O presidente Donald Trump começa a semana registrando uma derrota importante para o seu adversário presidente Xi Jinping ao ser suspenso por noventa dias a guerra comercial entre os dois países.
Trump tinha aberto o conflito, mas perdeu fôlego: impôs uma tarifa de 145% em cima dos produtos chineses, enquanto Jinping elevou a 125% sobre os produtos americanos, punindo-os, principalmente, com suspensão de exportações de minérios estratégicos industrializados, sem os quais os Estados Unidos perdem corrida tecnológica para a China, de forma definitiva.
O titular da Casa Branca objetivava, com a guerra tarifária, reduzir o déficit comercial americano, para industrializar os Estados Unidos e ganhar dianteira econômica frente a China.
Está dando ruim para Trump.
O aumento das tarifas sobre os produtos chineses se revelou irreal, com o propósito estratégico americano de vencer comercialmente.
Trump caiu na real e sentou na mesa para negociar com Xi Jinping, porque não viu alcançada a sua meta maior: fortalecer o seu desejo de desvalorizar o dólar para favorecer exportações americanas e, consequentemente, reverter o déficit comercial de quase 1 trilhão de dólares, sendo de 400 bilhões, apenas, com a China.
O movimento dos mercados internacionais mostra o oposto, no cenário em que ambas as partes diminuem as tarifas: os Estados Unidos reduziram de 150% para 30% e a China, de 125% para 10%, nos próximos três meses.
O dólar, nesse contexto, está se valorizando.
Isso significa que as mercadorias chinesas continuarão baratas para os americanos, favorecendo o combate à inflação nos Estados Unidos.
Esse movimento, por sua vez, evita que o Banco Central americano aumente os juros, algo que estava nas suas cogitações, se a guerra tarifária avançasse.
Como Trump recuou na sua agressividade protecionista inicial, a tensão favorável ao aumento de preços nos Estados Unidos diminui e os juros, idem.
Os chineses continuariam competitivos e ampliando o seu comércio com os Estados Unidos, enquanto a estratégia de Trump, de alavancar a indústria, barrando a China, cai por terra.
“Perdeu, mané”, como diria a terrorista do batom, na Praça dos Três Poderes, escrevendo com ele na Estátua da Justiça.
O mercado, frente a essa derrota comercial americana, valoriza o dólar, como resultado da superioridade comercial chinesa sobre a evidente inferioridade semelhante à americana.
Trump fracassou em sua tentativa de combater o déficit comercial, na escala em que desejava, para tentar colocar de joelhos a China.
O resultado desse processo demonstra que os Estados Unidos deverão continuar acumulando déficit comercial, diante da valorização do dólar.
Quem ganha, portanto, a guerra comercial, nessa altura do campeonato, são os chineses, porque a valorização do dólar em relação ao yuan chinês estimula as vendas chinesas para o mercado americano.
O consumidor americano continuará comprando mercadorias da China em melhores condições do que as mercadorias americanas e, portanto, essa valorização da moeda americana elimina o efeito inflacionário que o protecionismo trumpista provocaria na economia dos Estados Unidos.
O Banco Central americano – o FED – não precisará aumentar a inflação na escala mais agressiva que precisaria aumentar, se a guerra tarifária produzisse pressão inflacionária no mercado americano.
O resultado prático desse movimento de reaproximação mais cordial das relações China-Estados Unidos pós decisão de Trump de abrir guerra tarifária contra Xi Jinping comprova a impossibilidade de os Estados Unidos vencerem a guerra comercial contra a China.
DESAFIO À REELEIÇÃO DE LULA
Não é nada bom para a economia brasileira o efeito desse confronto, no qual a China sai, parcialmente, vencedora – pelo menos nos próximos 90 dias –, como produto da valorização do dólar, revertendo tentativa de Trump de desvalorizar a moeda americana para combater déficit comercial, fator de instabilidade para a dívida pública americana, que já está na casa dos 37 trilhões de dólares, sinalizando bolha financeira prestes a implodir.
Os fundos de investimentos internacionais, que já estavam vendendo títulos do tesouro americano, certos de que Washington não conseguiria competir com a China, terão ainda maior razão para colocar barbas de molho, se o déficit públicos continua subindo, se o déficit comercial continuar crescendo, bombeando financeirização especulativa.
O presidente Lula terá que agir rápido para que a inflação, no Brasil, não ganhe velocidade, diante da vitória estratégica chinesa que valoriza o dólar, consequentemente, mantendo desvalorizada a moeda chinesa, que bombeia déficit comercial americano.
Relativamente ao Brasil, no entanto, o dólar valorizado em decorrência da vitória chinesa, na disputa comercial, desvaloriza o real e pressiona os preços internos.
Por isso, a Faria Lima e a Febraban, que comandam o mercado especulativo, no ambiente da financeirização, já deverá, a partir dessa semana, projetar pressões inflacionárias para os próximos meses.
Péssima notícia para Lula que já encontra dificuldades para vencer a inflação de alimentos, que deixa a população propensa às criticas contra o governo, especialmente, em véspera de campanha eleitoral, na qual ele tentará a reeleição.
As forças nacionalistas dentro do governo Lula se voltarão para barrar a especulação, provavelmente, defendendo reação, a partir do Conselho Monetário Nacional(CMN), de modo a alterar o tripé econômico neoliberal, para mudar a meta inflacionária, de modo a ganhar folga para alterar o arcabouço fiscal excessivamente restritivo, permitindo expansão maior do déficit público.
Caso contrário, com a meta inflacionária irrealista de 3% ao ano, com folga de 1,5% para cima e para baixo, o mercado continuará pressionando por cortes nas contas públicas, acima do necessário, como estratégia para manter elevada a taxa de juro em nome do combate a inflação.
Vai ficar cada vez mais claro, que a inflação não decorre do excesso de demanda – consumo da população em alta – mas do aumento de custo de vida provocado pelos juros altos repassados aos preços pelos empresários.
Assim, mudando a meta de inflação, as forças nacionalistas conseguiriam flexibilizar os gastos, para que Lula possa investir mais na produção e no consumo, buscando queda da inflação não conforme a teoria neoliberal, defendida pelo mercado especulativo, via juro alto, mas via crescimento, aumentando a oferta de bens e serviços, para que os preços possam ser melhor controlados.
Está chegando, portanto, a hora decisiva da queda de braços do governo com o mercado financeiro, no ambiente macroeconômico.
O CMN é comandando por três votos: 2 garantidos pelo governo – Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento – e 1, o Banco Central, que tem votado conforme pressão do mercado financeiro especulativo, mediante manipulação de expectativas relativas à inflação, projetando futuro inflacionário para revertê-lo a valor presente, expresso em juros especulativos.
Lula, candidatíssimo à reeleição em 2026, deve chegar da China, onde negociou investimentos bilionários chineses no Brasil, de R$ 27 bilhões, com a retórica desenvolvimentista fortalecida, incompatível com a posição recessiva neoliberal da Faria Lima e da Febraban, apoiada pela mídia corporativa pró-Trump.