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A traição pessoal de Lula ao desenvolvimentista Requião. Por José Carlos de Assis

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José Carlos de Assis
José Carlos de Assis
Economista, doutor em Engenharia de Produção pela UFRJ, professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba e autor de mais de 20 livros sobre economia política.

Lula superou seus arroubos neoliberais ao vender em leilão, em sua maioria para chineses, 29 hidrelétricas brasileiras.

É um acinte.

Privatizar parte significativa da infraestrutura elétrica do País construída por nossos antepassados desenvolvimentistas é um ataque à Segurança Nacional.

Principalmente num setor tão sensível, quanto do da hidroeletricidade, que desempenha um papel vital no desenvolvimento e no esforço do Brasil em apresentar-se ao mundo como campeão da energia limpa.

A energia elétrica representa o principal instrumento para o crescimento da economia de um País e, quando de fonte hidráulica, implica a construção de grandes reservatórios que podem impulsionar atividades econômicas paralelas, principalmente a pesca e o turismo.

Além disso esses reservatórios, assim como os rios que os alimentam, são fundamentais para o controle de enchentes e inundações, sobretudo na era dos desastres climáticos extremos, como a que vivenciamos.

Tudo isso sugere o papel estratégico do Estado na construção, desenvolvimento e controle operacional do setor elétrico para a Segurança Nacional.

Os governantes desenvolvimentistas, como Getúlio Vargas e Ernesto Geisel, sabiam disso.

Entretanto, a partir de determinado momento de nossa História, dirigentes entreguistas como Fernando Henrique Cardoso, em lugar de dar prosseguimento aos nossos programas energéticos anteriores, passaram a destruí-los.

Depois de FHC, não se construiu uma única usina hidrelétrica de grande porte num País que havia construído, no passado, Itaipu, Tucuruí e Tapajós, entre outras.

Contar com fontes seguras de energia elétrica já construídas é um privilégio que governos passados desenvolvimentistas legaram ao País.

Esse patrimônio  vem sendo destruído de forma consciente e determinada pelos neoliberais que tomaram conta do Governo, sobretudo a partir de Fernando Henrique e seus sucessores, inclusive Lula.

Eles são diferenciados apenas pela escala de seu extremismo entreguista, que põe Lula numa ponta e Paulo Guedes na outra.

A atividade econômica privada está focada na redução de custos, não na segurança e qualidade dos serviços prestados à população.

Por isso entendo que setores de infraestrutura, essenciais para o desenvolvimento de um país, deveriam sempre ser explorados pelo Estado, a serviço da população, e não pela iniciativa privada, cujo foco é a redução de custos de sua atividade central.

Em princípio, não tenho nada contra investimentos chineses no Brasil.

Entretanto, desde que não venham para aplicações no mercado financeiro especulativo, apropriação de ativos essenciais para a Segurança Nacional ou mesmo para comprar empresas prontas, como é este caso.

Lembro-me de que Delfim Neto defendia com razão investimentos estrangeiros produtivos.

Eram para construir, não para comprar pronto.

Os compradores das 29 hidrelétricas não precisarão de reunir e pagar trabalhadores brasileiros para construir as usinas, ou seja, em nada contribuirão para a melhora do mercado de trabalho ou para a aquisição no mercado interno de insumos industriais usados no processo produtivo.

Por outro lado, estarão retirando das mãos do Estado nacional um ativo amortizado que renderia resultados financeiros permanentes.

Contudo, essa privatização de 29 usinas por Lula é apenas um momento pontual na sua conversão ao neoliberalismo desde os anos 80 do século passado, como ele mesmo confessou.

Assim como fez Fernando Henrique, privatização e desestatização tornaram-se o principal objetivo do Presidente, à falta de um grande projeto nacional apresentado pelo PSDB ou pelo PT, à margem das criticas retóricas e hipócritas ao neoliberalismo.

Assim, no Paraná, terra do maior dos nacional desenvolvimentistas brasileiros – o ex-governador (três vezes) e ex-senador (duas vezes) Roberto Requião -, Lula, unindo-se ao governador local Ratinho Jr, está fazendo uma devassa no patrimônio público do Estado.

Primeiro privatizaram a Copel, empresa de energia elétrica recuperada e transformada por Requião na fornecedora de energia elétrica com os preços para o consumidor mais baixos no País.

Mais recentemente Lula e Ratinhho venderam o Porto de Paranaguá ao grupo monopolista norte-americano Cargill, impedindo, na prática, o acesso pelo mar aos mercados externo  e interno dos pequenos e médios produtores paranaenses.

Não só isso.

Também privatizaram em bolsa um pedágio nas vias expressas de maior fluxo de veículos no Estado, anunciando isso com grande estardalhaço.

Para Requião, tudo parece uma provocação aos nacionalistas, pois não há sentido nessas decisões.

Não são, porém, uma surpresa.

Requião era um dos poucos políticos brasileiros que nunca haviam mudado de partido.

Nas últimas eleições, convencido pessoalmente por Lula de que poderia lhe dar contribuição essencial para a vitória no pleito, aceitou mudar-se do PMDB para o PT a fim de candidatar-se a governador pelo Paraná.

Foi derrotado.

Contudo, os votos que deu para Lula no Paraná e em Santa Catarina foram reconhecidamente expressivos e fundamentais para a eleição dele.

A gratidão de Lula foi não responder nenhuma ligação telefônica dele depois que assumiu a Presidência.

Estava na cara que temia a eventual participação de Requião, um desenvolvimentista que assume o que pensa, e pensa corretamente, num eventual Ministério onde predominam neoliberais e entreguistas.

Através de intermediários, ofereceu a ele um cargo em Itaipu com salário mensal de R$ 200 mil.

Requião recusou.

Entendeu que se tratava de uma esmola para não ter que chamá-lo para o Ministério.

Claro, nessa altura, depois das medidas concretas que vem tomando para continuar destruindo o que resta do legado dos nacional desenvolvimentistas brasileiros, Lula dificilmente contará no próximo ano com a ajuda eleitoral de Roberto Requião.

Mesmo porque Requião, aos 84 anos, não pretende trair a própria História apoiando um Presidente que efetivamente está traindo o Brasil.

Assim, com a confusão eleitoral brasileira que vai instalar-se no próximo ano diante das contradições de Lula, e da fragmentação da direita e extrema direita, a única saída que vai nos restar é apresentar à sociedade alternativas concretas de desenvolvimento de baixo para cima, fora dos partidos, sem depender diretamente do Governo.

Isso não pode limitar-se à teoria.

Deve tomar forma objetiva com uma rede moderna de APLs (Arranjos Produtivos Locais e Regionais) dentro de um grande Projeto Nacional que dê aos trabalhadores e suas famílias oportunidades efetivas de ganhar dinheiro para a sua sobrevivência com dignidade.

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