Foto Câmara
A elite financeira, que pretende derrotar Lula em 2026, tem uma Nova Direita para chamar de sua, de modo a se livrar do espectro fascista do bolsonarismo que não contará com seu líder inelegível por oito anos.
Sem poder contar com o ex-presidente Jair Bolsonaro, ultradireita, desprestigiado junto à classe endinheirada financista que apostou nele em 2018, surge a Federação formada pela União Brasil (UB) e Partido Popular (PP).
Ambos congregam o poderoso Centrão, que dá as cartas no Legislativo, como força semi presidencialista, parlamentarista, inconstitucional, empenhada em esvaziar, politicamente, o presidente Lula.
Suas armas, testadas nos dois primeiros anos do governo Lula, são emendas parlamentares, que visam esvaziar o orçamento da União para dificultar governabilidade lulista, articulada no constitucional presidencialismo de coalizão.
A nova direita UB-PP já é maioria parlamentar, possuindo 14 senadores, 109 deputados e um orçamento partidário de R$ 970 milhões, superando o PL, com 91 deputados, e a Federação PT-PC do B-PV, com 80 deputados.
A partir de agora, a Nova Direita ofusca a ultradireita e vira atrativo para formação de uma frente de centro-direita, objetivando disputa eleitoral no próximo ano para chegar ao poder.
A meta da Nova Direita, segundo o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, do UB, é lutar para que tanto a União Brasil como o Partido Popular, agora em torno de federação partidária, desliguem-se do governo Lula, entregando os cargos que dispõem na administração federal, algo, ainda, abstrato, porque seus componentes jamais deixam inteiramente o poder quando estão nele.
O que estava preocupando a elite financeira, sua vinculação com a ultradireita fascista bolsonarista, deixa de existir com o nascimento da nova federação, que promete luta contra o governo lulista?
Não há resposta conclusiva a essa indagação.
SEM CANDIDATO COMPETITIVO
O calcanhar de Aquiles da nova federação partidária, que passa a possuir muito dinheiro, é a falta de candidato forte para enfrentar Lula, que polariza com Bolsonaro inelegível nas pesquisas.
Essa desvantagem, com certeza, deverá ser compensada por uma cruzada oposicionista mais aguerrida no Congresso, no sentido de tentar atrapalhar a governabilidade lulista, barrando os projetos que lhe são caros.
Isso ficou claro no lançamento da nova federação, nesta terça-feira, com o discurso do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, pretenso candidato ao Planalto, com discurso agressivo contra o lulismo.
Assim, é de se esperar, para os próximos meses, que o principal objetivo governamental de ganhar o eleitorado, por meio do projeto que isenta de imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil mensais, encontrará dificuldades para se materializar.
Por sua vez, não será fácil para a oposição, expressa na Nova Direita nascente, composta por UB e PP, ir contra o interesse popular que a isenção do IR representa para quem ganha até R$ 5 mil.
O relator do projeto, o deputado Arthur Lira(PP-AL), que deixou de comandar o Centrão, com a emergência da federação partidária, ficou em situação delicada.
Para não se tornar extremamente impopular e dificultar politicamente a Nova Direita, não teria outra alternativa, senão melhorar o projeto, talvez elevando o limite da isenção, porque se tentar fazer o contrário entraria em desgraça política.
Quem ganharia, se algo dessa natureza vier acontecer, certamente, seria o governo, que estaria a cavaleiro para soltar foguetes para aperfeiçoamento de sua proposta.
O fato que impediria Lira de ser mais ousado que o governo, no caso da isenção, torna-se claro: ele é um dos representantes do mercado financeiro, que se levantaria contra benesses superiores à que Lula pretende conceder à classe média, sob acusação de estar praticando desajuste fiscal.
Como se sabe, a Faria Lima prega corte de gastos, em nome do combate à inflação, que se expressa em juros altos, contra os quais a sociedade tende a combater, quanto mais próxima tiver a disputa eleitoral de 2026, de agora em diante.
A nova direita teria limites para agir no campo social, visto que o seu compromisso é com o modelo neoliberal, cujas coordenadas, conduzidas pelos credores, é de arrocho fiscal e não de uma pretensa distribuição de riqueza, taxando os mais ricos para fortalecer os mais pobres, como defende o presidente Lula.
NOVA DIREITA SEM PROJETO
Portanto, no plano parlamentar, as forças de esquerda estariam relativamente mais favorecidas pelo discurso lulista de melhor distribuição da renda, com os projetos de menos imposto de renda para a classe média e mais taxação sobre o capital para beneficiar o trabalho.
Restaria, ainda, como triunfo do governo, possível aproximação com a proposta dos trabalhadores, radicalizados na defesa do fim da jornada de trabalho 6×1 – seis dias de trabalho e, apenas, um de descanso –, que ganhou força na última eleição municipal.
Dificilmente, a direita conservadora assumiria essa ideia, que não teria o apoio da classe empresarial, que já prega crise na economia, se a redução da jornada se materializar, ao contrário do discurso dos trabalhadores de que, se isso vier acontecer, haverá melhor distribuição da renda com menor carga de trabalho, favorecendo os trabalhadores etc.
Mas, o fato mais preocupante, mesmo, para a Nova Direita, que, hoje, saiu do armário com a criação da Federação PP-UB, é a carência, primeiro de um projeto para o país, e, segundo de um candidato competitivo para disputar com Lula, apontado como favorito para vencer eleição e conquistar quarto mandato, segundo indicam as pesquisas de opinião.