A nova política tarifária agressiva adotada pelos Estados Unidos, sobretudo contra a China, mas também atingindo aliados históricos, marca mais um capítulo do reposicionamento econômico global em curso desde a última década.
Esse movimento, embora alarmante para muitos, não representa necessariamente uma ameaça ao Brasil:
- Ao contrário, pode abrir uma janela de oportunidades estratégicas;
- Especialmente para quem souber ler o cenário com inteligência e agir com visão de futuro.
Mais do que um simples gesto protecionista, as tarifas impostas pelos EUA refletem um esforço deliberado de reconfiguração das cadeias produtivas globais.
Diante desse redesenho, países com recursos estratégicos e base industrial relevante – como o Brasil – têm a chance de conquistar protagonismo, tanto na indústria quanto no setor agrícola:
- Sendo importante frisar que o alvo principal das tarifas são os produtos chineses e de países concorrentes diretos dos EUA em setores estratégicos ou rivais geopolíticos;
- E que, embora segmentos como aço e alumínio já tenham sido atingidos por medidas anteriores, o Brasil, até agora, permanece fora do centro dessa nova ofensiva tarifária.
Por isso, em vez de observar a situação com perplexidade e passividade, o Brasil precisa reagir com ambição.
O momento exige um plano coordenado para reposicionar o país como fornecedor estratégico do mercado estadunidense, com foco na reindustrialização, conteúdo local e no aproveitamento do natural deslocamento da China no comércio global.
Temos, enfim, uma chance concreta de promover uma reindustrialização orientada à exportação.
Mas para isso, o governo precisa romper com a paralisia, assumir o protagonismo e oferecer liderança.
É inadmissível desperdiçar um potencial como esse por falta de discurso, estratégia e articulação com o setor produtivo.
Se o Brasil agir com inteligência estratégica, coordenação público-privada e visão de longo prazo, poderá não apenas se blindar contra possíveis impactos negativos, como também ocupar os espaços deixados por outros.
Em tempos de transição geoeconômica, colhe frutos quem se antecipa — e o Brasil pode, sim, estar entre os países beneficiados.
O caos provocado por Trump não é uma tragédia — é uma fresta aberta na arquitetura do comércio internacional:
- O Brasil tem todos os elementos para se posicionar como protagonista;
- O que falta é abandonar a postura de submissão, romper com a lógica do medo e passar a pensar e agir como nação soberana.
Enquanto a Europa se desespera e os EUA se retraem, o Brasil precisa pensar grande — não repetir as lamentações alheias.
Temos condições objetivas de crescer tanto na indústria quanto no agronegócio.
Enfim, há riscos, mas também há caminhos concretos para transformar esse cenário em vantagem estratégica:
- O fortalecimento da base produtiva nacional – com foco, por exemplo, em semicondutores, fertilizantes, fármacos, energia renovável e equipamentos de mobilidade elétrica – pode abrir espaço para exportações de valor agregado;
- E, também, atrair empresas estrangeiras dispostas a diversificar suas cadeias produtivas no Brasil;
- Além disso, o país pode negociar acordos bilaterais com os EUA, firmar parcerias tecnológicas e usar sua neutralidade geopolítica como ativo diplomático — tudo isso sem abrir mão da autonomia e mantendo relações construtivas com China, União Europeia e outros polos do Sul Global.
Em resumo, enquanto as grandes potências se digladiam por mercados, o Brasil tem a chance de se tornar ponte entre blocos, diversificar seus destinos de exportação — especialmente para a América Latina, África e Sudeste Asiático — e aproveitar uma realidade competitiva junto à imagem de país confiável: a crise é deles.
A oportunidade pode – e deve – ser nossa.
Sobre essa questão, leiam o emblemático texto escrito por Fausto Oliveira no Portal Disparada: A Inacreditável Covardia do Brasil
Disponível em: https://disparada.com.br/inacreditavel-covardia-brasil/