A geopolítica dos Estados Unidos para a América Latina e América do Sul é manter predominante a Doutrina Monroe que consubstancia a América para os americanos do norte, o que faz necessário manter os adversários de Washington divididos para o império dominar.
A jogada imperialista na América do Sul é manter divididos Venezuela e Brasil, os mais ricos em petróleo, do qual os Estados Unidos passaram a depender mais visceralmente, depois do fim do Acordo EUA-Arábia Saudita, vigente de 1994 a 2024, que acabou o petrodólar.
Era o petróleo árabe que garantia o aval do dólar depois que a moeda americana descolou do padrão ouro e entrou em flutuação global, a partir de 1974.
Por isso, os Estados Unidos precisam garantir o fornecimento de petróleo sul-americano de modo a garantir estabilidade ao dólar.
A alternativa que as petroleiras americanas utilizaram, do petróleo russo, deixou de acontecer depois do início da invasão da Rússia à Ucrânia.
Elas se voltam para a Venezuela, fazendo acordo com o presidente Maduro, com duração até 2050, razão pela qual Washington se encontra prisioneiro de Caracas para abastecer o mercado americano de petróleo, complementando suas reservas.
O jogo duro de Washington contra Maduro está entrando em processo de relativo arrefecimento porque o império precisa do petróleo venezuelano, como base de sustentação do dólar, de modo a garantir emissão de moeda para bancar a indústria de guerra.
MILITARES VENEZUELANOS RESISTEM AO GOLPE DA SUPERESTRUTURA IMPERIALISTA
O jogo geopolítico americano é tentar se impor autoritariamente sobre Nicolás Maduro, ameaçando com golpe cibernético eleitoral terrorista o poder chavista.
Mas essa estratégia imperialista está sendo barrada pelos militares venezuelanos que prometem resistir às pressões de Washington, para garantir o mandato constitucional de Nicolás Maduro.
Os militares venezuelanos se levantaram na primeira hora do golpe das atas eleitorais para destacar que Venezuela está sob ataque cibernético desencadeado por Washington, para tentar uma mudança de regime no país, afastando o chavismo, do qual são legítimos representantes e comandantes.
O poder militar venezuelano, em aliança com a população, foi a geopolítica nacionalista latino-americana montada por Hugo Chavez para resistir aos golpes de Washington.
De 1999, quando ele chegou ao poder, até, hoje, 2024, foram 7 golpes, estando o oitavo em andamento, para cumprir a tarefa golpista imperialista de garantir o petróleo, mais do que nunca necessário, para sustentar a moeda americana.
A desestabilização monetária é o grande medo de Washington, que, há duas semanas, balançou os mercados especulativos globais, em relação às apostas contra a dívida pública americana que ultrapassa a casa dos 35 trilhões de dólares.
Wall Street está mais sensível do que nunca diante dos perigos que o excessivo endividamento imperial transmite aos mercados, deixando-os propensos às fugas de capital, especialmente, depois do fim do petrodólar.
O ponto de apoio de Maduro, os militares, em associação com o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), é a espinha de bacalhau na garganta de Washington.
Ao contrário dos demais militares latino-americanos tradicionalmente aliados dos Estados Unidos, desde o pós segunda guerra, e sempre disponíveis para serem utilizados para dar golpes em governos incômodos à Casa Branca, os militares da Venezuela são anti-americanos e pró-sulamericanos, obedientes não à geopolítica de Washington mas à geopolítica chavista de que o norte da América Latina é o sul, institucionalmente, articuladas pela Unasul e Celac.
RESISTÊNCIA AO NEOLIBERALISMO
Caracas, apesar das violentas sanções econômicas americanas, não se rendeu ao neoliberalismo de Chicago, e aproveita agora a maré favorável da dependência dos Estados Unidos do petróleo, fazendo acordo com Washington, sem renunciar à soberania e controle do seu petróleo estratégico, maior reserva mundial, com 300 bilhões de barris.
O PIB da Venezuela, segundo a CEPAL, deverá crescer 5% em 2024, maior taxa na América Latina, informa o Correo del Orinoco.
Washington tenta impor a superestrutura capitalista institucional golpista para aprisionar a infraestrutura sul-americana, isto é, a base econômica do petróleo, o que, realmente, lhe interessa.
O obstáculo é a consciência política que Chávez montou na Venezuela com a aliança cívico-militar anti-Washington, sem mais as raízes do domínio americano sobre a velha estrutura militar venezuelana removida pelo chavismo, de modo a renovar ideologicamente as forças armadas, propensas à geopolítica alternativa da multipolaridade dos BRICS contra a unipolaridade washingtoniana.
DESAFIO À DIPLOMACIA BRASILEIRA
A diplomacia brasileira, nesse cenário, está sendo chamada pelas circunstâncias globais históricas emergentes a agir para além do neutralismo cultivado pelo Itamarati, em nome da interdependência dos povos, para posicionar-se como caminho do meio, equidistantes, de um lado, dos Estados Unidos, de outro, da força emergente China-Rússia, mediante fortalecimento do sul global com os BRICS.
O unilateralismo americano foi deixado de lado pela Venezuela em nome de nova geopolítica alternativa, a do multilateralismo, encarnado no BRICS, que tem por trás o poder militar russo e o poder econômico chinês, que ultrapassa o poder unilateral americano e seu braço, o G20, mergulhado em crise financeira especulativa.
Nesse contexto, o pragmatismo diplomático latino-americano não é pedir, como quer Washington, para Maduro apresentar atas, sucumbindo-se à superestrutura jurídica do império, que tenta subjugar a infraestrutura econômica venezuelana assentada no petróleo, nova moeda real que garante sustentabilidade do dólar, sem lastro real.
O papel moeda americano depende do aval do petróleo, para financiar guerras, vocação do império americano, no cenário da financeirização, sujeita às bolhas especulativas.
Sem o petrodólar, agora, com a marca venezuelana e não mais árabe, o dólar fica sujeito às instabilidades cambiais e monetárias no cenário do neoliberalismo em colapso financeiro.
OBRADOR, O PRAGMÁTICO
Mais pragmático do que Lula está sendo López Obrador, presidente do México, que fugiu a casca de banana, montada por Washington, para dividir a América Latina, a fim de facilitar o domínio colonial imperialista.
Obrador foi claro: o que decidir o Tribunal Superior de Justiça, da Venezuela, depois de analisar os documentos da eleição que o Conselho Nacional Eleitoral(CNE) lhe transferiu para averiguações, o México acatará.
Portanto, não restaria mais justificativa para Lula e os diplomatas do Itamaraty do que se render à realpolitik geopolítica global.
Caso contrário, o Brasil estaria aprofundando a divisão latino-americana, o que Washington mais deseja, para concluir sua estratégia de tomar o petróleo venezuelano, em obediência ao princípio da Doutrina Monroe de que a América é dos americanos… do Norte.
Colômbia fará diferente do México, diante do veredicto favorável da justiça venezuelana em julgar correto o trabalho do CNE, de apoiar o voto popular majoritário?
Lula perdeu ou não a oportunidade de se adiantar a López Obrador e Gustavo Petros, da Venezuela, para se posicionar como ousado líder latino-americano diante do unilateralismo de Washington?
Brasília-Bogotá-México-Caracas desenha-se como novo eixo geopolítico latino-americano, se fizer valer a soberania do CNE venezuelano, para garantir novo mandato de Nicolás Maduro, de 2025-2031.