No documento ‘As custas de quem?’, de janeiro de 2025, a Oxfam trouxe elementos necessários para o debate contemporâneo.
Nove em cada dez países regrediram em termos de direitos trabalhistas e salários mínimos. Por outro lado, de acordo com a Oxfam, “a riqueza dos bilionários aumentou três vezes mais rápido em 2024 do que em 2023”.
Farei alguns breves comentários sobre o assunto.
Segundo a Oxfam, “as crises econômicas, climáticas e de conflito mostram que o número de pessoas que vivem na pobreza praticamente não mudou desde 1990”.
Em um mundo extremamente desigual, a Oxfam apontou que “a maior parte da riqueza dos bilionários é tomada, não conquistada – 60% vêm de herança, favoritismo e corrupção ou poder de monopólio”.
Alguma surpresa?
Recorrentes eleições nos Estados Unidos da América, por exemplo, já nos mostraram que o poder do dinheiro corrompe e tem muita força de influência em regimes democráticos oligarquizados.
De acordo com a Oxfam, “nosso mundo extremamente desigual tem uma longa história de dominação colonial que beneficiou amplamente as pessoas mais ricas”.
Essa dominação consolidou estruturas subdesenvolvidas nos países periféricos, como bem sabemos.
Conforme ponderou a Oxfam, “nosso sistema econômico colonial moderno deve se tornar radicalmente mais igualitário para acabar com a pobreza”.
As pessoas mais ricas precisam pagar a conta das reparações históricas a partir da tributação progressiva sobre as suas rendas e patrimônios.
Além disso, “em 2023, o 1% mais rico do Norte Global recebeu US$ 263 bilhões do Sul Global por meio do sistema financeiro – mais de US$ 30 milhões por hora”.
Meritocracia?
A extração de riquezas da periferia do sistema capitalista continua sob novas formas de colonialismo.
Segundo a Oxfam, “as pessoas que vivem na pobreza em todo o mundo continuam enfrentando várias crises”.
Em síntese, “dívidas impagáveis, salários mais baixos e preços de alimentos muito mais altos, tornando a vida cotidiana uma luta pela sobrevivência para bilhões de pessoas”.
Recentemente, tomamos conhecimento de que a temperatura média do planeta rompeu a marca de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
Como consequência, as mudanças climáticas aumentarão os preços dos alimentos no mundo.
O aquecimento global deverá fazer com que a inflação de alimentos aumente em até 3 pontos percentuais por ano até 2035, de acordo com as avaliações internacionais.
Uma matéria assinada por Rafael Oliveira, na Agência Pública, de 19 de dezembro de 2024, revelou o entrelaçamento entre preços de alimentos e crise climática no Brasil.
Segundo Oliveira, “comprar comida ficou muito mais caro neste ano, e os extremos climáticos que o país e o mundo viveram no último biênio ajudam a explicar o porquê dessa subida nos preços”.
Precisamos repensar urgentemente a qualidade do nosso crescimento econômico.
*Professor do Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia do Espírito Santo.