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Chop Suey!, por Paulo Moreira Franco

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Paulo Moreira
Paulo Moreira
Economista aposentado do BNDES

Original em: https://www.afbndes.org.br/vinculo/opiniao/chop-suey-por-paulo-moreira-franco/

“Breaking into Fort Knox

Stealing our intentions

Hangers sitting, dripped in oil

Crying, “freedom”

Handed to obsoletion

Still you feed us lies from the tablecloth”

(em Bring Your Own Bombs)

Gostaria de estar escrevendo na manhã de sábado, com tudo o que pode acontecer nesta sexta estando no meu Telegram, no meu X/Twitter.

Gostaria de acordar e constatar nada de extraordinário ter acontecido.

Mas hoje é quinta, há um show a comparecer. Toxicity certamente está entre os discos que mais ouvi neste século.

Será Victorious Victorias kneel for brand new spanking deals uma mensagem profética sobre Victoria Nuland em meio à letra de B.Y.O.B. (essa música é do Mesmerize, na minha opinião a outra obra prima deles), uma década antes de Maidan?

Sexta, dia 9, o presidente Lula estará vendo a de fato a guerra mundial começou com a invasão japonesa na Manchúria.

E termitradicional parada de celebração do fim (no nosso fuso horário o dia foi hoje) da segunda guerra mundial na Europa (numa visão menos atlântica/eurocêntrica, pode se considerar que nou onde começou, com os japoneses se rendendo aos americanos depois dos soviéticos terem liberado a Manchúria).

Xi também estará lá.

Haverá alguma tentativa britânica… perdão, ucraniana, de atrapalhar a cerimônia?

Muito provável. Há chance de algum sucesso de um atentado contra a parada?

Há.

Pequena, mas, infelizmente, há.

Dependendo do que acontecer, o trem da história toma outros caminhos, e quem sabe os versos do Chico para Cancion Por La Unidad de Latinoamericana se tornam proféticos:

Quem vai impedir que a chama

Saia iluminando o cenário

Saia incendiando o plenário

Saia inventando outra trama

Quem vai evitar que os ventos

Batam portas mal fechadas

Revirem terras mal socadas

E espalhem nossos lamentos

Há muitos candidatos a arquiduque neste momento, muitas chances de um evento aleatório, inesperado, levar a uma conflagração que escape ao controle dos atores principais do cenário internacional.

Há a derrota estratégica da aviação ocidental.

Do ponto de vista da arte da guerra, poucas coisas têm uma dimensão tão profunda.

As oito décadas que se sucederam à Segunda Guerra foram marcadas por uma hegemonia americana/ocidental cunhada em seu poder aeronaval.

Agora acabou.

O caso mais confortável foi a derrubada de Rafales franceses, operados pela Índia, por mísseis ar-ar chineses, disparados por caças chineses operados pelo Paquistão.

Esse caso pode sinalizar que houve um vacilo do Ocidente no desenvolvimento de mísseis ar-ar de longo alcance, uma fé excessiva nos poderes de sua eletrônica para defender os aviões.

Com mais e melhor do mesmo, isso se resolveria.

Há quem diga que a remoção de um comandante da força aérea indiana uma semana atrás se deveu a ele não querer correr o risco de perder seus aviões contra os paquistaneses.

Ele saiu, os aviões foram derrubados dias depois.

Amiga leitora, você percebe que nessa história tem aviões de um país dos BRICS originais sendo derrubado por aviões fabricados por outro dos BRICS originais?

Mas nem os Houthis nem os iranianos contam com aviação para criar os impasses estratégicos que promovem hoje.

Ambos bastante comedidos, diga-se de passagem.

Ambos trabalhando com as fragilidades do sistema.

As forças de porta-aviões americanas foram feitas para enfrentar as patéticas ameaças aéreas de rogue states.

Não que não se soubesse isso: o Millennium Challenge 2002, talvez o mais clássico exemplo de sucesso de um Red Team, mostrou o quão vulnerável a uma guerra assimétrica eram as forças americanas.

Mas por que se preocupar com um problema que concretamente não existe, certo?

Duas peças importantes da operação de guerra americana foram enterradas pelos Houthis.

O mais vistoso é a criação de pânico nos porta-aviões, levando ao gasto de munições antiaéreas caras e raras.

Levando a acidentes, acidentes nos quais alguns aviões foram perdidos.

O mais complicado, no entanto, é a perda dos drones para a antiaérea dos Houthis.

operação continuada da guerra americana na região se fez com drones, sem riscos humanos para o poderio americano.

Isso acabou.

E a grande surpresa estratégica nessa história é que os EUA aceitaram um cessar fogo com os Houthis que não envolve as ações deles contra o genocídio em Gaza.

O que quer dizer que os navios em direção a Eilat continuam a ter um seguro proibitivo.

Mas mais que isso, o fracasso de impedir os ataques aos porta-aviões significa também o fracasso de se impedir os ataques à infraestrutura de Israel.

Pegue o problema dos Houthis e multiplique. Não há uma ação militar possível contra o Irã.

Mesmo supondo que o Irã não tenha algumas ogivas nucleares, um ataque convencional às instalações industriais e de energia literalmente apagaria Israel.

O que não quer dizer que, no retorno de Saturno de A Clean Break, o mesmo conjunto de atores – neocons e Netanyahu – não queira provocar uma guerra generalizada na região. Há uma ilusão de que eles triunfariam na escalada de um chicken game.

O que traz um segundo problema filosófico contemporâneo, algo que certamente você já esbarrou: o Dilema do Bonde.

Um bonde vai atropelar cinco pessoas amarradas.

A única coisa que você pode fazer é mover uma alavanca, e ele ao invés irá atropelar uma outra pessoa amarrada.

Você é responsável por matar essa pessoa, mas se você não fizer isso, as outras cinco pessoas morrerão.

Sua inação, dirá um filósofo utilitarista, será responsável por matar essas cinco pessoas. Não tem solução mágica no qual todos se salvam.

Assim como o dilema do prisioneiro, essa é uma abstração que serve para refletir problemas morais, problemas de ação.

A obscenidade que vou propor é bastante simples: faça uma reflexão do governo Trump sob esse prisma.

Considere que havia um bonde num trilho e que a mudança de regime foi o bonde tomando o outro trilho.

Não tem um terceiro trilho.

Portanto, reclamar do novo atropelamento significa aceitar o atropelamento anterior, atropelamento pelo qual você não necessariamente não prestava tanta atenção assim.

Exemplo: o secretário de Saúde de Trump é antivacina! Sim, ele tem umas ideias esquisitas quanto a isso.

Mas ele quer banir os corantes dos alimentos.

quer banir refrigerantes do “vale alimentação” que o governo dá aos pobres.

Onde tem mais gente morrendo no trilho, mais danos de longo prazo, no sarampo ou na diabetes?

Exemplo: o secretário de Defesa é um saradão para quem remover as políticas de diversidade é uma meta.

Feio isso!

Tirando o fato de que essas políticas, no mínimo, não contribuíram para o recrutamento militar.

Esse problema está sendo revertido.

Adicionalmente, os esforços para tirá-lo tem sido do establishment neocon que quer uma escalada das guerras na Ucrânia e no Sudoeste Asiático.

Definitivamente ele é interpretado como um obstáculo por esses grupos, pelo establishment militar.

Qual trilho você prefere, o de rainbow drones?

Exemplo: Marjorie Taylor-Greene é a mais caricata das personalidades MAGA.

Alguém que acredita em QAnon!

Por outro lado, foi essa maluca pró-primeira emenda que barrou um projeto de lei que criminalizaria boicotes a Israel nos EUA.

Qual trilho você prefere?

A história é um carro alegre

Cheio de um povo contente

Que atropela indiferente

Mas voltando à sexta, Lula ter retomado o trilho dos BRICS, indo ao encontro de Xi e de Putin nesse momento de celebração, é extremamente positivo.

O bonde da história toma um outro caminho, cabe a nós não estarmos entre os atropelados.

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