O novo dado do PIB, divulgado ontem pelo Ministério da Fazenda, trouxe um alento em meio à travessia econômica brasileira:
- A revisão da projeção de crescimento para 2025, que passou de 2,3% para 2,4%;
- Confirma que há resiliência em alguns setores da economia, especialmente na agropecuária, que se beneficia de boas safras e da demanda internacional.
Mas, por mais que o número positivo do PIB traga alívio, ele escancara um paradoxo cada vez mais insustentável: como crescer de forma consistente com uma taxa de juros de 14,75% — uma das mais altas do mundo?
A política monetária brasileira vive um momento de evidente dissonância com a realidade econômica:
- A Selic em patamar tão elevado compromete investimentos produtivos;
- Inibe o consumo das famílias e impõe custos desnecessários ao setor público, que paga mais caro pela dívida.
É como dirigir um carro com o freio de mão puxado e ainda esperar que ele ganhe velocidade.
A justificativa do Banco Central — a de que a inflação segue pressionada — não se sustenta diante do fato de que parte relevante da alta de preços decorre de choques externos e não da demanda interna aquecida.
Ao contrário: o consumo das famílias e o crédito estão sufocados, e o desemprego, embora em queda, ainda não atingiu níveis compatíveis com um ciclo sustentável de crescimento.
A pressão do governo federal para que o Banco Central inicie uma trajetória de corte nos juros é, portanto, mais do que legítima — é urgente:
- O país precisa destravar o investimento produtivo;
- Sobretudo em setores estratégicos como infraestrutura, indústria e inovação.
O novo PAC, as políticas de neoindustrialização e a retomada do crédito público esbarram na lógica de uma política monetária que parece mirar em fantasmas do passado, enquanto ignora os desafios concretos do presente.
Mais do que isso: é preciso que o Banco Central — e em especial o Comitê de Política Monetária (Copom) — passe a considerar, em suas decisões, não apenas os indicadores financeiros, mas também as necessidades reais do setor produtivo e da população brasileira:
- A política monetária não pode continuar sendo formulada por uma cúpula técnica desconectada dos efeitos sociais e econômicos de suas decisões;
- É urgente discutir a representatividade do Copom, para que haja vozes que expressem as demandas da produção, do trabalho e da sociedade civil em sua composição.
A sinalização de crescimento do PIB em 2025 é uma oportunidade para o Brasil virar a chave: do arrocho à retomada, do medo da inflação à confiança no desenvolvimento — rompendo com o rentismo — valorizando o trabalho e investindo na produção.
Manter os juros altos diante desse cenário é não apenas um erro técnico, mas uma escolha política equivocada — uma escolha com um custo que o Brasil não pode mais pagar.