O presidente Lula, que já nos próximos dias volta a trabalhar, graças ao sucesso da cirurgia no quadril, vê, como político genial, longe.
Ao que tudo indica, deverá indicar o ministro da Justiça, Flávio Dino, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal, no lugar da ministra Rosa Weber, que está se aposentando.
Mataria dois coelhos com uma só cajadada: garantiria apoio do ministro ao governo na Suprema Corte, de um lado, e, de outro, livraria dele como adversário em 2026.
De um lado, há a pressão dos assessores do presidente para que não indique o ministro ao cargo.
Desfalcaria o governo, porque Dino atua como uma espécie de coringa, capaz de jogar em todas as posições, como o grande Lima, meia atacante, no time de Pelé, no velho Santos de muitas glórias, sem destronar o Rei.
Ao necessitar dele para emergências políticas num cenário de incertezas permanentes, Lula se sossegaria quanto ao enfrentamento de incêndios.
Ficou famosa a presença de Dino no Congresso onde desancou espetacularmente os bolsonaristas ultrarradicais, com suas investidas fascistas negacionistas.
Utilizou argumentos irrefutáveis e de bom senso, que evidenciaram sua competência para enfrentar e vencer emergências.
Tanto é verdade que os bolsonaristas e adversários em geral de Lula renunciaram à convocação posterior dele para debates apimentados.
Saiu-se muito bem da tarefa, sempre dando volta por cima.
Ou seja, Lula, com esse ministro polivalente, dispõe de escudo político seguro capaz de livrá-lo de enrascadas.
A exuberância de Dino no debate das questões institucionais arregimenta plateias.
É um showman da política etc.
Seu prestígio se amplia como o governista mais capaz de dar sustentação ao presidente.
E, nessa condição privilegiada, suas chances de evoluir, politicamente, diante dos adversários, que temem o seu prestígio e capacidade inegáveis, crescem, exponencialmente, em especial, no governo de coalisão.
Se ele é deslocado, por Lula, para o STF, o governo ficará privado do seu brilhantismo e os adversários, tanto interno quanto externos, se sentirão aliviados, relativamente.
Dialética política
Ocorre que há o outro lado da moeda, dialeticamente.
O crescimento do prestígio de Dino alimenta suas chances de vir a ser candidato a presidente da República, se Lula não disputar segundo mandato, como antecipou, antes de tomar posse, embora, depois da posse, tenha deixado em aberto a possibilidade de candidatura.
Como político de centro, mais do que de esquerda, Dino pode, num cenário de desgaste de Lula, especialmente, se a economia não se engrenar diante das regras neoliberais impostas pelo Congresso conservador e do BC Independente, aliado dos especuladores financeiros, vir a ser visto para um amplo espectro de visões políticas, da esquerda à direita, passando pelo centro.
De esquerda, sabe-se que ele não é.
Não possui confiança dos petistas em geral, embora tenha desarmado a bomba do golpe de 8 de janeiro.
Ele deixou explícita a posição dele no plano geopolítico, em palestra em Portugal, que a opção fundamental do Brasil é pelo Ocidente, pelos Estados Unidos, enfim, no contexto dos conflitos internacionais, expressos na Guerra na Ucrânia.
A Casa Branca, portanto, não teria dúvida em contar com o ministro da Justiça como aliado.
Essa certeza dos americanos foi alimentada pela própria teorização geopolítica de Dino, o que nem Lula ousou tanto, ao lado do seu principal assessor geopolítico, o diplomata Celso Amorim.
As elites nacionais, que fazem voto de fé nos Estados Unidos, para definir posição brasileira, no cenário da geopolítica global, têm em Dino- nordestino e popular – homem providencial pelo qual pode optar, se Lula não for candidato em 2026.
A costura de Dino com o Congresso conservador neoliberal estando na condição de candidato à presidência em 2026 seria mais palatável do que qualquer outro candidato da Frente Democrática, caso Lula não seja o candidato etc.
O alinhamento de Dino, distante da classe trabalhadora, aos Estados Unidos, como ficou clara sua posição já expressa, nesse sentido, no plano geopolítico, algo que nem Lula ainda se definiu com clareza e determinação, sendo homem dos BRICS e presidente do G20, o favoreceria em Washington.
Assim, se Lula, desde já, decide, pragmaticamente, livrar-se, politicamente, de Dino, encaminhando-o ao STF, desarmaria, imediatamente, a arapuca.
Mataria dois coelhos com uma só cajadada: 1 – preservaria Dino como aliado do governo na suprema corte; 2 – eliminaria um adversário provável em 2026.
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