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Lula tenta isolar direita fascista e atrair centro direita para garantir governabilidade via pacto contra juros altos

Por César Fonseca

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Em: 10-03-2023

Por incrível que pareça, chega em boa hora o escândalo das Arábias, das joias “presenteadas” ao ex-presidente Bolsonaro pelos sheiks dos emirados, como suposto pagamento de propina pela negociata da refinaria da Petrobrás, Landulpho Alves, na Bahia, a preço de banana. Favorece o governo e cria fato político que racha base bolsonarista de modo a criar condições para a governabilidade do presidente Lula no Congresso nacional para o qual já se dirige, como denota o encontro Lula-Lira, nesta quinta-feira, 9.

O escandaloso episódio transformou Bolsonaro em persona non grata da qual todos querem fugir, principalmente, seus aliados, evidenciando desmembramento e evaporação do bolsonarismo fascista. O desgaste político do ex-presidente está à vista e, como diz seu ex-vice-presidente, hoje, senador general Hamilton Mourão (Republicanos-RS), vira preocupação central das forças conservadoras no Legislativo, que fazem oposição ao presidente comandante da Frente Ampla.

Os correligionários mais importantes de Bolsonaro, como, por exemplo, o governador de São Paulo(PL), Tarcísio de Freitas, querem vê-lo pelas costas. Cogitá-lo, agora, como parceiro político, no estado mais rico da Federação, representa, para titular dos Bandeirantes, caixão e vela preta, ou seja, nem pensar.

A volta do ex-titular do Planalto dos Estados Unidos, onde foi procurar apoio contra sua desgraça política junto ao seu aliado Donald Trump, simplesmente, gera calafrios na sua base política. Configura-se, dessa forma, o óbvio: a direita fascista ultrarradical neoliberal bolsonarista mostra-se abalada em suas bases e seu aliado político de conveniência, o centro direita, tenta-se, no ambiente tumultuado do escândalo das Arábias, desgarrar-se dela; Caso contrário, vai se queimar e, consequentemente, inviabilizar-se, eleitoralmente, tanto nas eleições municipais, em 2024, como, em 2026, sucessão presidencial.

MOMENTO PARA O BOTE LULISTA

Eis, portanto, o momento exato para Lula aproveitar as circunstâncias extraordinárias que lhe favorecem no sentido de isolar a direita fascista e atrair o centro-direita para garantir governabilidade. O presidente tem como seu principal inimigo, o braço amigo do fascismo, ou seja, os credores do Estado Nacional, responsáveis por manipular o Banco Central Independente de modo a sustentar o que lhe favorece, egoisticamente: a elevada taxa de juros. Trata-se de fator impeditivo da retomada do crescimento econômico com justa distribuição da renda nacional. Esse impeditivo econômico fascista, porém, é faca de dois gumes, do ponto de vista popular, pois, ao inviabilizar a economia, prejudica todas as classes sociais, exceto os componentes da bancocracia financeira, o verdadeiro poder.

PACTO CONTRA OS JUROS ALTOS

Nesse contexto, cai como uma luva, para Lula, a proposta do economista Gustavo Santos, do BNDES, autor do livro “Resgate econômico pelas finanças funcionais”, de realização de pacto social pelos juros baixos, sem o qual entra em colapso a governabilidade. Gustavo, em seu artigo, no Brasil 247, intitulado “Juros e pacto social”, reporta ideia do empresário Rubens Menin, fundador da maior construtora de residências do Brasil, a MRV, do Banco Inter e da CNN Brasil. O que Menin diz, lembra Gustavo, significa sugestão não de cunho revolucionário, mas, realista e pragmático, de alguém que não sobreviverá, como empreendedor, se for mantida a taxa Selic 13,75%, imposta pelo Banco Central Independente(BCI), de cunho monetarista ultra neoliberal antinacionalista.

A estratégia do BCI de fixar meta muito baixa de inflação, como se o Brasil fosse país ultra desenvolvido, sem problemas sociais para resolver, para justificar, preventivamente, taxa de juro alta, como arma de combate à pressão inflacionária, apenas, favorece a banca, enquanto afunda a economia. Sobretudo, é ruim para as classes médias, cujos representantes, no Congresso, são os componentes do centro direita, aliados por enquanto, por conveniência, com a direita fascista bolsonarista, no entanto, abalada pelo escândalo das joias árabes.

O centro direita continuará, depois desse fato, politicamente, impactante e desgastante, com aliado tão inconveniente, aos olhos da população, extenuada pela recessão econômica neoliberal patrocinada pelo BC Independente, que paralisa as atividades produtivas e acelera privatização das grandes empresas estatais, como Petrobrás e Eletrobrás, acelerando concentração de renda e desigualdade social? A proposta de Menin, ressaltada por Gustavo Santos, é uma pancada federal no Bolsonarismo radical antinacionalista, sobrevivente na política monetarista do Banco Central. Ela justificaria, em contrapartida, posição reagente do Centro Direita que, circunstancialmente, combina com a política da Frente Ampla lulista.

HERANÇA MALDITA DOS TUCANOS

Menin justifica sua proposta de pacto pelos juros como necessidade de correção do que não aconteceu quando do lançamento, na Era FHC, do Plano Real. A sobrevalorização do câmbio, de forma artificial, reduziu a inflação, assegurou vitória eleitoral de FHC, mas amorteceu o espírito social quando ao que se tornaria, desde então, uma norma econômica autodestrutiva, a prática de juros elevados, hoje, o câncer que corrói as forças produtivas pela ação das forças especulativas, destrutivas. Anos depois, os próprios formuladores do Plano Real, como os economistas André Lara Resende e Armínio Fraga, fariam mea-culpa dos juros escorchantes, responsáveis pela tensão crescente da luta de classes no país. Hoje, tanto Resende quanto Fraga, consideram erro ter sustentado por tempo prolongado taxa de juro acima do crescimento do PIB, que resultou em estrangulamento da renda per capita e explosão da desigualdade social, responsável por fragilizar moeda e desindustrialização.

Os juros, extremamente elevados, disfuncionais, são, portanto, herança tucana que os próprios tucanos hoje condenam. Por se transformarem em garrote social, a solução jurista neoliberal tucana-bolsonarista, que se transformou em problema, terá que ser resolvida não mais no plano econômico e financeiro, mas, essencialmente, político, no palco do Congresso. O resultado trágico da estratégia neoliberal tucana com o Plano Real, agravada, hoje, pela recessão, desemprego e instabilidade social, aprofundada pelo bolsonarismo fascista, depois do golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, requer, segundo o empresário Rubens Menin, pacto pela derrubada dos juros.

LULA TRANSFERE SUA AÇÃO POLÍTICA PARA CONGRESSO

Lula começou a buscar, nesta quinta-feira, em encontro com o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira(PP-AL), a materialização da proposta política do empresário Menin, descrita pelo economista Gustavo Santos, como saída para a governabilidade. Só ela romperá o bloqueio irracional da política monetarista do Banco Central que favorece, apenas, a classe rentista. Torna-se, sem o pacto pelos juros baixos, impossível ao presidente colocar em prática a economia política que prometeu em campanha eleitoral de desenvolvimento com justiça social.

BCI FASCISTA RACHA A OPOSIÇÃO

Até o momento, a oposição, formada pela direita fascista radical bolsonarista, de um lado, e o centro direita, de outro, tem sustentado o discurso irracional fascista do BC Independente, porque sabe que ele é arma política para derrotar eleitoralmente Lula. Mas, trata-se, evidentemente, de faca de dois gumes: o monetarismo fascista prejudica não apenas Lula, mas, igualmente, a oposição, que já está em processo de desmembramento, favorecido pelo escândalo do roubo das joias das Arábias.

Cresce, desde já, movimento por CPI para investigar roubo das joias que desembocará na destruição política do bolsonarismo direitista radical a ser abandonado pelo centro-direita. É nesse vácuo que Lula deve entrar para atrair o centro e esvaziar a direita radical, banda podre exposta pelo roubo das Arábias.

NOVAS CIRCUNSTÂNCIAS EMERGENTES

As novas circunstâncias criadas pelo escândalo das joias – fato político novo – deixam o centro-direita sem chances de vitória, se ficar ao lado da ultradireita bolsonarista fascista. Para o centro-direita, em termos relativos, pegar carona com a Frente Ampla lulista, seria vantajosa saída salomônica. Lula seria base de apoio fundamental para o centro-direita contra a ultra direita nazi-bolsonarista da qual se distancia para não ser confundido e repudiado pelo escandaloso episódio das arábias. Assim, o titular do Planalto, isolando a ultradireita neoliberal e atraindo a direita liberal para o discurso desenvolvimentista que pacto pelos juros baixos favorece, abre espaço para aprovação no Congresso das propostas que vendeu em campanha eleitoral, embora esteja ali em minoria parlamentar.

Ao lado disso, evidentemente, a Frente Ampla tem que ir para as ruas mobilizar a base social lulista para ganhar corpo político na luta contra a maioria conservadora no Legislativo. Seria a forma de abrir possibilidade, pelo menos, para aprovar o programa social e a reforma tributária de caráter desenvolvimentista que os fascistas ainda rejeitam sob pressão da bancocracia, única favorecida pelo status quo neoliberal antinacionalista bancado pelo BCI.

Fontes:
https://www.brasil247.com/blog/juros-e-o-pacto-social
https://www.brasil247.com/…/lula-se-reune-com-lira-e…

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