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Uma “Máquina de Moer Pessoas”: O Brasil Neoliberal e o Preço da Submissão ao Consenso de Washington

Os Limites Para a Reconstrução do País 

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Quando o Presidente Lula descreveu o Estado Brasileiro, herdado de gestões anteriores, como “uma máquina de moer pessoas”, ele revela com contundência os efeitos devastadores de décadas de políticas orientadas pela lógica neoliberal – e faz referência a uma crítica histórica feita por Darcy Ribeiro.

Embora Lula não esteja necessariamente citando literalmente Darcy Ribeiro, a frase remete diretamente ao nosso “Herói Nacional” inscrito no Livro de Aço do Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, especialmente no que diz respeito às estruturas sociais e institucionais do Brasil:

  • A referência é clara, pois Darcy costumava dizer que a educação — e por extensão o próprio Estado Brasileiro — funcionava como uma engrenagem para excluir e marginalizar os mais pobres;
  • Perpetuando desigualdades.

Essa máquina, evidenciada por Lula, não começou a operar no desgoverno anterior de bolsonaro, embora tenha sido turbinada por ele:

  • Sua origem, destacadamente, é relacionada ao início dos anos 1990, quando o Brasil passou a seguir fielmente o receituário do Consenso de Washington;
  • E um pacto entre instituições como o FMI, Banco Mundial e o Tesouro dos EUA, impôs ao Sul Global uma agenda de ajuste estrutural em nome de uma “estabilidade macroeconômica”  que atende exclusivamente os interesses dos países centrais do capitalismo e penaliza os países periféricos, em ascensão.

Desde então, o Estado Brasileiro deixou de ser promotor do desenvolvimento nacional para se tornar um gestor de planilhas – subordinado à lógica do mercado financeiro: 

  • Promovendo privatizações em massa, cortes de gastos sociais, desregulamentação do mercado de trabalho, abertura comercial sem proteção à indústria nacional;
  • Tudo isso implementado com extremo zelo técnico e muita violência social.

O resultado foi o enfraquecimento do tecido produtivo, a desindustrialização precoce e a precarização da vida para a maioria dos brasileiros.

Lula, ao retornar à Presidência em 2023, encontrou essa engrenagem em funcionamento ainda mais acelerado, agravada por seis anos de “austeridade” radical e abandono do planejamento público – sob a “gerência” de Temer e Bolsonaro:

  • Mas, ainda que suas convicções estejam em rota de colisão com o modelo neoliberal — vide o novo PAC, a valorização do salário mínimo e os investimentos sociais;
  • A sua força política não é suficiente para desmontar esse modelo contrário aos interesses do país e às necessidades do Povo Brasileiro — por ele constantemente denunciado.

A composição conservadora do Congresso, o poder descomunal do mercado financeiro, a tutela do sistema judicial e os limites impostos pela mídia corporativa formam um cerco invisível, mas eficaz:

  • E, mesmo com capital político e legitimidade popular;
  • Lula governa acuado por um sistema que resiste à reconstrução do Estado como indutor do bem-estar social e da soberania nacional.

Desmontar essa “máquina de moer pessoas” passa pela indispensável reversão da entrega do patrimônio nacional a interesses privados e estrangeiros.

Não há projeto nacional de desenvolvimento possível sem o resgate da soberania sobre setores estratégicos:

  • Isso inclui a revogação de privatizações lesivas;
  • A recuperação do controle público sobre as estatais essenciais;
  • E a libertação do país da lógica dos dividendos para acionistas estrangeiros.

A submissão da Petrobrás à lógica da Bolsa de Nova York, por exemplo, impede que ela atue como ferramenta de desenvolvimento:

  • Vinculada a acionistas internacionais que exigem lucros imediatos, a maior empresa brasileira ficou impedida de cumprir sua missão estratégica — refinar, investir, gerar empregos e garantir combustíveis acessíveis à população;
  • Enquanto isso, lucros recordes são distribuídos, mas o povo paga caro na bomba de combustível e o país importa derivados que poderia produzir.

A privatização da Eletrobrás, feita a toque de caixa sob um governo ilegítimo, tirou do Estado Brasileiro o controle sobre o setor elétrico — essencial para o planejamento energético, a transição ecológica e a segurança nacional.

E a Vale do Rio Doce, entregue a grupos privados após o escandaloso leilão de 1997, passou a priorizar os lucros em detrimento da vida, como revelaram as tragédias de Mariana e Brumadinho.

Enquanto empresas como a Embraer e os Correios (ainda sob ameaça), junto a BR Distribuidora e tantas outras representam pedaços da Soberania do Brasil vendidos como se fossem mercadorias comuns.

Portanto, a ideia de “revogar privatizações” não pode ser considerada uma espécie de nostalgia estatizante, conforme setores da mídia subordinados a interesses externos querem ressaltar, mas, sim, a única forma de reorientar essas empresas para o interesse nacional.

Contudo, — embora ciente dessa necessidade — Lula não possui hoje a força política para levar adiante esse enfrentamento de forma direta e frontal:

  • O mercado reage com fúria a qualquer sinal de reversão das privatizações e a imprensa pressiona;
  • Enquanto o Congresso barra e o Judiciário logo age para proteger os contratos e as estruturas montadas para blindar o capital internacional.

Em síntese, o Presidente Lula governa permanente sob chantagem, a correlação de forças não lhe permite romper esse cerco sem risco de desestabilização – e, assim, a máquina de moer pessoas segue funcionando a pleno vapor.

Enfim, não é apenas com discursos ou programas de governo que a agenda neoliberal será desmontada. Isso exige coragem histórica e apoio social para o embate:

  • Desmontar esse aparato depende não apenas da vontade presidencial;
  • Mas, principalmente, da capacidade de mobilização popular, da reorganização da esquerda, da construção de uma maioria política e da pressão contínua da base.

Chegamos a uma situação em que, ou o Brasil resgata sua Soberania, sua Indústria e seu Povo — ou seguirá sendo triturado, ciclo após ciclo, entre promessas de mudança e a realidade brutal de uma máquina estatal moldada para servir aos rentistas e aos interesses externos.

Um país que abre mão de si mesmo — jamais será livre: enquanto essa engrenagem seguir “moendo” o Povo em nome dessa entidade denominada mercado, não haverá possibilidade de reconstrução verdadeira do Brasil — e o máximo a ser oferecido à população será apenas a luta diária por sobrevivência.

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