A pesquisa Genial/Quaest, divulgada no dia dois de abril de 2025, revelou que a desaprovação da gestão federal cresceu.
Segundo a matéria da CNN, assinada por Renata Souza, o CEO da Quaest, Felipe Nunes, afirmou que “parte da explicação para a alta desaprovação do governo está na quebra de confiança do eleitorado com o presidente Lula”.
Farei alguns breves comentários sobre esse assunto.
De acordo com a avaliação de Nunes, “além de não conseguir cumprir as promessas de campanha, cada vez menos gente vê o presidente como bem-intencionado”.
Em relação ao comportamento do presidente, 47% não consideram que ele é bem-intencionado, enquanto 44% dizem que ele é.
Ainda assim, o presidente seria reeleito. O que isso diz, afinal, sobre a oposição em termos de opinião popular e alternativa de progresso?
“Ao contrário do que acontecia no passado, aumentar a exposição de Lula por meio de entrevistas e eventos não tem conseguido produzir melhora na percepção sobre o presidente”, ponderou Nunes.
O problema é de conteúdo, de programa.
Além disso, os preços dos alimentos e dos combustíveis afetam o poder de compra dos brasileiros, que se tornou relativamente menor do que no passado recente.
Conforme mostrou a pesquisa, 56% entendem que o Brasil está na direção errada, enquanto 36% consideram que o país está no caminho certo.
O governo, por sua vez, aposta em um ajuste fiscal regressivo, que não será capaz de dar respostas positivas para esse quadro de aflições populares.
Uma contração fiscal “expansionista” em termos de uma economia em clara desaceleração já se mostrou um desastre social na condução de políticas econômicas em diversos países.
O diagnóstico conhecido do professor André Singer, por sua vez, revelou que o lulismo encarna um reformismo progressista fraco, de caráter conciliatório.
Seus limites políticos são, portanto, bem conhecidos por todos nós.
Apesar das políticas sociais compensatórias implementadas, o lulismo falhou na promoção de reais mudanças estruturais progressivas.
Para o mês de março de 2025, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) informou que o valor do conjunto dos alimentos básicos aumentou em 14 das 17 capitais pesquisadas.
O novo arcabouço fiscal não deixou espaço para a reconstrução de estoques reguladores de alimentos básicos.
Conforme calculou o Dieese, “o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 7.398,94 ou 4,87 vezes o mínimo reajustado em R$ 1.518,00”.
O lulismo, com o seu caráter conciliatório e desmobilizador, ajudou a reforçar e a manter intactas muitas das estruturas políticas e econômicas tradicionais, “neocoloniais”.
Que tal um exemplo?
Em sua coluna em O Globo, de 18 de fevereiro de 2024, Bernardo Mello Franco avaliou o papel dos empresários envolvidos com a intentona direitista de 8 de janeiro de 2023.
De acordo com o jornalista, a defesa histórica da ditadura convergiu com o fundamentalismo de mercado.
Eleito em 2018, segundo Mello Franco, o ex-presidente “empenhou-se no desmonte do Estado e da legislação trabalhista e ambiental”.
A promoção de um capitalismo selvagem conviveu com o garimpo em terras indígenas e o trabalho infantil, “que voltou a crescer após anos de queda”, destacou então.
O lulismo e a sua oposição política pretendem conciliar com esse tipo de capitalismo e ainda manter a confiança da população?
Um mal-estar social difuso havia sido capturado no Latinobarômetro de 2024.
As avaliações da economia nacional em comparação com o ano anterior mostraram que 18% consideraram o Brasil “muito melhor” ou “um pouco melhor”, enquanto apenas 30% disseram que o país estava progredindo.
Quando questionados sobre como seria a situação econômica do país nos próximos doze meses, 45% disseram então que estaria “muito melhor” ou “um pouco melhor”.
Problemas educacionais, de saúde e de meio ambiente foram citados como as questões mais importantes do Brasil por 33%, sendo que 45% afirmaram apoiar a democracia naquele momento.
Apensar dos riscos para a democracia ainda estarem bem vivos, o lulismo mostra que tem algum fôlego político no presente.
Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e editor da Revista Interdisciplinar de Pesquisas Aplicadas