O agronegócio brasileiro se promove como “pop”, “moderno” e “eficiente”.
Mas por trás da propaganda milionária está um modelo concentrador de terra, dependente de recursos públicos e baseado na exploração brutal da mão de obra.
Um primeiro ponto a ser destacado, é que apesar do Brasil, em comparação com EUA ou União Europeia, destinar menos subsídios diretos ao agronegócio, o agro brasileiro se apoia fortemente em subsídios indiretos que drenam bilhões dos cofres públicos, através de:
- Crédito rural subsidiado;
- Infraestrutura bancada pelo Estado;
- Renúncias fiscais;
- E apoio à exportação.
Nesse contexto, as grandes propriedades concentram o acesso ao crédito com juros abaixo do mercado, sem a mesma exigência de contrapartidas sociais ou ambientais que se impõe a pequenos produtores, e uma infraestrutura bancada pelo Estado, com rodovias, ferrovias, portos e hidrovias construídos e mantidos com dinheiro público para escoamento da produção voltada à exportação:
- Além disso, recebem apoio à exportação via mecanismos como o crédito ao produtor rural exportador, hedge cambial subsidiado e apoio diplomático;
- E, através de renúncias fiscais, recebem isenções em ICMS, ITR, Pis/Cofins e até mesmo no uso de agrotóxicos, que não só geram impactos ambientais, como afetam a saúde da população.
Ou seja, o agro se diz eficiente, mas mama nos cofres públicos, enquanto o pequeno agricultor familiar — responsável por 70% dos alimentos que vão à mesa do brasileiro — é frequentemente abandonado.
Outra questão importante, que precisa ser amplamente denunciada e veiculada, é que o setor agropecuário brasileiro é campeão nacional em trabalho escravo no século XXI:
- Segundo dados oficiais, mais de 76% dos trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão desde 1995 estavam no setor rural;
- Principalmente em atividades como a colheita de café, o corte de cana, o desmate ilegal, a criação de gado e a produção de soja.
E mais, mesmo quando há registro em carteira, os salários pagos pelo setor – são baixíssimos:
- Muitas vezes, o valor recebido mal cobre o custo de vida do trabalhador rural;
- Que enfrenta condições precárias de moradia, jornadas exaustivas e ausência de direitos básicos;
- Em alguns casos, trabalhadores são alojados em ônibus abandonados, sem banheiro, água potável ou alimentação digna — como no caso recente de resgate em Nova Ubiratã (MT), coração do agronegócio brasileiro.
Além disso, apesar de seu discurso, o agro também não é o responsável por garantir a alimentação do povo:
- Longe disso — de acordo com o Censo Agropecuário do IBGE, o agronegócio está voltado à exportação, com produtos como soja, milho e carne sendo direcionados principalmente à China e à Europa;
- Enquanto isso, o Brasil enfrenta um processo de insegurança alimentar crescente.
O paradoxo é evidente: um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas com milhões passando fome.
Na verdade, mais de 70% dos alimentos consumidos no Brasil vêm, mesmo, é da agricultura familiar, que pouco apoio institucional oficial recebe, enquanto o agro é subsidiado, apesar do seu perfil altamente explorador e excludente.
Enfim, enquanto se beneficia do Estado o agronegócio não garante comida de verdade nem trabalho digno para os brasileiros:
- Tudo isso sustentado por um modelo que, além de tudo, avança sobre terras públicas e territórios tradicionais por meio da grilagem, alimentando conflitos fundiários desiguais contra povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e pequenos agricultores;
- E envenena o solo, a água e a população com o uso desmedido de agrotóxicos — muitos deles proibidos em outros países, mas largamente aplicados no Brasil com apoio legislativo e lobby empresarial.
Romper com essa lógica, portanto, não é apenas necessário — é urgente:
- O Brasil precisa de uma nova política agrícola que enfrente a concentração fundiária;
- Combata o trabalho precário;
- E coloque a vida no centro do modelo de desenvolvimento implementado na agricultura nacional.
O campo precisa deixar de ser um território de exclusão para se tornar um pilar de justiça social, desenvolvimento sustentável e segurança alimentar para todos os brasileiros.
Isso passa, entre outras coisas, por investimentos estruturantes em reforma agrária, assistência técnica, crédito justo e valorização da agricultura familiar.