Depois do tarifaço de Trump, deve ter ficado claro para americanófilos brasileiros entocados em instituições do Estado e da Sociedade Civil que nosso futuro está na Ásia, a região mais dinâmica do mundo em termos de crescimento econômico.
O presidente norte-americano nos deu um empurrão adicional nessa direção com sua política de destruição da ordem comercial e econômica internacional.
A Ásia não representa apenas uma oportunidade de compensação de perdas comerciais com os Estados Unidos por causa das supertarifas – principalmente do aço e do alumínio -, mas pode significar um impulso sem precedentes ao nosso desenvolvimento sustentável.
Para isso, a condição prévia é política: acabar com o preconceito contra a China pelo medo do comunismo, ou porque nos tornaríamos “dependentes” dela.
Isso é simplesmente ridículo.
A China, politicamente, é um país sócio-capitalista centrado em si mesmo.
Ao contrário dos Estados Unidos, que realizaram uma política de expansão imperial depois da Segunda Guerra que só não alcançou os países soviéticos, não aparenta ter qualquer outra pretensão no campo internacional a não ser recuperar Taiwan, que é uma província originalmente sua.
Fora isso, sua liderança comercial no mundo não deve assustar ninguém.
Contudo, há ainda gente no Brasil que considera uma aproximação maior com a China como um risco de dependência.
Por isso alguns tecnocratas do Itamarati impediram Lula de fazer um acordo com Xi Jinping, quando da recente reunião do G20 no Brasil, para a participação brasileira no projeto chinês Cinturão e Rota, o maior empreendimento econômico em desenvolvimento no mundo.
Aparentemente, preferem a dependência ou a subserviência aos Estados Unidos.
Considero que agora é o melhor momento para o Brasil aderir ao projeto Cinturão e Rota.
Ele pode ser o eixo do desenvolvimento de nossa rede ferroviária, que está atrasada em quase um século.
Com isso, eliminaríamos obstáculos logísticos que travam a economia, e principalmente reduzem a eficiência e produtividade de nosso setor primário, o mais dinâmico em termos econômicos, e que tem sido o suporte de superávits comerciais que nos permitem ter acesso a novas tecnologias.
Um acordo com a China, costurado pelo Itamarati, poderia ser estendido a outros países da América Latina, com o qual os produtores brasileiros de aço e de alumínio responderiam pela oferta desses metais de importância vital como insumo para a construção da rede ferroviária interna e sul-americana.
Note-se que a maioria dos países sul-americanos não tem essas indústrias, e o Brasil poderia atender a seus mercados, num acordo com a China.
Esse acordo com o maior parceiro comercial do Brasil serviria de garantia para que ele se tornasse também nosso maior parceiro financeiro, mediante financiamentos para a construção das etapas brasileira e sul-americana do projeto Cinturão e Rota, nos libertando da ganância incontrolável dos bancos ocidentais, que nos impõem taxas de juros de agiotagem através de nossa própria rede bancária.
Contudo, Donald Trump já percebeu que deu um tiro no pé com suas tarifas extravagantes e unilaterais, reduzindo a 10% as tarifas gerais.
Deve concentrar-se, assim, na guerra contra a China e nos manter de rédea puxada com as tarifas de 25% sobre os dois metais.
Nós não temos condições de poder comercial e econômico, como os chineses, de enfrentar diretamente os Estados Unidos, mas podemos contornar as arbitrariedade de Trump através do acordo sugerido de adesão ao projeto Cinturão e Rota.
Aos poucos, vai se desenhando a estratégia do presidente norte-americano de reordenamento do mundo.
Como um porta-voz do Forum de Davos, ele pretende congelá-lo em duas partes, a dos países dos bilionários, e a dos países pobres e médios.
Entretanto, alguns desses últimos, como o Brasil e vários asiáticos, tiveram a ousadia de entrar na seara dos privilegiados e explorar áreas de produção antes reservadas ao Primeiro Mundo.
Têm que ser paralisados pelas tarifas!
Diante disso, como tenho sustentado, não temos outra alternativa senão nos voltarmos para a Ásia a fim de manter nosso projeto de desenvolvimento sustentável.
Entretanto, os maiores obstáculos ao desenvolvimento brasileiro não são as tarifas de Trump.
São nossas próprias políticas fiscal e monetária, com taxas de juros estratosféricas e a obsessão do equilíbrio orçamentário.
Os juros esmagam e tiram competitividade de nossa capacidade produtiva, mediante a fuga do capital produtivo para o capital rentista, enquanto a política fiscal tira nosso impulso de crescimento.