O Brasil, em sua história moderna, foi moldado por líderes que ousaram enxergar o povo como sujeito de direitos e não como massa descartável ao sabor dos interesses da elite:
- Entre esses líderes, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Luiz Inácio Lula da Silva protagonizaram momentos fundamentais de virada nacional;
- Nos quais o Estado deixou de ser mera extensão do poder oligárquico e passou a ser instrumento de transformação social e econômica.
Getúlio inaugurou a cidadania no Brasil, ao consolidar as Leis do Trabalho, instituir o Salário Mínimo, criar a Justiça do Trabalho e dar início a uma política de industrialização autônoma:
- Dessa forma, forjou uma ideia de nação soberana, com um povo incluído nas decisões do presente e no projeto de futuro;
- Tirando o Brasil da República Velha e nos colocando no caminho do desenvolvimento.
Seu compromisso com os trabalhadores lhe rendeu o título simbólico de “Pai dos Pobres”, na verdade, o fundador de um pacto social que ainda hoje resiste às investidas do rentismo e do neoliberalismo. E é justamente por isso que é constantemente atacado.
Juscelino, por sua vez, encarnou o otimismo desenvolvimentista do pós-guerra. Sob o lema “Cinquenta anos em cinco”, promoveu uma profunda transformação no perfil econômico do país, com a construção de Brasília, a abertura de novas rodovias e a interiorização do desenvolvimento:
- Foi ele quem descentralizou o eixo do progresso, dando ao Brasil a dimensão de como o interior também fazia e (e faz) parte do nosso futuro;
- JK, como era conhecido, conforme cantou Luiz Gonzaga, foi maquinista no processo da modernização do país, um político que, da mesma forma que Getúlio, governou em função da ideia de fazer o Brasil uma nação pujante.
Enquanto João Goulart (Jango), que quase foi impedido de assumir em 1961 quando era vice-presidente na ocasião da renúncia de Jânio Quadros, teve a sua posse garantida graças à fervorosa Campanha da Legalidade comandada por Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul – outro dos grandes ícones nacionalista brasileiro:
- No entanto, após defender as chamadas reformas de base, que incluíam os setores educacional, fiscal, político e agrário no comício da Central de Brasil, no Rio de Janeiro;
- Jango, foi deposto — no golpe militar de 1964 — e substituído pelo Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, que deu início à ditadura que perdurou até 1985.
E então veio Lula — operário, retirante, símbolo da luta popular em um momento delicado da história do país no contexto de uma brutal ditadura militar. Lula emergiu dos movimentos grevistas no ABC paulista no final dos anos 70, e sua trajetória política caracteriza-se por dar continuidade a um projeto de nação popular e soberano:
- Uma trajetória não apenas política — mas civilizatória;
- Que, ao colocar o combate à fome como prioridade, ao retomar a valorização real do Salário Mínimo, ao investir na educação técnica e superior, ao interiorizar universidades e institutos federais, ao ampliar o acesso à energia, à água, à moradia e à cultura, não apenas repetiu as marcas dos grandes líderes que o antecederam — as atualizou.
O Brasil de hoje enfrenta desafios imensos: fome ressurgente, concentração de renda quase intocável, desigualdades regionais e a herança de uma destruição institucional promovida por governos que serviram aos interesses externos e ao capital especulativo:
- E, em meio a tudo isso, Lula vem tentando recuperar o papel do Estado como indutor do crescimento e garantidor da dignidade humana;
- Com ele, mais uma vez, o título de “Pai dos Pobres” se fez presente, ao representar o Presidente nesse agudo momento de enfrentamento aos interesses do capital transnacional e seus prepostos locais;
- Um título que não é símbolo de paternalismo, mas de reconhecimento da parte da população que mais sofreu com o abandono das elites e o avanço das políticas neoliberais nos últimos anos.
Mas, esse mesmo país, destroçado pelas nefastas políticas neoliberais e cuja “elite do atraso” não apresenta qualquer senso de pertencimento e empatia com o povo, possui um potencial incomparável — riquezas naturais, capacidade industrial, inteligência técnica e, acima de tudo, um povo criativo e resistente, que são a base para a retomada de um projeto nacional soberano e inclusivo.
Em pleno século XXI, a retomada desse projeto nacional exige, como no passado, ousadia, planejamento e compromisso com a soberania e, além de liderança, da efetiva participação do povo:
- Getúlio nos deu o Estado como ferramenta do povo, com o trabalho como o alicerce do desenvolvimento nacional e o investimento nos direitos políticos, civis e sociais como base da cidadania;
- JK nos mostrou que o futuro precisa ser construído aqui, com os pés no chão do Brasil profundo;
- Jango teve a ousadia de confrontar interesses poderosos e apresentar medidas que poderiam minimizar os problemas sociais e mudar a condução da economia no país em favor de todos os brasileiros;
- E Lula, com a legitimidade de quem emergiu das entranhas da pobreza, nos lembra que não há desenvolvimento possível se milhões continuarem à margem da cidadania, da renda, do acesso à educação, à saúde e à dignidade — ou seja, da própria ideia de Nação.
A história não é um retrato estático do que fomos, mas um espelho do que podemos ser. Getúlio, JK, Jango e Lula não foram apenas presidentes — foram sínteses de momentos em que o Estado se alinhou aos anseios populares, oferecendo respostas concretas às injustiças históricas que marcaram o Brasil desde a sua formação:
- Nesse sentido, eles representam pontes entre circunstâncias históricas do passado e o desafio do presente;
- E, também, o caminho para superação do entreguismo e do presente desmonte (galopante) da economia nacional.
O Brasil que queremos — justo, desenvolvido, soberano — está ao alcance de nossas mãos, desde que não esqueçamos de onde viemos, pelo que lutamos e pelo que ainda precisamos lutar.
Hoje, a tarefa que se coloca à nossa frente é a de dar continuidade a essa tradição transformadora:
- Não se trata de repetir fórmulas, mas de aprender com elas;
- Ter ousadia de construir e coragem de enfrentar os interesses dos poderosos – e o compromisso inegociável de colocar o povo no centro das decisões.
O Brasil precisa de um novo ciclo de desenvolvimento que una crescimento econômico com justiça social, reindustrialização com sustentabilidade, progresso tecnológico com inclusão:
- E esse processo de reconstrução nacional exige ação coordenada;
- Mobilização social;
- Clareza de propósito e um Estado forte, democrático e presente.
Se Getúlio nos legou a cidadania trabalhista, JK apontou o caminho da modernização, Jango a coragem e ousadia de enfrentar os poderosos e Lula nos ensinou que o povo pode — e deve — ser protagonista.
Cabe agora às novas gerações atualizar esse legado à luz dos desafios contemporâneos: a transição ecológica, a revolução digital, a soberania alimentar e energética, e a construção de uma democracia verdadeiramente popular: que não nos falte, portanto, coragem para enfrentar os retrocessos, nem memória para resgatar as grandes conquistas.
O futuro é sempre um projeto em disputa — e o Brasil só se tornará, de fato, a grande Nação para a qual está destinado quando todos os seus filhos e filhas puderem viver com dignidade, trabalho, educação, saúde, cultura e esperança.
Como disse Darcy Ribeiro – outro gigante na luta pelo desenvolvimento soberano do Brasil -, “fracassei em quase tudo o que tentei na vida: tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui… tentei salvar os índios, não consegui… tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente, não consegui. Mas os meus fracassos são minhas vitórias… e eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”
Que saibamos aprender com os que ousaram sonhar o Brasil e fazer desse sonho um projeto coletivo de Nação, justa, soberana e para todos. Para que nunca mais sejamos um país adiado, e possamos, enfim, novamente parafraseando Darcy Ribeiro, afirmar nossa identidade e realizar nossas potencialidades livres de nossas medíocres e infecundas classes dominantes, que desavergonhadamente entregam de mão beijada o patrimônio nacional – verdadeiros lacaios do capital transnacional que se aprazem por ver o nosso povo impiedosamente explorado.
Essa é a missão de nosso tempo — e o desafio das próximas gerações.