Foto Hickr
É bater com a cabeça na pedra, ir contra a realidade brasileira que está à vista de todos há muitos anos, e os homens de bom senso já perceberam isso faz tempo.
A inflação média no Brasil fica na casa dos 6%, 7% ao ano, desde os anos 80/90 do século passado.
Para o tamanho de um Brasil continente é razoável.
A razão é simples: no país, ainda, no eternamente chamado país futuro, tudo está por fazer.
Tem que gastar para realizar.
É a lição mundial do capitalismo.
Gasto não é despesa, é investimento.
No capitalismo, a despesa é paga pela sociedade por meio de impostos e o investimento – e seu retorno lucrativo – é abocanhado pelo capital monopolista.
Quem sabe dessa verdade comezinha, em primeiro lugar, é o próprio povo e o seu representante maior: o presidente Lula, que não cansa de repetir essa obviedade, que, não se sabe porque, deixou de lado, nesse seu terceiro mandato.
Gastou, realizou.
Poupança e investimento é uma dualidade que desafia os tempos.
Quem vem primeiro: a primeira ou a segunda?
Qualquer neófito sabe que se não investir não existe poupança.
Como poupar, se não se faz investimento?
Investimento é, antes de tudo, poupança.
A China está aí para provar: mudou seu regime político, para colocar o Estado a fazer gasto para acumular poupança e ampliar, ainda, mais os investimentos etc.
Xi Jinping, em “A governança da China”, explora o assunto, interminavelmente.
Os chineses passam os americanos na economia por seguir esse caminho, em vez de adotar o Consenso de Washington e seu tripé neoliberal: metas inflacionárias, superávit fiscal e câmbio flutuante.
Só os países subdesenvolvidos seguem essa regra neoliberal, razão pela qual são pobres e subdesenvolvidos; não são protagonistas, são subjugados.
Do ponto de vista individual, pode até ser verdade.
O indivíduo acumula para ter uma renda futura.
Mas, do ponto de vista coletivo, é altamente questionável.
Acumular socialmente é um ato produtivo gerador de riqueza, que, no capitalismo, é apropriada pela burguesia por meio da mais valia, trabalho não pago ao assalariado etc, como ensina Marx, em O Capital.
Se não há produção, é razoável concluir que a sociedade não terá poupança, porque não investiu.
E a produção é um ato não de poupança, mas de investimento etc.
A razoabilidade, aliás, está na Constituição, como fruto da sabedoria popular, que produziu, falando nisso, a cabeça dos líderes maiores do Brasil, como Getúlio, Juscelino e Lula.
NEGAÇÃO DA RAZOABILIDADE POLÍTICA
Se, ainda, praticamente, tudo está por fazer, no Brasil, como concluíram economistas brasileiros de várias tendências ideológicas progressistas – nacionalistas, socialistas, marxistas etc, como Ignácio Rangel, Celso Furtado, Álvaro Vieira Pinto, Ruy Mauro Marini, Delfim Neto, Luiz Gonzaga Belluzzo, Paulo Nogueira Batista Junior, Ladislaw Doubor etc, todos com larga experiência nacional e internacional, a repetirem ad aeternum o mesmo diapasão –, é lógico e razoável concluir que trabalhar com inflação irrealista, como se tenta, atualmente, é bater com cabeça na pedra.
Insistir, como faz o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contra todas as evidências, em escalar déficit zero para conquistar inflação de 3%, sintonizado com a demanda do mercado financeiro, o único que ganha e enriquece com essa estratégia, é jogar o governo permanentemente na armadilha social que lhe destrói politicamente nas eleições.
As contradições se multiplicam: corta-se gasto em educação e as universidades entram em colapso; para consertar o erro, catalisador de pressões sociais, busca-se alternativa salvacionista para compensar o corte de gasto; é como cuspir na cara dos estudantes e chamá-los, depois, para beijá-los; tiro no pé.
Buscar o déficit zero e a inflação anual de 3% são fábricas de crises políticas; toda semana tem um pepino no Congresso.
A dor de cabeça que a escorregada do IOF produziu politicamente é um desarranjo provocado pelo arcabouço fiscal, assim como a crise contratada contra as universidades, que vai cobrar caro nas urnas em 2026.
A cada semana, o arcabouço fiscal produz uma complicação política que fragiliza politicamente o governo nas urnas.
Isso vem acontecendo desde que o presidente, em nome do ajuste fiscal, jogou fora sua história política salarial pró-social, ancorada no reajuste do salário mínimo mais reajuste do PIB dos dois anos anteriores.
A maior conquista social da Era Lula.
De lá para cá, só passivo social crescente: cortes no BPC, destruição do abono salarial, diminuição das verbas sociais decorrentes da desvinculação do salário mínimo dos programas sociais distributivos de venda etc.
Entrou-se, com o arcabouço em espiral de baixa da renda dos miseráveis, na base da pirâmide social.
TAXAR OS RICOS, UMA QUIMERA
Estava escrito nas estrelas que o mercado financeiro não aceitaria o aumento do IOF; é justo, porque cobraria mais de quem tem para pagar o prejuízo de quem não tem: a Universidade em colapso financeiro.
Por que então se provocou o desarranjo da crise universitária e do aumento da IOF, como se a solução para um, fosse necessária a solução para a outra?
Chiaram e continuam chiando as duas partes – cortar gastos e aumentar imposto para taxar os ricos – produzindo desgaste político dúbio para o Planalto.
Não se pode afastar a possibilidade dos estresses de saúde que o presidente vem sofrendo como decorrente das preocupações com o desgaste político que produz o arcabouço fiscal neoliberal.
Nem o presidente acredita nas previsões da tecnocracia: meta inflacionária de 3% para alcançar déficit zero ou superávit primário como preço para pagar os juros mais altos do planeta ao rentismo especulativo.
O Brasil está debaixo de tirania financeira que representa o sobre-valor extraído da colônia para satisfazer a exploração da metrópole colonial, que arrecada, só de juros, R$ 1 trilhão por ano, 30% do orçamento.
Como industrializar, valorizar o produto agregado, gerar emprego de qualidade e elevar a produtividade permanentemente para competir industrialmente no mercado global, altamente competitivo, se tem de pagar custo inflacionário de R$ 1 tri da dívida pública, que não gera um centavo de produtividade?
SEMIPARLAMENTARISMO, A ARMA POLÍTICA DA EXPLORAÇÃO
No Brasil, essa estratégia de exploração colonial está sendo possível, nesse momento, porque os rentistas dominaram o poder e impuseram ao Congresso, composto por uma elite agrária conservadora e reacionária, resistente à reforma agrária capitalista, uma subversão institucional: destruição da república presidencialista constitucional, dominada pela esquerda liberal, para colocar, no seu lugar, um semiparlamentarismo ou semipresidencialismo inconstitucional, bancado pelo mercado financeiro por meio de aprovação de emendas inconstitucionais, que inviabilizam governabilidade democrática.
O Brasil está aprisionado pelo rentismo, pela tirania financeira, a impor a irrazoabilidade econômica, expressa na perseguição irracional de uma inflação irrealista de 3% para alcançar déficit zero ou superávit primário, cujo objetivo é impor taxa de juro extorsiva, que não deixa o país crescer, sustentavelmente.
É o domínio completo da ditadura do capital, que nega a realidade política para acelerar o empobrecimento financeiro do Brasil.