Temos observado nos últimos dias, a exaustiva e nauseante auto comemoração da TV Globo sobre seus 60 anos de vida, na qual e apresentada como dotada de democrática e de um jornalismo perfeito e acima de críticas.
Por coincidência, neste mesmo 2025 são comemorados, também, os 40 anos dos CIEPS o mais revolucionário e humanista projeto educacional já edificado no Brasil, destruído por um odioso complô, formado pelo jornalismo da Rede Globo e do Brasil de castas, como denunciou sempre o ex-governador Leonel Brizola, responsável por aquela memorável obra, que contou a as participações geniais de Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer.
Bem mais modestas, as comemorações dos 40 anos dos CIEPS – um projeto destruído pelo Brasil de castas – resumem-se a alguns artigos de analistas e educadores, que sabem dimensionar o tamanho da tragédia cometida contra o povo brasileiro.
Já as narcisistas auto comemorações da TV Globo escondem, por razões obvias, a responsabilidade desta emissora nas nefastas agressões contra a frágil democracia que tentava reerguer-se dos 21 anos de ditadura cívico-militar, também foi apoiada e celebrada sistematicamente pelas Organizações Globo.
A começar pela participação da empresa de Roberto Marinho na vergonhosa Operação Proconsult, na qual se tentou, em vão, fraudar a vontade eleitoral do povo do Rio de Janeiro, que elegeu Leonel Brizola seu governador em 1982.
E o tamanho da tragédia pode ser medido pelo crescimento de uma violência social que o Estado Brasileiro lança contra populações humildes, em sua maioria negra, cujos filhos poderiam estar dela a salvo, se o Programa CIEPS não tivesse sido demolido com o ódio de castas contra o reconhecimento do direito dos pobres à uma educação de qualidade.
Sórdida tarefa que surpreendentemente contou com a participação de segmentos cooptados na esquerda.
Ao contrário do presidente Lula, que teve a dignidade de pedir esculpas a Brizola e Darcy Ribeiro por não haver apoiado os CIEPS, tanto a Globo como esses segmentos de uma esquerda udenista e moralista, que insultavam o ex-governador como um populista educacional, não são capazes de reconhecer sua participação nesta tragédia brasileira, que levou uma geração de jovens , conhecida como Geração Cieps, a transformar-se em Geracão Crack, dada a falta de perspectivas que, com a destruição daquele revolucionário projeto educacional, pavimentou o caminho para que um contingente enorme de jovens pobres, fosse capturado pelo crime organizado que, hoje, atua com horripilante desenvoltura no estado do Rio de Janeiro.
Os 60 anos da TV Globo são comemorados escondendo uma sucessão de práticas do jornalismo global contra os direitos do povo seja quando foi contra a construção do Sambódromo, contra as Eleições Diretas para Presidente, quando esse mesmo jornalismo atuou para quebrar o monopólio estatal do petróleo e defendeu o desmonte privatizante da Petrobras, ou a antinacional privataria dos governos Collor, Itamar, FHC, Temer e Bolsonaro, que entregou a BR Distribuidora e a Eletrobrás ao capital vadio internacional.
O silêncio das entidades dos jornalistas diante da obrigação de produzir uma leitura crítica do que os 60 anos de TV Globo representaram em agressão e violação dos direitos democráticos dos brasileiros, vem carregado de enigmáticas dúvidas, seja por sugerir alienação, conivência, cooptação ou até , por omissão, uma lamentável colaboração, indicando fuga da responsabilidade, de estimular a sociedade brasileira a necessária reflexão sobre a urgência de construir outro modelo de comunicação, sem a hegemonia tirânica a do mercado, e regido por uma missão informativa e educativa, que só pode ser alcançada com a expansão e qualificação da mídia publica, hoje ainda raquítica no Brasil. Para que tais tragédias não se repitam.
Sim, os 60 anos da TV Globo representam uma coleção de ações contra os mais básicos direitos dos brasileiros, entre eles o de ser culto, educado e bem informado, e contrastam, dolorosamente, com os 40 anos do CIEPS, destruído por ser um sistema educacional humanista, acolhedor para as comunidades humildes, dotado da missão de construir cidadãos que, com diria Paulo Freire, seriam células transformadoras da sociedade, capazes de superar a brutalidade da fome, do racismo, da miséria e da favelização, que segue desafiando o tempo na ainda frágil democracia do Brasil de hoje.
* Beto Almeida, jornalista, Conselheiro da ABI