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Uma semana depois de o Secretário de Estado americano, Márcio Rúbio, declarar que os Estados Unidos têm que reforçar suas bases no seu quintal sul-americano, para preservar o poder geopolítico por meio da Doutrina Monroe – a América para os americanos… do norte –, desembarcou, hoje, em Buenos Aires, o secretário do Tesouro, Scott Benson, para acordo econômico bilateral EUA-Argentina.
É o início da nova geopolítica de Washington para a América do Sul.
Trata-se de reforçar a política econômica ultraneoliberal austericida do presidente Miley, que produz instabilidade política na Argentina, mas agrada o império americano, pois ela é garantia de abertura crescente a favorecer os interesses americanos, agora, mediante mais um acordo com o FMI que determina liberdade cambial total no país.
Está em curso aliança forte entre Trump e Miley para firmar acordo bilateral de caráter político e econômico que confere tratamento privilegiado da Casa Branca à Casa Rosada, como nova geopolítica do império para a América do Sul, para fazer frente ao perigo de invasão econômica do continente sul-americano pelas mercadorias chinesas, no cenário da guerra tarifária desencadeada pelo presidente norte-americano.
Como as tarifas de até 150% sobre os produtos importados da China impedem-nos de desembarcar no mercado americano, o excesso de oferta disponível de mercadorias manufaturadas chinesas candidata-se a entrar a custo baixo nas economias seja da Europa, seja da América Latina.
GUERRA CONTRA CHINESES
O encontro de Miley-Benson é a estratégia trumpista de fechar a América do Sul aos chineses por meio de acordos bilaterais que Washington tentará firmar com os demais países do continente, para preservar mercados aos produtos americanos, ao mesmo tempo em que tentará controlar comércio internacional latino-americano de matérias primas e produtos semi elaborados cujo maior cliente é a China.
Se os Estados Unidos caem na real de que não podem competir com a China, como revela a estratégia do tarifaço trumpista, como se fosse reconhecimento da sua incapacidade de enfrentar os chineses, o império americano parte para o controle das matérias primas no que considera seu quintal, a América do Sul, como disse Márcio Rúbio.
O preço dos produtos primários essenciais à manufatura global tende a valorizar-se em relação aos produtos industrializados, cuja produção em escala tecnológica reduz preços, como faz a China, para dominar o comércio mundial.
Já os produtos primários são escassos, portanto, mais valorizados, mais lucrativos.
Para enfrentar o adversário mais forte que pulou à frente na competitividade global, os Estados Unidos cuidam, de agora em diante, das fontes de matéria prima no seu espaço geopolítico que domina por meio da Doutrina Monroe.
APOIO À ULTRADIREITA LATINO-AMERICANA
Para que o plano americano de ampliação do domínio geopolítico sul-americano dê certo, será fundamental garantir parcerias com governos que comungam com o imperialismo, como é o caso de Miley, e, também, seria o de Bolsonaro, se voltasse ao poder, em 2026.
Será fundamental, para Washington, o controle político dos países latino-americanos, o que levanta dúvida de que a Casa Branca agiu para garantir, de forma fraudulenta, como denunciam observadores internacionais, a vitória de Noboa, no Equador, onde os Estados Unidos abrirão mais uma base militar.
Esse quadro pode se repetir nas próximas eleições latino-americanas, como a que se realizará na Bolívia, este ano, quando tenta voltar ao poder o adversário da Casa Branca, Evo Morales, alvo de inúmeros golpes políticos, por defender políticas nacionalistas.
O Brasil não está livre dessa nova cruzada do presidente Donald Trump para a América Latina, no sentido de fechá-la para os chineses por meio do domínio político pela direita fascista golpista.
Seria a garantia para manter fontes de matérias primas para os Estados Unidos, na disputa econômica com a China.
Os chineses, por seu lado, fazem a mesma coisa, nesse instante: elevam a reciprocidade tarifária a 125%, praticamente, eliminando possibilidade de comércio bilateral com os Estados Unidos, ao mesmo tempo que suspendem exportações de minérios e terras raras para os americanos, que delas necessitam para o desenvolvimento de tecnologias de ponta.
NOVO CONFRONTO INTERNACIONAL
A América do Sul entra no circuito da geopolítica global cercada pelo interesse de Washington de transformar o continente sul-americano em reserva de valor para elevar lucros e dividendos para os Estados Unidos na disputa comercial global com a China e com os BRICS, no qual os chineses dão as cartas como novo potência econômica.
A presença do Secretário do Tesouro, que representa os interesses econômicos e financeiros dos Estados Unidos, na tarefa principal de tentar evitar fragilidade do dólar, ameaçado pela pressão inflacionária decorrente do protecionismo trumpista, objetiva, fundamentalmente, fechar acordos comerciais bilaterais, com os países latino-americanos, a começar pela Argentina.
O governo Miley, nesse sentido, é o novo laboratório de Washington, campo de experimentação da Casa Branca para a sua nova geopolítica no continente, no qual a base econômica é a produção primária exportadora de alimentos, minérios e energia, indispensável ao abastecimento da indústria americana, que quer se recuperar competitivamente com os chineses.
A aposta política americana nos governos de direita no continente visa esvaziar politicamente o discurso da unidade latino-americana que ecoou na última reunião da CELAC, em Tegucigalpa, Honduras, semana passada.
Aos Estados Unidos interessa não a união, mas a divisão política latino-americana, para impedir reações políticas grevistas, como as que avançam na Argentina, para protestar contra o modelo econômico neoliberal adotado por Miley, amplamente aplaudido pelo secretário Scott Benson.
É o velho jogo do império em cena: dividir para reinar.