A iberofonia é um fenômeno global e civilizatório histórico, com uma profunda raiz no tempo, e refere-se ao conjunto de nações e povos dos cinco continentes que falam português e espanhol.
Deriva de “íbero” = adj. natural, nativo, pertencente à Península Ibérica; e “fonia” = sufixo que indica som ou voz.
Assim, temos que o iberófono é aquele falante de uma das duas línguas da Península Ibérica, que, para destacar, são as duas únicas línguas universais mutuamente compreensíveis em grande escala entre si.
Tendo sua raiz histórica na Reconquista contra o Islã na referida península, que ocupou o território por aproximadamente oito séculos, a civilização iberófona construiu-se por meio da expansão marítima imperial pelos cinco continentes, onde essa civilização ergueu-se combinando uma série de elementos: o comércio marítimo e mercantil, a geração de cidades, a criação de universidades, hospitais e caminhos; mas também com a conquista e violência, com a escravidão e complexas relações com os povos indígenas encontrados no período do “descobrimento da América” e o estabelecimento de suas novas colônias imperiais, que, por sua vez, variaram com o tempo.
O que é isso de iberofonia e socialismo?
Para desenvolver o corpo deste artigo e responder a essa pergunta, Iberofonia e Socialismo é uma obra e livro em que se busca expor uma descrição civilizatória e, ao mesmo tempo, um projeto geopolítico que procura se encaixar na idiossincrasia do que chamamos de civilização ibérica.
É o que denominamos na Associação Cultural de Vanguarda Espanhola, na Juventude Operária da Costa Rica, na Vanguarda Argentina, na Vanguarda Comunista Chilena e na Vanguarda Venezuelana, entre outras organizações que estão se formando gradualmente: “um projeto civilizatório geopolítico em grande escala”.
A iberofonia é definida pelo cientista político e diplomata espanhol Álvaro Durántez Prados em um ensaio de 2018 intitulado “Iberofonia e paniberismo, definição e articulação do mundo ibérico”, sendo a ele creditado o mérito de ter elaborado a primeira definição acadêmica do conceito.
É preciso matizar o aspecto linguístico, pois, embora haja uma intercompreensão mútua, o português possui mais sons vocálicos que o espanhol, e isso — entre outras características — faz com que ao lusófono seja mais fácil entender um hispanófono do que o inverso.
Ou seja, um hispanófono pode ser compreendido por um lusófono.
No entanto, com uma escuta adequada e interação entre os dois falantes, é possível entender-se.
E não é algo complexo: basta oferecer breves aulas de um idioma ao outro para facilitar essa compreensão mútua.
Atualmente, falamos de um total de 30 nações políticas soberanas nos cinco continentes, com seu coração sobretudo na Ibero-América e, em segundo lugar, na Ibero-África, onde estão os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa): Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde; além dos falantes de espanhol na Guiné Equatorial e no Saara Ocidental Espanhol, como também no norte de Marrocos (região do Rif), onde estão Ceuta e Melilla, e depois as Canárias, claro.
Na África, encontram-se a Madeira (ilhas portuguesas) e os Açores, que formam a Macaronésia.
Na Ásia, há Timor-Leste, que fala português.
Na Oceania, há ilhas onde se misturam dialetos derivados do espanhol, como Guam, Marianas, Palau etc.
No total, são 30 nações soberanas, como já dito, e 861 milhões de pessoas que falam as duas línguas somadas.
A isso, acrescentam-se falantes significativos de português em outros locais da Europa, como Luxemburgo, onde o português é falado;
Andorra, país onde o catalão é o idioma oficial, mas o espanhol é o de facto e o mais falado, sendo o português o terceiro devido à imigração.
Também merece destaque as Filipinas, onde o bisaya — conjunto de dialetos influenciados pelo espanhol — é uma das línguas mais faladas no arquipélago, seguido pelo tagalo.
Além disso, é interessante mencionar os Estados Unidos, onde o espanhol é hoje o segundo idioma mais falado, tornando-o a segunda nação hispanófona da América do Norte, após o México.
E agora: por que socialismo?
A resposta é simples.
Porque, como o autor busca expor em seu livro, essas nações iberófonas, construídas após a balcanização e queda dos impérios espanhol e português no século XIX, tiveram enorme dificuldade em se adaptar ao modo de produção capitalista imposto pelos impérios anglo-saxões a partir da Revolução Industrial e do surgimento do capitalismo nos séculos XVIII e XIX — primeiro pelo Império Britânico e depois pelos EUA, de forma mais sutil e refinada (“soft power”).
Assim, o que ocorre?
Devido à atual “Segunda Guerra Fria”, como alguns especialistas chamam o conflito entre a República Popular da China e os Estados Unidos, abre-se neste século XXI uma janela de oportunidades para que o mundo hispanófono e lusófono — que são a mesma civilização em escala continental — se integrem diplomaticamente em organizações de política exterior.
O objetivo é organizá-los em um sentido pós-capitalista, superando as limitações que o capitalismo anglo-germânico protestante nos impôs, sustentado pela hegemonia de organismos como a OTAN e a União Europeia, produtos desse modo de produção.
Por isso, em Iberofonia e Socialismo (o das vanguardas), defendemos a organização desses 861 milhões de compatriotas de uma mesma civilização intercontinental em uma sociedade pós-capitalista, onde possamos nos encaixar melhor do que nos dois séculos de humilhação impostos pelo capitalismo anglo-saxão.
A importância desta obra reside nisso: combina as teorias geopolíticas de Durántez Prados com a filosofia de Gustavo Bueno e Felipe Martínez Marzoa, além das teorias de Marx e do marxismo moderno, em uma dialética civilizatória que é, essencialmente, um projeto. Pois o livro propõe um projeto geopolítico, social e civilizatório, já que somos uma civilização não reconhecida como tal em lugar algum.