Foto Infomoney
A guerra tarifária eleva a inflação americana e obriga o FED a manter juro elevado para combatê-la, dentro da lógica neoliberal.
Trump quer interferir no FED para conter os juros que atrapalham o plano protecionista trumpista de estimular exportações para reduzir déficit comercial.
Conter os juros, no entanto, contraria o Deep State, o estado profundo americano, umbilicalmente, integrante da economia de guerra, que depende deles para pagar rendimentos do título do Tesouro que sustentam o Estado Industrial Militar Norte-Americano.
No processo de financeirização que sustenta a dívida pública, dar tranco nos juros, como deseja Trump, pressionando para a saída de Jerome Powell, presidente do FED, produz implosão do sistema.
Rebenta o choque entre os interesses do capital produtivo, que Trump quer estimular, para industrializar os Estados Unidos, e os do capital especulativo, essencial à sustentação da economia de guerra.
Aqueles querem juros mais baixos para combater o déficit comercial; estes, ao contrário, desejam a continuidade da financeirização, dos juros especulativos, para manter a acumulação de capital que deixou de se reproduzir na produção e no consumo.
A contradição alcança a essência dos poderes em choque no topo do capitalismo.
Com juros altos, para segurar a inflação, o FED agrava a situação do setor produtivo, enquanto viabiliza o setor especulativo.
Com juros baixos, a indústria armamentista entra em crise, porque cresce a preferência pela liquidez em relação aos compradores dos títulos do tesouro, ativo que bombeia o Estado Industrial Militar Norte-Americano, assim denominado pelo ex-presidente, general Eisenhower, no pós-segunda guerra mundial.
CHOQUE EXPLOSIVO
A guerra tarifária quer reverter o curso histórico que levou a construção da economia de guerra como motor do capitalismo.
No pós-guerra, o dólar se espalha pelo mundo para fazer déficit comercial mediante superavit financeiro proporcionado pela moeda hegemônica, com o seu exponencial poder de senhoriagem.
O superávit financeiro exclui da consideração imperialista, a necessidade de superávit comercial: os Estados Unidos, com o dólar forte, compra barato, para manter inflação e juros baixos.
Exportar empresas americanas para produzirem em outros países a fim de exportar para os Estados Unidos transformou-se no modo essencial de sobreacumulação de capital americano.
A dívida pública cresce no lugar da inflação para sustentar o status quo da economia de guerra, mas, em contrapartida, avança a desindustrialização americana, que se desenvolve no exterior por meio das próprias empresas americanas.
A guerra tarifária trumpista deseja reverter esse processo, porque a financeirização econômica decorrente da expansão sem limites da dívida pública, afeta a competitividade da economia e a sua derrota no campo comercial, especialmente, para a China.
Como representante do setor produtivo americano, Trump quer a reversão do processo imperialista do pós-guerra, ancorado no déficit comercial, para que, a partir de agora, os Estados Unidos acumule, com a guerra tarifária, arrecadação sobre os produtos importados, junto com a industrialização.
Essa mudança de rumo, porém, provoca aumento de preços, contra o qual Trump prega redução do juro, favorável à acumulação de déficit, que favorece a economia de guerra.
Trump, com sua política tarifária, é anti-guerra, embora tenha aumentado para 1 trilhão de dólares a expectativa de crescimento orçamentário do departamento de defesa, mas precisa do juro baixo controlado pelo BC americano, controlado pelos banqueiros.
A contradição entre a economia produtiva e a especulativa tende, portanto, ao confronto, conforme determinações do materialismo histórico e dialético no qual se desenvolve o imperialismo americano.
GUERRA CONTRA GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA
A globalização financeira, acelerada pelo processo de financeirização especulativa, é o alvo de Trump, para recuperar a economia produtiva, ameaçada.
A guerra tarifária é o tiro trumpista na globalização financeira.
Trump personaliza essa guerra, tentando derrubar o presidente do FED, Jerome Powell.
Pode derrubar a aparência, mas não a essência da crise.
Derrubar Powell seria abalar, mas não derrubar o Deep State.
Powell seria substituído por outro sem que se mexa na essência do problema, que é manter ou derrubar a financeirização especulativa que acelera a desindustrialização americana que Trump quer combater?
Ou manter a economia de guerra é a essência da industrialização para a produção, não de mercadorias, mas, sim, de não-mercadorias, produtos para a guerra, candidatos à imediata destruição, como preço pago para o avanço da ciência e tecnologia a serviço do aumento da produtividade imperialista?
Historicamente, o capitalismo americano, desde o pós-guerra, especializa-se, quanto ao avanço da produtividade, mediante guerra, cujos efeitos se espraiam para a economia real.
O BC americano, que tem a prerrogativa da emissão de dólares sob comando da banca privada dos Estados Unidos, aceitará a derrota da financeirização, da economia monetária, para garantir a sobrevivência do setor produtivo, no contexto do protecionismo trumpista?
Objetivaria desvalorização da moeda para impulsionar exportações, como novo motor da acumulação capitalista americana, que, como em crise anteriores, a partir do crash de 1929, sinaliza deflação = destruição do capitalismo?
Jerome Powell é a cabeça exposta da crise que Trump quer decepar.
Conseguirá?