A possível reaproximação entre Donald Trump e Vladimir Putin pode reconfigurar profundamente o cenário geopolítico e econômico global:
- Trump está tentando retomar uma política mais pragmática em relação à Rússia, buscando alianças estratégicas em detrimento das tensões provocadas pela guerra na Ucrânia;
- O que pode afetar não apenas o equilíbrio de forças entre EUA, Rússia e China, mas também os países emergentes, como o Brasil, que precisarão recalcular suas estratégias diplomáticas e econômicas.
Diante desse novo contexto, ainda passível de confirmação, o Brasil vai enfrentar desafios, mas também pode aproveitar oportunidades.
A relação entre EUA e Rússia, que tem sido marcada por sanções econômicas, disputas militares e influência política sobre outros países, pode mudar com essa(?) aproximação entre Trump e Putin – e essa dinâmica pode levar a um enfraquecimento das sanções contra a Rússia:
- Exercendo impacto direto sobre o comércio global de commodities, incluindo petróleo, gás e fertilizantes;
- E estabelecendo um novo equilíbrio no tabuleiro geopolítico, no qual os EUA podem redirecionar suas tensões contra a China em vez de focar na Rússia, além de reavaliar sua influência na Europa, especialmente na OTAN – desestabilizando alianças tradicionais e fortalecendo países emergentes.
Dessa forma, calibrando sua estratégia externa para manter boas relações com todos os lados, sem se tornar refém de um único bloco de poder:
- O país pode explorar sua posição privilegiada como parceiro comercial tanto dos Estados Unidos quanto da China e também da União Europeia;
- Além de tirar proveito da sua participação em blocos estratégicos como o BRICS e o G20.
Para isso, precisará definir um posicionamento claro, sem abrir mão de sua autonomia diplomática e de suas prioridades econômicas.
Uma referência histórica importante para o Brasil nesse momento é a estratégia adotada por Getúlio Vargas durante a Segunda Guerra Mundial, quando, no início do conflito, manteve uma posição de neutralidade estratégica, negociando tanto com os Aliados quanto com o Eixo para obter vantagens econômicas e estruturais para o Brasil:
- Postura que permitiu ao país impulsionar sua industrialização, garantir investimentos externos para fortalecer sua infraestrutura;
- E, apenas em um momento posterior, com os benefícios já assegurados e o resultado esperado da guerra delineado, declarando alinhamento formal aos Aliados (lado vencedor) – movimentação ainda mais benéfica para Brasil.
Esse modelo de pragmatismo pode servir de inspiração para a atual conjuntura, garantindo que o Brasil tire proveito da competição entre as potências sem um alinhamento prematuro e automático, diante dessa nova dinâmica nas relações entre as potências, que pode trazer oportunidades para o Brasil, especialmente em setores estratégicos, tais como:
- Agronegócio – Se as sanções contra a Rússia forem flexibilizadas, o Brasil pode se beneficiar de insumos agrícolas mais baratos, como fertilizantes – no entanto, a concorrência no mercado internacional de grãos pode aumentar;
- Energia – A possível reconfiguração do mercado de petróleo e gás pode abrir espaços para a Petrobrás e para investimentos em energias renováveis;
- Comércio e Indústria – Com um cenário global mais fragmentado, países podem buscar diversificação de fornecedores, o que abre oportunidades para a exportação de produtos brasileiros.
Entretanto, os riscos também são significativos:
- A intensificação da disputa EUA-China pode pressionar o Brasil a escolher lados, o que afetaria sua balança comercial;
- A possível redução da influência dos EUA na América Latina pode levar a um aumento da presença de outros atores, como China e Rússia, o que pode gerar tensões diplomáticas e desafios para o Brasil, ainda mais, pelo fato do Brasil ser membro fundador do BRICS.
Por outro lado, com um possível realinhamento entre EUA e Rússia, o Brasil pode se tornar um elo estratégico no BRICS, fortalecendo sua posição como ator relevante na economia global, a partir de uma política externa independente e pragmática:
- Fortalecendo as relações Sul-Sul, aumentando o comércio e os investimentos com a Ásia, a África e a América Latina;
- Preconizando a defesa do multilateralismo, mas usando, também, a sua presença no G20 para impulsionar acordos que favoreçam os países emergentes, dos quais pode se beneficiar.
A liderança brasileira pode ser determinante na redefinição das regras econômicas globais, mas isso dependerá da capacidade do governo e do setor produtivo de se posicionarem estrategicamente:
- Adotando uma diplomacia equilibrada;
- E fortalecendo sua competitividade econômica e diversificação de seus parceiros comerciais.
Portanto, se o Brasil conseguir atuar com inteligência e pragmatismo nesse novo cenário, poderá consolidar sua posição como uma potência emergente relevante, sem ficar refém dos interesses de outras nações.
O momento exige visão estratégica e ação coordenada entre governo, setor produtivo e diplomacia. Enfim, fortalecer o Estado para retomar a soberania econômica e construir o destino do Brasil sem tutelas externas.
No novo jogo de forças globais, é possível, sim, aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios com perspicácia, garantindo as vantagens que o Brasil precisa para alavancar sua economia e se consolidar entre os grandes no tabuleiro geopolítico e a imbricada configuração da economia mundial!