A reunião da CELAC, nesta quarta-feira, em Honduras, marca novo momento histórico latino-americano, no cenário do Sul Global, em torno do BRICS, presidido em 2025, pelo Brasil, para forjar a unidade latino-americana ameaçada pela política nacionalista protecionista predatória imperialista de Donald Trump.
Essencialmente, o protecionismo, ao derrubar as ações especulativas em todo o mundo, destrói rendas e poupanças, especialmente, da classe média global, que não mais serão canalizadas ao consumo de bens e serviços.
O empobrecimento da classe média é o novo combustível político que a esquerda latino-americana tem pela frente para defender a unidade latino-americana e o discurso mais à esquerda, alinhado ao socialismo.
Ganhar força, nesse cenário, a linha política bolivariana, articulada pela Venezuela chavista comandada por Nicolas Maduro.
Como presidente do BRICS, em Honduras, na reunião da CELAC, Lula e Maduro têm encontro marcado para falar a mesma linguagem da unidade latino-americana contra o império norte-americano, que ameaça a América do Sul, considerada pelos Estados Unidos reserva de valor e de valor de uso, para si, a fim de fortalecer o norte em prejuízo do sul, na linha da Doutrina Monroe.
O baque das bolsas por conta do protecionismo trumpista abala a América Latina, candidata a ser ainda mais explorada pelos Estados Unidos, que ficam mais pobres diante da desvalorização global das ações nas bolsas mundiais.
Trump, com certeza, como já mostram suas declarações imperialistas, quer cobrar dos latino-americanos, em forma de exploração econômica, os reveses que começam a sofrer como resultado das suas decisões econômicas unilateralistas.
Acúmulos de estoques e redução dos investimentos serão os aspectos relevantes do novo cenário econômico mundial que o protecionismo trumpista inaugura.
A Europa parte para o nacionalismo, como anuncia o primeiro ministro da Inglaterra.
A Comunidade Europeia propõe tarifa zero nas relações EUA-Europa, para tentar evitar o prejuízo, sem que Trump concorde com tal proposta.
A China se volta para o mercado interno para compensar a redução das exportações aos Estados Unidos, o que não basta porque a produção chinesa é muito maior que a demanda interna, gerando descompensações econômicas explosivas.
Haverá, se Trump radicalizar, totalmente, contra Pequim, a necessidade de queimar mercadorias na China, como fez Getúlio, em 1929, queimando café, para valorizar o produto nacional.
O aumento dos estoques, em face da oferta maior que demanda, jogam os preços para baixo.
Os investidores, diante da redução da demanda global, por conta da redução de renda disponível para o consumo, queimada com desvalorizações das ações, nas bolsas, fogem dos investimentos.
DISTRIBUIR A RENDA JÁ
A crise do capitalismo, neste momento, não é, portanto, de insuficiência de investimentos.
Investir em produção de máquinas, para substituir as máquinas que estão paradas na crise de redução da oferta, decorrente da insuficiência de consumo, gera mais prejuízo.
A tarefa fundamental dos líderes da América Latina, com destaque para Lula, no comando dos BRICS, é defender a melhor distribuição da renda mundial – na América Latina e, em particular, no Brasil – para combater a insuficiência de consumo global, que a crise protecionista aprofunda.
Não é insuficiência de produção, mas de consumo.
Para combater a insuficiência do subconsumismo, a alternativa é a alta de salários, para elevar o consumo, único que, satisfeito, produziria reação favorável aos investimentos, para salvar o sistema capitalista diante do excesso de oferta, que derruba os preços e joga economia global na hiper-deflação.
Navios chineses cheios de mercadorias circulam os mares dispostos a desovarem-nas, se não puderem destruí-las no consumo americano, onde Trump promete tarifas acima de 100%.
Onde Pequim vai jogar essas mercadorias, senão ameaçando a industrialização geral dos países semi capitalistas, como o Brasil, que tenta fortalecer sua industrialização/
O perigo para o programa econômico industrial brasileiro, que Lula toca através do PAC, é a oferta excessiva de produtos industriais das economias desenvolvidas, interessadas em buscar mercado alternativo ao dos Estados Unidos.
O mundo vira uma feira mundial de queima de estoque, no compasso do trumpismo protecionista, até que, baixado tal estoque, os preços possam se recuperar, se é que recuperarão.
Somente uma alta geral de salários, na América Latina, por meio de programas distributivos de renda, cobrança de tributos dos ricos para sobrar mais para os pobres, bem como paralisação dos efeitos do déficit fiscal, para permitir maior gastos sociais, que elevam a demanda global, serão capazes de evitar uma crise perigosa que se aproxima.
A alta de salários gerais na América Latina destruiria, no consumo, o excesso de mercadorias que estão sobrando, jogando os preços no chão, levando à redução dos investimentos e dos empregos em massa.
Portanto, na CELAC, o discurso de Lula deve ser o que apregoa a Constituição brasileira: união econômica latino-americana e implementação de programas sociais distributivos de renda, para atrair investimentos em parcerias, seja com chineses, seja com europeus, seja com japoneses, canadenses etc, que fogem, desesperadamente, do protecionismo trumpista.
Como disse o presidente Petros, da Colômbia, a geografia econômica global mudou e países, como o Canadá, por exemplo, que mantinham cooperação econômica com os Estados Unidos, terão que mudar a estratégia de buscar outros parceiros na América do Sul.
CELAC, BRICS E A ESQUERDA, TUDO A VER
A CELAC é o ambiente de expansão dos BRICS na América Latina, para fortalecer o sul global, ameaçado pela guerra das tarifas, desencadeada por Trump.
No BRICS, tem a força combinada da nova geopolítica econômica global, assentada no discurso multilateralista.
Só o discurso multilateralista será capaz de fazer frente ao império nacionalista predatório trumpista, que esvazia a renda da classe média, tornando-a fator político crítico ao capitalismo que a empobrece a olhos vistos.
A esquerda tem novo horizonte político aberto pelo protecionismo para defender o discurso socialista em contraposição ao discurso capitalista imperialista cujo objetivo é fragilizar os trabalhadores precarizados pelo modelo neoliberal.
O apelo à unidade latino-americana visa, justamente, mudar a correlação de forças, para poder enfrentar a escalada do império, com objetivo de continuar impondo a exploração do trabalho sobre a classe trabalhadora.
O trumpismo protecionista, portanto, abre nova frente de luta política ideológica, desde o momento em que empobrece a classe média, sucateada pela destruição das suas rendas com o estouro da financeirização especulativa provocado pela violenta desvalorizações das ações no mercado bursátil.