A mais recente movimentação no tabuleiro econômico do governo Lula revela muito mais que uma divergência técnica: trata-se de uma disputa política pelo comando da economia brasileira.
Gabriel Galípolo, atual condutor da Política Monetária do Banco Central e sucessor de Campos Neto na presidência da instituição, foi à imprensa e à academia defender posições que, na prática, enquadram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad:
- Um gesto calculado, que visa deslocar o centro de poder da política econômica – ainda mais – para o próprio Banco Central;
- Instituição, cada vez mais autônoma, blindada e afinada com os interesses do mercado financeiro.
Haddad, que desde o início do governo tenta “equilibrar” uma desmedida responsabilidade fiscal com compromissos sociais e de crescimento (não muito expressivos), tem sido sistematicamente desautorizado por Galípolo, por analistas do mercado e, mais recentemente, até por integrantes do próprio governo:
- Além disso, a figura de Simone Tebet – de viés claramente neoliberal – no Planejamento, antes vista como reforço à “governabilidade econômica”, hoje se apresenta de forma quase que decorativa;
- E, com isso, a estrutura que o governo tentou construir, no sentido da governabilidade com propósito desenvolvimentista, perdeu sustentação política.
A equação que se apresenta a Lula é brutalmente clara: ou o Presidente assume as rédeas da política econômica, enquadrando Galípolo e reorganizando sua equipe com um projeto de desenvolvimento soberano, ou continuará prisioneiro da armadilha montada pelo sistema financeiro e industrial — que já articula silenciosamente os termos da rendição de 2026.
Lula apostou em Haddad como uma espécie de ponte entre o mercado e o projeto progressista que o elegeu, mas, em nome do “equilíbrio, da transição e da responsabilidade” exigida pelo tal de mercado e seus porta vozes, a política do governo foi andar na corda bamba para fazer “o possível” – e se tornou a política da paralisia:
- O “novo arcabouço fiscal” não trouxe paz;
- Ao contrário, cristalizou a narrativa de que o problema da economia é o gasto público — mesmo com superávits recordes e receitas em alta.
Enquanto isso, a taxa Selic segue – artificialmente alta -, inviabilizando investimentos, asfixiando a indústria e condenando o país à estagnação.
Galípolo, “esperança” do governo para conduzir o BC – pós Campos Neto -, em vez de ser o ponto de diálogo entre o mercado e a possibilidade de uma política desenvolvimentista no Brasil, está demonstrando ser uma figura central da ortodoxia técnica:
- Sua recente exposição nos debates econômicos, soam como senha para o mercado de que tudo está como sempre e que nada vai mudar;
- Portanto, ou Lula enquadra Galípolo, ou será enquadrado.
O que está em jogo não é apenas a condução da economia, mas o próprio projeto político que levou Lula ao poder:
- O Presidente foi eleito com a promessa de combater a fome;
- Reindustrializar o Brasil;
- Retomar obras paradas, proteger os pobres e recuperar a soberania nacional.
Nada disso será possível com a presente política de juros do Banco Central, com cortes orçamentários, e com ministros fragilizados.
Não há mais espaço para a ilusão de que se pode agradar a todos. A política do “meio-termo” não funciona. Se Lula não agir, corre o risco de ser apenas o gestor de um governo tutelado por interesses que jamais aceitaram sua volta ao poder.
A história recente oferece exemplos:
- Dilma Rousseff foi emparedada pelo mercado e derrubada com apoio silencioso de parte da elite empresarial e financeira;
- Agora, o risco é semelhante — mas com novos rostos e estratégias mais sofisticadas.
A hora é de escolher. O Brasil precisa de um novo pacto nacional de desenvolvimento, centrado no investimento público, na industrialização, na valorização do trabalho e na reconstrução do Estado:
- Para isso, é preciso abandonar de vez o receituário neoliberal disfarçado de “responsabilidade”;
- A responsabilidade de verdade é com o povo brasileiro, não com os rentistas.
Presidente Lula, se o senhor quer marcar seu terceiro mandato na história – atuando em favor do Desenvolvimento do Brasil e a Melhoria na vida do Povo Brasileiro -, não pode mais continuar se omitindo diante do conflito central entre o Projeto Popular Soberano que o elegeu e os interesses do rentismo que o sabotam.
O senhor tem capital político, histórico e apoio popular para tomar essa decisão, mas precisa agir: escolher de que lado está – o lado do Povo ou da continuidade do regime da Selic alta e da paralisia fiscal – Não deixe seu terceiro mandato naufragar no mar das “boas intenções” reféns da ortodoxia econômica. A escolha não é técnica. É política. E a situação é urgente.