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A recessão que se aproxima decorre da destruição da riqueza fictícia produzida na financeirização econômica global.
O capital fictício garantia renda disponível para a classe média consumir bens e serviços que não se realizam na economia produtiva por falta de consumo devido à sobreacumulação de capital que destrói a taxa de lucro.
A taxa de lucro estava sendo garantida na especulação fictícia.
Sem ela, a renda bombeada especulativa desaba.
Como essa riqueza se evapora, a queda de consumo é inevitável no novo cenário que se tenta construir com o protecionismo, que não passa de nova guerra mundial em expansão, na disputa comercial.
O protecionismo trumpista busca preservar a infraestrutura econômica capitalista nos Estados Unidos que perdera dinamismo diante da concorrência chinesa.
Por isso, Trump, em resposta à Xi Jinping, que subiu as tarifas aos produtos americanos vis a vis aos produtos chineses, dobra a aposta: ameaça ampliar em mais 50% as tarifas sobre os produtos chineses, elevando-as para 84%.
É a guerra.
TODO MUNDO PERDE
A resposta do mercado, nesta segunda-feira, não favorece ninguém: simplesmente destrói a renda financeira que bancava a produção industrial global.
Sem ela, despencam ambas, tanto a renda financeira quanto a produção industrial.
Quem vai produzir para ter mercadorias estocadas, sem taxas de lucro, se o consumo não se realiza mediante especulação financeira que deixa de produzir renda disponível para sustentar o mercado consumidor?
O crash financeiro, por consequência, produz o crash industrial e comercial.
Rola tudo prá baixo.
O resultado é o desemprego que pode aumentar e fazer explodir a crise social nos Estados Unidos, onde o protecionismo tenta evitar com o fortalecimento da indústria americana que dificilmente virá.
Os industriais dos Estados Unidos somente poderiam se fortalecer, se a renda disponível no mercado financeiro continuasse especulativamente, mas o desastre bursátil global, nesta segunda feira negra, demonstra que a desvalorização das ações, ou seja, do capital consumidor da classe média, que sustentaria a recuperação vai, também, de roldão para o buraco.
Trilhões de dólares estão sendo queimados, nesse instante: eles não serão convertidos em consumo.
Os consumidores, com perdas de riqueza, freiam a propensão consumista, e quem produz dará um breque na produção, porque, sem consumidores, é destruída a taxa de lucro.
O capitalismo produtivo, sem consumo, entra em crash geral.
CONTRADIÇÃO CAPITALISTA EXPLOSIVA
Economia nunca foi ciência.
A estratégia protecionista de Trump deixa claro que se trata de disputa de poder econômico: Estados Unidos x China.
Os protecionistas reagiram à globalização que estava e ainda está transferindo renda do setor real da economia para o setor financeiro.
A arma dessa transferência são os juros especulativos.
Mantê-los altos por meio de expectativas construídas a priori pelo mercado especulativo, como faz o pessoal da Faria Lima, de Wall Street etc, transformou-se na especialidade do processo de financeirização global, como forma de criação de riqueza para o consumo.
Os capitais acumulados na financeirização só encontraram forma de multiplicar por meio da especulação.
Deixou de ser possível a multiplicação de capital na economia real, já que ela acelera a queda tendencial da taxa de lucro.
Caso fossem aplicadas as massas de investimentos disponíveis na especulação na produção haveria aumento exponencial da oferta em relação à demanda.
O resultado seria hiper-deflação: queda geral dos preços e destruição da taxa de lucro.
No cenário neoliberal especulativo de acumulação sem limites no capitalismo fictício o destino da economia real se tornou sombrio.
Os investidores renunciaram aos investimentos na economia real para continuarem na especulação.
ECONOMIA DA DESTRUIÇÃO DO CAPITALISMO
Marx disse que o capitalismo desenvolveria ao máximo as forças produtivas, entraria em crise, e passaria a desenvolver as forças destrutivas na guerra.
O âmago da macroeconomia capitalista – diz Lauro Campos em “A crise da ideologia keynesiana” – é a guerra.
Keynes disse: “Penso ser incompatível com a democracia capitalista que o governo eleve os gastos públicos na escala necessária para fazer valer minha tese – a do pleno emprego keynesiano – exceto em condições de guerra. Se os Estados Unidos se INSENSIBILIZAREM para a preparação das armas, aprenderão a conhecer a sua força”(Lauro Campos, em “Crise Completa – Economia Política do NÃO” – Boitempo, 2012).
A guerra levou à financeirização e a financeirização à dívida pública de 37 trilhões de dólares, que inviabiliza economia produtiva, enquanto a economia especulativa, agora, implode e destrói riqueza disponível para o consumo, diante do protecionismo trumpista.
O futuro da economia real passou a ser o da destruição.
O capitalismo financeiro predominante passa a se realizar apenas na ficção.
ADEUS, EMPREGOS!
O contraponto desse processo é a completa destruição dos empregos na economia real afetada pela desindustrialização na maior economia capitalista do mundo.
O único setor rentável na globalização financeira é a guerra, sustentada pelos gastos do governo.
A ampliação da dívida pública é o único horizonte seguro do capital fictício.
A continuidade ilimitada da produção de armas pela multiplicação fictícia do capital especulativo sobreacumulado produz ilimitadamente a economia destrutiva no lugar da economia produtiva.
É o que Trump junto com Netanyahu prometem dar continuidade para manter a máquina de guerra de Tio Sam que entrou em crise na Guerra na Ucrânia diante da derrota para a Rússia.
Por isso, a Rússia, militarmente, invencível, por enquanto, livrou-se do protecionismo trumpista, depois de sofrer as sanções de Joe Biden que não conseguiram derrubá-la.
Produzir bens e serviços no processo de globalização do capital financeiro se transformou em risco total.
A disponibilidade infinita de capital aplicada na produção de bens e serviços virou problema insolúvel.
Haveria aumento exponencial da oferta em relação à demanda que jogaria a economia na destruição deflacionária inexorável de capital produtivo.
O protecionismo de Trump é uma tentativa de frear a superprodução de capital no mundo para permitir que o processo industrial sobreviva nos Estados Unidos.
A produção de bens e serviços de forma lucrativa, em comparação à expansão ilimitada do capital especulativo, só é possível se Trump consegue, com protecionismo, barrar a produção dos concorrentes.
Isso ocorreria com guerras comerciais crescentes, levando ao limite do confronto bélico.
A contradição fundamental que explode é a de que a renda gerada para o consumo de bens e serviços só ocorre na especulação e não mais na produção.
Sem a renda especulativa a produção também não se realiza.
Xeque mate.