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Patrimonialismo, Estamento e Autoritarismo: as Raízes do Totalitarismo Bolsonarista no Brasil. Por Josemar Ganho

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A trajetória política brasileira é marcada por uma persistente estrutura de poder patrimonial e estamental, cujas raízes remontam à formação colonial do Estado.

Max Weber definiu o patrimonialismo como uma forma de dominação tradicional em que o Estado é apropriado como propriedade pessoal do governante, confundindo-se os limites entre o público e o privado.

Raimundo Faoro, em sua obra seminal Os Donos do Poder, transplantou esse conceito à realidade brasileira, ao identificar que o Estado nacional surgiu como uma continuidade da administração colonial portuguesa, estruturado “de fora para dentro” e “de cima para baixo”, imposto por uma elite burocrática que nunca permitiu a formação de uma verdadeira esfera pública ou cidadania participativa.

Essa estrutura se consolidou no Brasil através da figura dos senhores de engenho, que detinham tanto o poder econômico quanto o político, constituindo o embrião de um Estado oligárquico.

O escravismo, enquanto base produtiva, e o coronelismo, como forma de controle local, reforçaram um ethos autoritário e clientelista que estruturou a sociedade brasileira em bases estamentais.

Nessa lógica, o acesso ao poder e aos direitos era definido pela posição em uma rígida hierarquia social, que ainda hoje se reproduz em diversas instituições.

O estamento burocrático identificado por Faoro, composto por juristas, militares e altos funcionários públicos, não surgiu como mediador democrático, mas como administrador do poder em nome das elites.

Ele é a face moderna do velho patrimonialismo.

Sua continuidade pode ser observada na atuação do “Centrão”, coalizão informal de partidos que atuam não com base em projetos de país, mas em interesses corporativos e negociações fisiológicas, funcionando como um sistema de troca de favores que perpetua o domínio das oligarquias sob o disfarce da legalidade republicana.

Nesse cenário, o bolsonarismo surge não como um fenômeno exógeno, mas como a radicalização desse arranjo histórico.

Seu conteúdo autoritário, antidemocrático e fascistizante é a expressão contemporânea de uma mentalidade de senhor de engenho: excludente, violenta, misógina, racista e hostil à pluralidade.

O bolsonarismo se ancora no ressentimento das classes médias, na nostalgia de um poder perdido, e no culto à força bruta como instrumento de ordenamento social.

Ele se alimenta da negação da política e da destruição do espaço público, enquanto simultaneamente reforça o velho pacto oligárquico através de alianças com o Centrão, aprofundando a captura do Estado por interesses privados.

Assim, o fascismo à brasileira não é um fenômeno europeu importado, mas sim uma reatualização do autoritarismo enraizado em nossa formação histórica.

É a permanência da Casa Grande sob a estética militarizada das redes sociais, da milícia urbana e do negacionismo anticientífico.

A democracia no Brasil, quando emerge, o faz contra esse legado.

E será somente pela crítica radical dessas estruturas patrimoniais e estamentais — e pela refundação popular e participativa do Estado — que será possível superar esse ciclo de autoritarismo e exclusão.

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