigentes da União Europeia, somente poderá materializar-se se ela tiver credibilidade junto ao mercado financeiro para aceitar títulos emitidos pelo Banco Central Europeu, amparado em garantias reais.
Quais são as garantias reais da Europa neste momento em que vive crise inflacionária, desindustrialização, desemprego e perda de competitividade especialmente para a China?
O mercado, dominado pela financeirização especulativa, poderia ou não rejeitar os títulos europeus, sem garantia real, levando a comunidade europeia a uma crise financeira aguda?
Até agora, a Europa não teve condições materiais de garantir que os países integrantes da UE reservassem entre 2,5 e 3% do seu orçamento total para sustentar a OTAN, dependendo, visceralmente, da complementaridade de Washington.
A tentativa nesse sentido tem sido protelada, devido às dificuldades econômicas enfrentadas pela Europa, principalmente, depois que os custos econômicos aumentaram substancialmente, quando ela ficou sem o gás e petróleo russos, devido às sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, apoiadas pela UE.
O aumento da inflação, que provocou redução dos salários e da demanda global europeia, afetou, substancialmente, a arrecadação e, consequentemente, prejudicou a industrialização, especialmente, na Alemanha, locomotiva econômica europeia.
Agora, o presidente Donald Trump não apenas exige, para continuar na OTAN, que os europeus aumentem para 5% dos seus orçamentos, para sustentá-la, como está ameaçando abandoná-la.
O pretexto de Trump é o de que a OTAN ficou cara demais para Washington, que cogita suspender desembolsos para continuar bancando-a.
SONHO EUROPEU IRREAL
Restaria aos europeus adotar a estratégia que os americanos adotaram, como vencedores da segunda guerra mundial, isto é, garantir aumento de gastos em produção bélica e espacial, a partir da emissão de dólar, moeda soberana e hegemônica, desde então, referência global nas relações de troca globais.
Os europeus, no cenário atual, em circunstâncias totalmente opostas às que vigoraram para os americanos, vencedores da guerra, ao lado da União Soviética, não estão em condições de bancar guerra contra a Rússia por duas razões:
1 – não têm poder de emissão de moeda soberana, na escala em que fizeram os americanos, com o dólar, para sustentar superávit financeiro para bancar déficits comerciais, de modo a garantir inflação e juros baixos na Europa, como aconteceu com os Estados Unidos, e;
2 – a indústria europeia, diante de moeda pretensamente forte, para importar barato, perde, como aconteceu com os Estados Unidos, competitividade, em especial, para a China; os chineses trabalham com moeda desvalorizada, graças ao modelo monetário heterodoxo, ancorado no Estado e em bancos públicos, que jogam com taxas de juros baixas para derrotar os concorrentes.
Portanto, a Europa, para se rearmar, gastando 800 bilhões de euros, mediante emissão monetária, enfrentaria a concorrência dupla, em doses mais fortes, tanto dos Estados Unidos como da China:
1 – Dos Estados Unidos, porque Trump passa a trabalhar com medidas protecionistas, que tornam importações europeias mais caras, salvo se os europeus desvalorizarem, ainda mais, o euro, entrando em contradições com o propósito do rearmamento da Europa, que exige moeda forte, e;
2 – Da China, porque haveria dificuldade extrema da Europa, com moeda valorizada, como tentativa de rearmar-se, de suportar concorrência das mercadorias chinesas, que vencem todo mundo, inclusive e especialmente, os Estados Unidos.
FANTASMAGORIA FARSANTE EUROPEIA
O modelo imperialista de economia política adotado pelo império americano, a partir de Bretton Woods, 1944, quando o dólar se ergue como moeda hegemônicas, para realizar senhoriagem global, não está ao alcance do euro, no momento em que a Europa se encontra, econômica e financeiramente fragilizada, mergulhada em inflação e desemprego, por ter perdido a vantagem dos custos baixos, permitido pela importação barata de energia e gás da Rússia.
Portanto, o discurso falso machista de Macron de tentar colocar de pé um imperialismo europeu para acabar com a Rússia, como resposta à derrota da OTAN, na Ucrânia, carece de substância concreta.
Os europeus, neste instante, não têm condições de repetir a ação do mago das finanças Luís 14, Colbert, de que a dívida pública é o nervo vital da guerra; se partir para emissão monetária com propósito de fazer dívida capaz de impulsionar armamentismo europeu, pode, carente de credibilidade no mercado financeiro, sofrer ataque especulativo.
A história se repetiria em forma de farsa.
Os europeus, sem bala na agulha, abandonados por Donald Trump, que se afasta da OTAN e se aproxima da Rússia, predisposto, inclusive, a suspender as sanções americanas aos russos, transformam-se, dominados pelo ódio fascista, em mera figuração fantasmagórica.