Vivemos tempos em que as estruturas que por décadas sustentaram uma ordem internacional minimamente negociada estão sendo corroídas.
A globalização, antes vendida como caminho para o progresso compartilhado, deu lugar a um cenário de fragmentação, desconfiança e instabilidade, e a economia mundial, sem novas regras claras de convivência, parece regredir a uma espécie de anarquia comercial, em que os tratados valem menos do que os humores dos poderosos:
- Tarifas, bloqueios, sanções e boicotes substituem o diálogo e a cooperação;
- E a diplomacia cede espaço à chantagem, tentativas de se impor pela força e bravatas.
Nem mesmo as regras já existentes — aquelas criadas no pós-guerra sob liderança dos Estados Unidos e dos países atlantistas — estão sendo respeitadas pelos seus próprios idealizadores:
- Washington, que se apresenta como guardião da ordem liberal internacional, é o primeiro a atropelar normas quando seus interesses estratégicos ou comerciais estão em jogo;
- Ignorando tribunais, violando soberanias, impondo sanções unilaterais e moldando discursos de “defesa da democracia” conforme a própria conveniência geopolítica;
- Enquanto a Europa, por sua vez, na maioria das vezes age como coadjuvante obediente, endossando políticas que violam os próprios princípios que diz defender.
Essa desordem crescente não é um acaso, mas um sintoma da decadência dos Estados Unidos e do próprio sistema capitalista, que vive em crise permanente.
O modelo que prometia prosperidade e abundância global mostra-se incapaz de atender ao mais básico dos desafios – alimentar a humanidade – mesmo com avanços tecnológicos, recursos em abundância e capacidade produtiva para atender a todos:
- A lógica do lucro se impõe sobre a vida;
- E, assim, milhões seguem passando fome, enquanto toneladas de alimentos são desperdiçadas.
Dessa forma, o capitalismo, em sua fase mais concentradora e especulativa, destrói empregos, precariza o trabalho e empobrece populações inteiras:
- O fosso entre ricos e pobres se aprofunda;
- E, diante do esgotamento das promessas do sistema, as potências centrais recorrem à força bruta ou à intimidação como forma de manter sua hegemonia em declínio.
O retrato do que está acontecendo no mundo nesse momento, representa, na verdade, apenas a agonia de um império e a realidade de um sistema que já não se sustenta senão, quase que exclusivamente, por meio da exclusão e da violência.
Enfim, nesse novo mundo, a força, seja ela econômica, militar ou midiática, é usada como instrumento de imposição, sem pudores:
- Países mais frágeis são esmagados ou marginalizados;
- E as grandes potências, em vez de liderarem pelo exemplo, recorrem cada vez mais a bravatas, ameaças e demonstrações de poder.
A linguagem da negociação, da paz e do respeito mútuo dá lugar ao grito, ao ultimato, ao ataque preventivo:
- Os organismos internacionais perdem relevância diante de decisões unilaterais;
- E o direito internacional está se tornando letra morta, quando não convém aos interesses dos mais fortes.
Nesse mundo do caos, o risco maior é a normalização da selvageria nas relações internacionais e a brutalidade passe a ser a única política, com a soberania de nações sendo ignorada sempre que entrar em conflito com projetos de dominação ou com o lucro de conglomerados globais.
O mundo guiado apenas pela força ou pela esperteza dos que gritam mais alto, está conduzindo a humanidade a caminhar, cada vez mais rápido, para o abismo.
Diante de tudo isso, as perguntas que se apresentam são: será que ainda é possível reconstruir a ordem mundial a partir de princípios de justiça, solidariedade e respeito mútuo, com bases minimamente estruturadas pelo diálogo? Ou simplesmente aceitaremos a barbárie como o novo normal?
Não é possível dizer se a escolha ainda está em nossas mãos. Mas há uma certeza: o tempo está se esgotando.