Diante do tarifaço de 25% dos Estados Unidos sobre o aço e o alumínio brasileiro, o Presidente Lula deve ter caído na real sobre a defesa do livre mercado feita no Forum de Davos pelos seguidores de Margaret Thatcher, a primeira-ministra britânica, e Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos. Como ele próprio disse, ambos o convenceram de que a “globalização e o livre mercado” eram bons para todo o mundo.
Agora, as tarifas de Trump mostram que, quando um país hegemônico quer, ele atropela o livre mercado em seu próprio benefício, mandando às favas os interesses do resto do planeta. Se o Brasil fosse um pouco precavido teria mantido as políticas nacionalistas adotadas desde Vargas até Geisel, não entregando suas políticas macroeconômicas e seu patrimônio público aos abutres do neoliberalismo. Estes querem tirar dos países emergentes e em desenvolvimento as barreiras que os protegem da concorrência desigual com os mais ricos.
A saída que temos é buscar nosso espaço no mundo comercial anarquizado pelo presidente norte-americano. Acabou o tempo do livre comércio. Cada vendedor ou comprador tem que buscar seu lugar nele. Quem proclama isso, não por palavras, mas pela ação, é ninguém menos que o presidente da maior potência econômica e militar do mundo. Resta a Lula pedir perdão ao povo por suas políticas livre cambistas que tem favorecido, principalmente, os bilionários, com extrema concentração e desigualdade de renda, relegando a segundo plano os menos favorecidos.
Fiz um exercício abaixo para indicar possíveis alternativas para compensar a altíssima tarifa de 25% imposta por Trump ao aço e ao alumínio vendidos por empresas brasileiras aos Estados Unidos. As duas primeiras são relativamente fracas, mas a terceira, a meu ver – imediata adesão brasileira à Nova Rota da Seda, liderada pela China – pode ser nossa salvação. Espero que Lula, dessa vez animado por um espírito desenvolvimentista, volte da Ásia com um contrato com a China para participar desse imenso empreendimento de U$ 2 trilhões.
AÇO
Primeira alternativa: continuar perseguindo o objetivo do ministro da Indústria e do Comércio, vice-presidente Geraldo Alckmin, de reduzir, por meio de negociações com autoridades americanas, a tarifa sobre o aço importado por empresas daquele país para um nível que atenda às necessidades dos exportadores brasileiros desse metal.
Possibilidades de sucesso: poucas ou nenhuma.
Segunda alternativa: constituir um grupo de trabalho, a ser orientado politicamente pelo Instituto Brasil-Ásia e tecnicamente pelo Instituto Aço, para identificar países asiáticos com baixa produção de aço e altas taxas de crescimento econômico que possam abrir pelo menos parte de seus mercados, a partir de forte ação diplomática brasileira, para nossas vendas com tarifas reduzidas e quotas partilhadas com outros grandes produtores e exportadores como China, Índia e Japão.
Possibilidades de sucesso: moderadas, dependendo da competitividade dos preços do aço brasileiro e da habilidade da diplomacia brasileira em convencer China, Índia e Japão a realizar, no campo geopolítico, um acordo de quotas de importação com cada país importador, deixando espaço para a nossa própria quota.
Terceira alternativa: Pressionar o governo brasileiro a concluir negociações estratégicas iniciadas com a China, no âmbito do G20, para a plena adesão do País ao projeto Rota da Seda. Isso abriria espaço para um grande acordo com Pequim de forma a que parte de infraestrutura para uma ampla expansão ferroviária no Brasil (trilhos e vagões) fosse feita com aço brasileiro, substituindo pelo menos parte das vendas perdidas para os Estados Unidos. O fornecimento de equipamentos ferroviários acima dos trilhos (locomotivas), por sua vez, ficaria por conta da própria China. Eventualmente, esse modelo seria levado a outros países sul-americanos, sem capacidade própria de atender a seu mercado de aço, e que também poderão aderir ao projeto Rota da Seda de forma a ampliar sua rede ferroviária.
Possibilidades de sucesso: grandes, desde que sejam superadas a chinofobia ideológica e a americanofilia prevalecentes no Brasil que impediram, na última reunião do G20, o acordo Lula-Xi Jinping para a entrada do Brasil na Nova Rota da Seda. Agora, diante do tarifaço de Trump, acredito que ficou muito mais fácil derrubar esses preconceitos ideológicos contra a China, mesmo porque eu Presidente tem efetivamente um interesse geopolítico em ver o Brasil nesse barco.
ALUMÍNIO
Primeira alternativa: continuar perseguindo o objetivo do ministro da Indústria e do Comércio, vice-presidente Geraldo Alckmin, de reduzir, por meio de negociações com autoridades americanas, a tarifa sobre o alumínio brasileiro importado por empresas daquele país para um nível que atenda às necessidades dos exportadores brasileiros desse metal.
Possibilidades de sucesso: poucas ou nenhuma.
Segunda alternativa: constituir um grupo de trabalho, a ser orientado tecnicamente pela Associação Brasileira do Alumínio, para identificar países asiáticos com baixa produção de alumínio e altas taxas de crescimento econômico que possam abrir pelo menos parte de seus mercados, a partir de forte ação diplomática brasileira, para nossas vendas com tarifas reduzidas e quotas partilhadas com outros grandes produtores e exportadores como China, Índia e Japão.
Possibilidades de sucesso: moderadas, dependendo da competitividade dos preços do alumínio brasileiro e da habilidade da nossa diplomacia em convencer China, Índia e Japão a realizar, no campo geopolítico, um acordo de quotas de importação com cada país importador, deixando espaço para a nossa própria quota.
Terceira alternativa: Pressionar o governo a taxar as importações brasileiras de alumínio num nível competitivo que permita substituir os importadores de alumínio dos Estados Unidos eventualmente sobretaxados – notadamente Canadá e China. Outros grandes importadores dos Estados Unidos são Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul, Bahrein, Índia, Austrália e México.
Internamente, a sobretaxação norte-americana sobre o alumínio, igual à do aço, abre oportunidade igual de mercado para o Brasil no caso da adesão brasileira à Nova Rota da Seda, com expansão do programa ferroviário interno, que seria um grande consumidor do metal.
Outras possibilidades internas para substituição das perdas no mercado americano seriam redirecionamento para o país de construção em larga escala de casas populares (Minha Casa, Minha Vida) tendo o alumínio como um dos principais materiais de construção para revestimento de fachadas, além do uso na indústria automobilística. Paralelamente, a diplomacia brasileira buscaria mercados para o alumínio em outros países da América Latina com notória incapacidade de produzi-lo internamente.
Possibilidades de sucesso: grandes, sobretudo na relação com a China, que obrigatoriamente terá de redirecionar suas exportações de alumínio para países fora do alcance das tarifas arbitrárias de Trump. E também, como acontece com o aço, desde que sejam superadas restrições que impediram, na última reunião do G20, o acordo Lula-Xi Jinping para a entrada do Brasil na Nova Rota da Seda. Agora, diante do tarifaço de Trump, e tendo em vista que nosso futuro aponta para a Ásia, a região economicamente mais dinâmica do planeta, ficou muito mais fácil derrubar os preconceitos ideológicos contra a China no Brasil.