Faz alguns dias, Donald Trump separou o mundo em três grandes blocos, como sempre foi do feitio dos Estados Unidos desde após a segunda Guerra Mundial e a ordenação planetária liderada pelo país.
Usou o instrumento das tarifas de importação para fazer isso: um grupo está praticamente excluído do mercado estadounidense, um outro pode ter espaço para negociações embora tudo indique que sua vida será difícil, e um terceiro grupo ficou na tarifa base de 10% para acessar o maior mercado consumidor do mundo com seus produtos.
O Brasil está na tarifa base, junto com mais de 120 países.
Ocorre que destes cerca de 120 países taxados em apenas 10%, poucos têm base industrial relevante.
O Brasil é um deles, a Turquia é outro, e não há muito mais.
Qualquer um deveria conseguir enxergar, portanto, a enorme oportunidade que se abre para nós.
A oportunidade é tão enorme que, mesmo sem alardear, deveríamos estar celebrando a confusão criada pelo Trump.
Porém, o que se nota é um chororô covarde, fazendo coro com a leitura hegemônica e neoliberal da mídia econômica.
Ao invés de se organizar para aproveitar a oportunidade, estamos escolhendo choramingar com os europeus!
As indústrias brasileira de bens de capital estão agora posicionadas para um crescimento consistente no maior mercado consumidor do mundo.
Máquinas, equipamentos, componentes e suas partes e peças não poderão mais chegar lá vindos da China ou Europa.
E o que diz a associação que representa o setor?
“O Brasil será impactado negativamente em suas exportações para os Estados Unidos pois seremos menos competitivos em relação à indústria local”.
Vocês acham que o líder setorial não sabe que a imensa cadeia produtiva que ele representa foi quase completamente terceirizada pelos Estados Unidos para a Ásia?
E que, portanto, muito antes de as empresas voltarem para lá o Brasil pode oferecer bens intermediários — e mesmo finais — com o dólar a R$ 6?
O que uma investida forte no maior mercado consumidor do mundo, que quer se reindustrializar rapidamente, não faria pela nossa enfraquecida indústria?
Mas em vez de pensar nisso, a escolha é o chororô.
Por sua vez, o governo federal parece apenas olhar a situação, sem entender bem o que fazer.
E então lamenta o fim da ordem mundial do livre comércio (à qual o atual presidente já jurou fidelidade excessivas vezes).
Ao invés de comandar uma organização dos setores produtivos para compensar internamente os 10% de tarifa para quem se dispuser a exportar para os EUA, abre microfone para dizer que “vai dar errado porque passamos anos ouvindo que o livre comércio era bom”.
Não, seu estúpido, o livre comércio desindustrializou o Brasil e agora cai nas suas mãos uma oportunidade dourada para iniciar a reversão, mas você é estúpido demais para enxergar e liderar.
E vejam: nós ainda temos uma vantagem que os turcos, por exemplo, não têm.
Nós temos uma cacetada de multinacionais europeias (sim, aquelas que agora estão desesperadas sem saber o que fazer) com fábricas aqui.
Presidente da República, Ministros, sejam só um pouco menos burros: vão até as multinacionais europeias e expliquem o óbvio.
Qual é o óbvio?
Em vez de abrir as pernas para os EUA novamente e colocar em risco a segurança da Europa por mais um século, produzam mais no Brasil e vendam com tarifa de apenas 10%.
Em lugar disso, o que se discute em Brasília e na “mídia econômica”?
Que o Brasil deve acelerar a assinatura do tratado de livre comércio do Mercosul com a União Europeia!!! Sim, isso mesmo que você leu.
A ideia da corja é fazer à Europa o favor de abrir uma desova organizada de sua produção industrial, matando de vez nossas empresas e capacidades produtivas.
Bem agora, quando não precisamos da Europa para nada!
Atente para o fato de que os agricultores estadounidenses estão excluídos de grande parte do mercado mundial (retaliação), portanto nosso grande agronegócio tem anos de crescimento pela frente bem garantidos.
Original em: https://disparada.com.br/inacreditavel-covardia-brasil/