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70 anos depois, o legado de Bandung inspira debate sobre o Sul Global

Evento promovido pelo Valdai Club reúne especialistas para refletir sobre a luta contra o colonialismo e o papel do Sul Global nas relações internacionais

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Conferência de Bandung, na Indonésia, em 1955 (Foto: Getty Images)

Original em: https://www.brasil247.com/sul-global/70-anos-depois-o-legado-de-bandung-inspira-debate-sobre-o-sul-global

247 – Setenta anos após a histórica Conferência de Bandung, realizada em abril de 1955 na Indonésia, o think tank russo Valdai Discussion Club promoveu, nesta quinta-feira (18), um debate com especialistas sobre o significado contemporâneo daquele marco geopolítico.

O encontro, intitulado “70 Years On: The Legacy of Bandung”, ocorreu na sede do clube em Moscou e contou com a participação de intelectuais e analistas de diversos países, como Marco Fernandes, Ekaterina Koldunova, Nikita Kuklin, Hendra Manurung, Connie Rahakundini Bakrie, Sellita e Oleg Barabanov. A cobertura foi publicada originalmente pelo portal World Majority.

A Conferência de Bandung, realizada entre os dias 18 e 24 de abril de 1955, representou um divisor de águas na política internacional.

Pela primeira vez, países recém-independentes da Ásia e da África se reuniram para formular, de forma autônoma, suas prioridades em política externa, com ênfase na luta contra o colonialismo e o neocolonialismo.

O evento marcou o nascimento político do que mais tarde seria chamado de Sul Global, estabelecendo as bases de uma visão comum entre os países não alinhados durante a Guerra Fria.

Bandung 2.0: uma possibilidade real?

O encontro promovido pelo Valdai Club teve como objetivo central discutir se ainda é possível sonhar com uma nova edição de Bandung — uma espécie de “Bandung 2.0” — que unifique novamente as nações do Sul em torno de valores compartilhados de autodeterminação, soberania e desenvolvimento cooperativo.

Em um mundo marcado por tensões geopolíticas, guerras por procuração e a crescente desconfiança em relação à ordem liderada pelo Ocidente, o legado da conferência de 1955 parece mais atual do que nunca.

Durante o debate, destacou-se a importância de resgatar a memória histórica da Conferência de Bandung como um elemento mobilizador para a formulação de uma nova agenda internacional, centrada na multipolaridade, na justiça econômica e na equidade nas relações entre Estados.

A ideia de que o Sul Global pode falar com uma só voz e exercer maior protagonismo nos organismos multilaterais foi recorrente entre os participantes.

As vozes do Sul Global

Marco Fernandes, pesquisador associado do Tricontinental e um dos painelistas, destacou a atualidade do espírito de Bandung frente à escalada do neocolonialismo financeiro e da imposição de sanções unilaterais por parte dos países centrais.

Ekaterina Koldunova, da MGIMO University, lembrou que “a conferência de Bandung não foi apenas um momento histórico, mas uma proposição concreta de como a política internacional poderia ser diferente”.

Já o indonésio Hendra Manurung enfatizou a necessidade de um “novo pacto de solidariedade entre os países do Sul”.

Também presente, a especialista Connie Rahakundini Bakrie ressaltou que, em tempos de reconfiguração global, é fundamental que os países do Sul “não apenas resistam ao domínio das potências tradicionais, mas proponham novos paradigmas”.

O cientista político russo Oleg Barabanov fez uma provocação ao afirmar que o mundo multipolar já está em formação, e que “o legado de Bandung pode ser o cimento ideológico desse novo arranjo”.

Um chamado à unidade e à soberania

A discussão em Moscou não se limitou a uma celebração do passado. Ao contrário, foi um apelo por uma atualização das ideias que moveram os líderes de 1955 — como Sukarno, Nehru, Nasser, Nkrumah e Zhou Enlai — para os desafios do século XXI.

Em um contexto de crescente polarização, o Valdai Club propôs que o legado de Bandung seja retomado como guia para um novo internacionalismo, centrado na soberania dos povos e na cooperação entre iguais.

Com o apoio de centros de estudos e intelectuais de várias partes do mundo, o evento reforçou a percepção de que o Sul Global já não é mais uma periferia passiva, mas sim um ator em ascensão, com memória histórica, ambições políticas e voz própria no cenário internacional.

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