Os que me acompanham sabem que eu fiz campanha para Ciro em 2018, por considerá-lo o único político de ponta com coragem e vontade política de enfrentar o rentismo, que sufoca a economia e a política brasileiras há décadas.
Participei da campanha de Ciro em 2018 por considerar o rentismo o nosso problema mais importante, por considerar também que precisávamos superar a ilusão de que o jogo de ganha-ganha alimentada por Lula não tinha (e não tem) como se repetir.
Via então em Ciro uma possibilidade concreta de se alterar – o que para mim era e continua sendo uma exigência da hora – a hegemonia política no campo progressista, deslocando-a da direção de centro-direita imposta por Lula e pelo petismo para uma direção de centro-esquerda, orientada por um programa reformista de corte nacional, popular e democrático.
Em 2018, Ciro fez o que pode, numa bela campanha, apesar de toda sanha desconstrutiva que o petismo lançou contra a sua candidatura.
Fato foi, me parece, que o petismo preferiu perder com Haddad a ganhar com Ciro, já que a vitória do “coronel” iria, muito provavelmente, provocar uma alteração importante na direção política do campo progressista, coisa que a máquina burocrática do petismo jamais poderia aceitar.
(Para os interesses da máquina burocrática do petismo, o mal maior não seria a derrota de Haddad nem a vitória de Bolsonaro; isso, com o tempo, sairia na urina. O mal maior seria a vitória de Ciro, e ela tinha que ser evitada a todo custo.)
Fiz a campanha de Ciro em 2018 e não pude voltar a fazê-lo em 2022 devido ao lamentável viés udenista que ela tomou, resultado direto que foi da opção pela natimorta “terceira via”.
Em 2022, Ciro, sob a direção artística do famigerado João Santana, se perdeu… A aposta numa ilusória “terceira via”, supostamente sustentada naquele 1/3 do eleitorado que as pesquisas indicavam que não eram nem lulista nem bolsonarista, foi a mãe de todos os erros cometidos por Ciro na última campanha presidencial.
Desde o início eu denunciei como quimera aquela aposta na “terceira via”. Dizia que o destino de Ciro era, isso sim, disputar a hegemonia do campo progressista com Lula, já que no Brasil desde a promulgação da Constituição de 1988 só há duas vias, a da direita e a do campo progressista.
Dizia que a aposta na ontologicamente impossível “terceira via” iria lançar Ciro no limbo, condenando-a a uma votação pífia. Essas avaliações fizeram recair sobre mim – urdida por ciristas capturados por uma espécie de fanatismo religioso aplicado à política–, uma suspeita que perdura até hoje.
Mas não foram apenas aqueles fanáticos do cirismo que não compreenderam as minhas considerações sobre o importante papel que Ciro Gomes poderia e deveria e desempenhar.
Quase a totalidade dos velhos companheiros da esquerda que estiveram comigo na fundação do PT e da CUT não viam (ou não queriam ver) em Ciro o que eu estava vendo, presos que estavam, a meu juízo, a um lulismo atávico e a considerações supostamente de ordem psicológica contra o “coronel que fugiu para Paris”.
Muitos desses se transformaram em fanáticos do anticirismo…
As razões que me fizeram fazer a campanha de Ciro em 2018 (e de não voltar a fazê-lo em 2022) me parecem que, agora, diante do quadro no qual fica cada vez mais evidente a falta de apetite de Lula e do petismo em enfrentar a rentismo, podem ficar mais claras, senão para os fanáticos do cirismo, pelo menos para muitos daqueles que no campo progressista insistiam (e insistem) na aposta em Lula.
O busílis para mim, portanto, é este: ou mudamos, à esquerda, a direção política do campo progressista, colocando a luta contra o rentismo no centro de um programa reformista, ou não sairemos do buraco que nos encontramos, que é tudo o que a extrema-direita quer.
Ciro Gomes ainda tem futuro?
Para mim ele tem futuro caso compreenda que a luta contra o rentismo passa pela disputa da direção do campo progressista com Lula.
Quer Ciro assumir o seu destino de disputar com Lula a direção do campo progressista, ou ainda alimenta a ilusão de uma “terceira via”?
As pesquisas de opinião parecem indicar que Ciro teria respaldo político importante para pleitear a direção do campo progressista… Mas, o que quer Ciro?