Guilherme Estrella (foto de Lucio Bernardo Jr, Câmara dos Deputados)
Original em: https://monitormercantil.com.br/estrella-qual-o-papel-do-brasil-diante-do-colapso-do-mundo-unipolar/
O polo unipolar, homogêneo, norte-americano e europeu, do capitalismo financeiro internacional está colapsando.
Surge um outro polo, que são os Brics, que se contrapõe a esse poder mundial.
“E o Brasil é um dos países mais ricos e importantes do mundo, não é?
É, mas não é um país industrializado.
Nós não temos soberania fornecida pela indústria, para que nos seja possível, com mais tranquilidade, participar dessa reorganização geopolítica mundial”, defende o geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras (2003/2012).
Ele enfatizou ser urgente que o Brasil retome um projeto nacional desenvolvimentista autônomo e soberano, “para que as nossas riquezas sejam efetivamente transformadas em recursos, para a retomada do desenvolvimento industrial brasileiro.
Não é possível continuarmos como estamos”.
A entrevista ao Monitor Mercantil foi concedida durante o lançamento, no Rio de Janeiro, do livro Produção versus Rentismo (editora Página 8), organizado pelo jornalista Carlos Pereira, no Clube de Engenharia.
Para Guilherme Estrella, que é conselheiro do Clube e foi coordenador da equipe que descobriu as reservas do pré-sal, “é um pequeno livro, mas grande em seu significado, e muito importante neste momento, porque todos nós sabemos no Brasil que o mundo passa por uma transformação geopolítica radical”.
Estrella adverte que “estamos numa encruzilhada brasileira, também, não podemos nos enxergar nesse novo polo geopolítico que está se formando, de uma forma secundária, de uma forma subordinada, de uma forma não soberana”.
O geólogo ressalta que “é necessário para a economia nacional, principalmente as empresas, que recuperemos as empresas estatais que são grandes produtoras de recursos para o a gestão governamental, para que possamos reintroduzir a política de conteúdo nacional.
É fundamental que nós venhamos a financiar empresas brasileiras que operam no Brasil, principalmente na área de engenharia.
Então, é por isso que esse livro é muitíssimo importante.
O Brasil tem que se industrializar para como um caminho fundamental para a redistribuição da renda nacional”.
Estrella diz, indignado, que “quase metade dos nossos recursos governamentais é gasta em pagamento da dívida e encargos da dívida pública, e isso tem que acabar.
Nós estamos sofrendo uma política do Banco Central que é absolutamente contrário aos interesses nacionais e contrária à soberania nacional”.
O ex-diretor da Petrobras ressaltou que “somos obrigados a depender do capital estrangeiro quando somos um país riquíssimo, e ao mesmo tempo, um dos mais injustos do mundo!
Então a industrialização significa, inicialmente, a justiça social.
Então esse é o nosso grande desafio”.
Por Andrea Penna, especial para o Monitor