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Os mercados estão excitados porque começa a crescer, na esteira do protecionismo trumpista, fuga dos investidores nos títulos americanos.
À guerra tarifária se soma a guerra monetária, quando a China responde aumento de suas tarifas para 84% contra importações americanas em resposta ao aumento de 104% das tarifas sobre importações chinesas.
O início de corrida contra os títulos do tesouro americano, em alerta do Deutsche Bank alemão, lança temores sobre o principal ativo dos Estados Unidos, a dívida pública americana, na casa dos 37 trilhões de dólares.
O início de fuga dos títulos do tesouro dos Estados Unidos significa desconfiança em relação ao dólar que leva à desvalorização, maior temor manifestado pelo presidente Donald Trump, ao ameaçar o BRICS que elevaria em 100% as tarifas alfandegárias se o bloco abandonar o dólar pela troca por moedas nacionais nas relações comerciais.
Ao mesmo tempo, a China, maior poupança em dólar do mundo, em torno de 3,2 trilhões de dólares, desova suas reservas e aumenta oferta de moeda nacional, o yuan, para fortalecer seu mercado interno.
É a guerra monetária em cena entre o yuan x dólar
Como os chineses emitem moeda nacional, livres, portanto, de pressões inflacionárias, por não terem dívida em dólar, mas, justamente, o contrário, reservas trilionárias em moeda americana, podem levar vantagem.
Pequim aposta na emissão monetária para desvalorizar o yuan e ampliar exportações como garantia de valorização do capital chinês, criando ambiente de incerteza para os detentores de títulos americanos nas bolsas que desabam com a determinação chinesa de enfrentar de peito aberto o colosso americano.
DISPUTA DE GIGANTES
O dólar começa a esquentar no bolso dos especuladores nos cinco continentes.
Os americanos, afetados pela guerra protecionista, que produz trilhões de dólares em prejuízos para os poupadores, têm dificuldades em acompanhar o mesmo movimento dos chineses.
Se Washington, para resistir à eventual fuga dos títulos, emite dólares para baixar os juros e evitar estouro da dívida, seguindo os chineses na emissão monetária competitiva, pode enfrentar a desconfiança, se a perda do valor das ações, no movimento protecionista trumpista, provoca recessão.
Se cresce a rejeição à oferta de títulos do tesouro americano, a maior oferta de moeda pelo Banco Central, para evitar crash, entra em contradição com sua intenção de manter os títulos do tesouro atrativos.
Os compradores em fuga somente serão contidos se os juros subirem e não baixarem como ocorreria diante do aumento da oferta monetária para sustentar competição americana com os produtos chineses.
Trump pode entrar em sinuca de bico: precisa do dólar barato para exportar e combater o déficit comercial, mas, caso cresça fuga dos títulos do tesouro, o BC americano tem que subir as taxas para evitar fuga de capital.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Choque frontal entre economia real e economia fictícia no cenário da globalização financeira em perigo de colapso.
NOVA TEORIA MONETÁRIA NO CENÁRIO DO PROTECIONISMO
O confronto China x Estados Unidos se acelera, na medida em que os chineses, ao elevarem a oferta de yuan e venderem parte de sua reserva em dólar, seguem a moderna teoria monetária.
Novo modelo monetário – como destaca o economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real – garante que o Estado pode emitir, sem limite, moeda nacional sem sofrer pressão inflacionária, para aquecer o mercado interno.
Trata-se, no contexto da guerra monetária que se inicia entre Estados Unidos e China – de alternativa salvacionista: produz queda dos juros e dos salários, e aumento relativo dos preços, capaz de aumentar a eficiência marginal do capital(lucro), como teorizou Keynes.
Já, o mesmo pode não acontecer com os americanos, se estiver iniciando fuga aos ativos dolarizados, aprofundando a desdolarização, como alertam os alemães, pois esse movimento eleva a taxa de juros.
Os investidores internacionais querem juro mais alto para continuar comprando títulos do tesouro dos Estados Unidos.
O BC americano elevaria a oferta monetária para desvalorizar e atender o protecionismo trumpista ou puxaria os juros para enxugar liquidez e evitar fuga dos títulos americanos e hiperinflação em dólar, o que levaria à recessão mais rapidamente?
O x da questão, como temem os experimentados europeus, é a desconfiança do mundo no dólar, se o protecionismo americano aumenta a inflação e destrói a renda financeira dos consumidores, com as quedas crescentes das ações nas bolsas.
A decisão da China de pagar para ver, aumentando suas tarifas para 84% sobre importações americanas, significa confiança de Pequim em suas cartas, em acelerar a desdolarização, se o mercado financeiro começa a desacreditar na força do dólar para enfrentar a concorrência com o yuan.
O governo chinês não tem medo da dívida pública ao elevar a emissão de yuan, sem provocar inflação; já o governo americano não tem certeza de sua força, se a queda das bolsas esvazia o bolso dos consumidores e provoca perigo de deflação.
Do ponto de vista do Brasil e da América do Sul, a desvalorização do dólar aumenta as incertezas.
Se o aumento da oferta monetária em yuan elevar ainda mais a oferta de produtos chineses baratos em todo o mundo para enfrentar o protecionismo trumpista, os efeitos sobre a política de industrialização brasileira podem ser negativos.
Como competir com a desvalorização política da moeda chinesa, que enfrenta o ataque político tarifário americano, sem sofrer consequências drásticas?
O apelo salvacionista chinês pelo mercado interno, jogando sua moeda para baixo, reduzindo taxas de juros, que tornam mercadorias chinesas mais atrativas no mundo, dificulta a industrialização, no compasso da desdolarização, alardeada, agora, pela Europa e Japão.