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Economia Circular E APLs. Por José Carlos de Assis

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José Carlos de Assis
José Carlos de Assis
Economista, doutor em Engenharia de Produção pela UFRJ, professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba e autor de mais de 20 livros sobre economia política.

Um dos temas centrais a ser tratado na COP30, em novembro próximo, em Belém, é a economia circular, um conceito que trata da  da transição global de um modelo de economia linear, baseado no sistema tradicional de extrair, produzir e descartar, para uma economia circular, que propõe uma abordagem sistêmica para reduzir o uso de recursos, minimizar a produção de resíduos e regenerar ecossistemas naturais.

Ferramenta fundamental para enfrentar os desafios adaptação a mudanças climáticas, o modelo de economia circular foi debatido, ontem, no primeiro dia Forum Mundial de Economia Circular, em São Paulo, em evento criado em 2017 pelo Fundo de Inovação da Finlândia e realizado em sua primeira edição na América Latina numa parceria com Fiesp, Senai-SP, Senai Nacional e Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Entende-se que, no caso agrícola, projetos de economia circular poderão dar contribuição decisiva, através de Arranjos Produtivos Locais (APLs) e Regionais, para o desenvolvimento do País “de baixo para cima”, como tenho defendido no âmbito do movimento “vamos fazer o Brasil grande de vez”.

Eles não precisam ser necessariamente grandes empreendimentos empresariais. Basta sua integração em redes.

Essa integração visa a utilizar todo o potencial econômico existente numa determinada comunidade ou região onde as atividades das unidades produtivas individuais com características complementares possam ser articuladas em cadeias.

Assim, resíduos descartados no processo pelas primeiras unidades da cadeia servem como insumos para as unidades das etapas seguintes, reduzindo consideravelmente os desperdícios e os custos para ambas.

Na medida em que os APLs se expandam no País criando ecossistemas de vocações agrícolas similares, o impacto para as comunidades locais ou regionais será considerável.

Com a utilização de plataformas digitais que, mediante um simples clique num token, pode acompanhar todo o processo produtivo em tempo real, o sistema terá altíssima produtividade, já que dispensa intermediários, especialmente depois da colheita e na etapa de comercialização.

A consequência é baixo custo de produção e aumento da oferta, reduzindo os preços dos bens produzidos em favor dos participantes do APL e da própria sociedade.

É verdade que uma rede de APLs ampla tenderá a reduzir a disponibilidade de empregos, justamente por causa de sua alta produtividade.

Contudo, se o APL for concebido, como nós acreditamos que deve ser, como um ambiente social que não se limita a atividades produtivas, o desemprego devido ao desenvolvimento tecnológico em atividade industriais ou agrícolas pode ser compensado pelos empregos nos serviços.

Na verdade, tendo a acreditar no papel fundamental dos serviços na revolução civilizatória que estamos tendo agora e que continuarão a ter no futuro, mudando totalmente o perfil do mercado de trabalho e da própria convivência social.

Meu amigo querido, Gustavo Galvão, um jovem economista do BNDES focado em desenvolvimento tecnológico, antecipa que o custo da energia elétrica tenderá a zero nas próximas décadas, tão logo seja resolvida a questão do seu armazenamento.

E isso está próximo: China e Arábia Saudita estão criando uma gigantesca bateria a lítio, com o objetivo de estabilizar por longo tempo a energia produzida e oferecida “de graça” pelo sol, pelos ventos e pela água.

A partir daí, segundo Gustavo Galvão, pode-se esperar uma queda expressiva nos custos da produção industrial como um todo, já que a energia elétrica é seu principal insumo.

Eu concordo com esse argumento, e acrescento o meu: a produção agrícola tem tremenda produtividade e os custos só não são mais baixos por causa dos intermediários que expropriam os produtores.

Quando também isso for resolvido, seguindo o modelo do APL digitalizado, associando-se produção agrícola com energia limpa e barata pode-se acabar com a fome no mundo.

Entretanto, o que ocorrerá com o mercado de trabalho enxugado, inclusive com os trabalhadores associados aos APLs?

Parte deles continuará lá com uma quota maior de lucro, e parte será atraída pela fruição de uma vida melhor dentro ou fora de seu ecossistema.

É que, como disse, continuando o que já vem ocorrendo, vão se ampliar no futuro as atividades culturais como promoção do turismo, das artes e, principalmente, dos esportes, em articulação estreita com as comunidades do entorno.

E todas elas infensas ao ataque das máquinas!

Essa concepção que se aproxima de uma visão do paraíso na terra

pode tomar forma concreta se houver mobilização pela própria Sociedade Civil que não espere do Governo iniciativas estruturantes de “cima para baixo”.

Lula, traidor do nacionalismo e agora um neoliberal confesso, fez o jogo das classes dominantes e vai se manter fiel a elas, continuando a aceitar passivamente, sem protestos, o esmagamento do Estado Social Nacional pelos especuladores financeiros.

Em troca, dá aos pobres algumas migalhas, na forma das políticas assistencialistas do PT.

Diante disso, voltemos aos APLs, que são a chave para resolvermos os problemas da fome  e a melhor forma de enfrentarmos as questões relacionadas com a questão climática.

Nessa altura do século ninguém mais, em sã consciência, pode negar a realidade dos desastres climáticos extremos.

Eles continuarão se sucedendo na forma de enchentes e de queimadas, e para se adaptar a eles os municípios devem resguardar-se de forma preventiva.

Para isso, têm que ter dinheiro.

No próximo ano, quando haverá eleições gerais, grande parte do dinheiro que vem de cima para baixo vai ser aplicada embaixo em campanhas políticas de efeito nulo para o povo, exceto para compra de votos, como tem sido comum na Baixada Fluminense.

As consequências dos desastres são locais ou regionais.

Com isso, as autoridades municipais que tenham responsabilidade para com seus cidadãos e cidadãs deveriam mobilizar-se o quanto antes para criar fundos locais ou regionais como prevenção.

A organização dos fundos, autorizados pela CVM, daria suporte financeiro regional, com participação da Sociedade Civil e sem participação da Faria Lima, da Febraban ou de outras entidades especulativas do andar de cima, para adaptação aos desastres climáticos.

A participação da Sociedade Civil seria voluntária, ou através investimentos garantidos pelos próprios APLs organizados em economia circular e, dessa forma, assegurando ao investidor alta lucratividade.

Artigo publicado originalmente na Tribuna da Imprensa.

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